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Café com o Sensei

Pensamentos e comentários do Sensei Jorge Kishikawa




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    15-abr-2013

    Uma reflexão sobre tampas de panelas

    Recebi este email de um aluno, após um comentário que fiz sobre artistas marciais que "cospem fogo", pisam em lâminas de espada ou cortam projeteis (bala) com a katana. 
    Comentei porque em tempos de internet e Youtube, aparecem muitas imagens "interessantes", senão bizarras ligadas ao meio marcial e gerando dúvidas e interesses dos praticantes. 
    Abaixo segue as impressões do aluno, e que de certa forma, transcreve a mesma linha de meu pensamento:
     
     

     
     
    "Achei muito interessante as considerações sobre práticas que criam certo rebuliço, particularmente em tempos de internet e Youtube, mas que não são bem vistas pelos mestres. Isso parece gerar certa polêmica e não pude deixar de refletir, onegai shimassu (com licença).
     
    Como o Sensei falou sobre certo dilema sobre treinar ou não o Tameshi Giri (corte com espada) na opinião de  pelo menos um mestre, e a opção do Sensei de que devemos treinar sim o corte real, me lembrei da história do aluno que (segundo entendi do episódio, sobre o qual li há muito tempo não lembro aonde) de Musashi Sensei, o atacou de surpresa, atendendo a uma determinação do mestre para que treinasse estar sempre alerta. Naquele momento ele estaria, segundo esta versão, em uma cozinha e os objetos mais próximos eram tampas de panelas, as quais ele teria utilizado magistralmente repelindo o ataque do aluno. Este, surpreso e fascinado com a situação inusitada, teria procurado “desenvolver” a técnica de usar as tais tampas, convencido de que seria um “caminho superior”, já que a sua espada fora derrotada por elas. Lembro-me que isso foi interpretado como uma distorção que o aluno teria feito sobre a situação. Tampas de panelas não são superiores a uma espada; apenas eram o objeto disponível nas mãos de um mestre, especialista em captar o momento e usar o disponível, algo muito mais profundo do que o debate vazio sobre a eficácia destes objetos como instrumento de combate. Um exemplo extremo de captar a realidade do aqui e agora, e também um exemplo (ao inverso) de como alguém pode confundir o que é acessório com o principal (no caso do aluno).
     
    Pensei se não seria isso o que acontece com determinadas práticas. O treino do corte é uma parte do caminho mais amplo que é o bushido. Cortar um objeto em situações espetaculares, até uma bala de plástico como naquele caso citado, não seria um mal em si, se ficasse no terreno da mera curiosidade, talvez sem maiores divulgações, ou quem sabe um acessório inserido no contexto principal que é a prática do budo, sob o signo do bushido (embora talvez uma perda de tempo). Tornar isso um fim em si mesmo pode situar alguém com tal habilidade, ainda que impressionante como apresentação, no mesmo nível daquele que chamarei de “mestre das tampas de panela”.
    Arigato pela atenção"
    Cadu (Unidade Brasilia)




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