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A estratégia está mesmo no cotidiano

por Barreiros - RJ/Rio de Janeiro - 25-ago-2016


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... existem coisas que são maiores que nós, e que não podem ser feitas de outra maneira, senão de forma reta. Essa percepção me fez ingressar no Niten.

De algum modo, eu entendia ... o que significava o gaman. A resiliência diante da dificuldade, o estoicismo e a beleza da retidão, tudo que existe no Dojo, é um microcosmo do modo como devemos nos portar no mundo lá fora.  

O Dojo me fez aprender que estratégia não é prever todas as dificuldades e ter uma solução para cada uma delas, mas antecipar-se ao surgimento das próprias dificuldades. É não trocar um minuto verificando se a vela está apagada por um ano reconstruindo a casa incendiada.

E com o amor pela estratégia (ken no kokoro, o espírito da Espada, que não deve ser esquecido onde quer que se vá!), vem a placidez.

Isso me permitiu descansar enquanto eu corria, por mais contraditório que isso possa parecer.

 

Prezado Senpai Wenzel, Konnichiwa. 

Minha vivência acadêmica sempre se pautou, como é estritamente necessário, em uma rígida disciplina de estudo e pesquisa, sem a qual efetivamente não se chega ao corpo docente de uma universidade federal. Foi preciso desde cedo aprender a se desconectar, a não se deixar levar pela preguiça, pelas distrações e excessos do mundo moderno, pela tentação dos lazeres desmedidos. O Hatha Yôga me ajudou imensamente a expandir a capacidade de manter o foco nesses últimos anos. Em outubro comemoro dez anos de conclusão do doutorado, e antes desses dez, foram outros onze, começando pelo ingresso na graduação. São vinte e um anos de entrega, e isso acabou por sacrificar algumas amizades e uns poucos relacionamentos. Tive a sorte de me casar com alguém que também acredita nisso, e que passou pelas mesmas agruras; são poucos os que entendem (ou aceitam) que existem coisas que são maiores que nós, e que não podem ser feitas de outra maneira, senão de forma reta. Essa percepção me fez ingressar no Niten após oito meses de observação​ [do meu filho que iniciou os treinamentos antes de mim]​, sem aula experimental, e somente depois de tomar todos os cuidados (pessoais, financeiros) para que esse ingresso não viesse a ser interrompido por falta de planejamento. A vivência no Dojo me pareceu, desde o início, algo muito familiar. De algum modo, eu entendia, não pela experiência do treino (que ainda me falta, e muito), mas pela experiência da vida, o que significava o gaman. A resiliência diante da dificuldade, o estoicismo e a beleza da retidão, tudo que existe no Dojo, é um microcosmo do modo como devemos nos portar no mundo lá fora.   

Chegamos ao fim de mais um semestre na UFRJ, sendo a minha décima quinta temporada na instituição. Esse último, contudo, foi o primeiro que coincidiu integralmente com a minha presença no Niten (ingressei em novembro de 2015, com o semestre anterior já em encerramento). Foi também o primeiro semestre acadêmico projetado, planejado e pensado, tendo o Caminho como referência. O Dojo me fez aprender que estratégia não é prever todas as dificuldades e ter uma solução para cada uma delas, mas antecipar-se ao surgimento das próprias dificuldades. É não perder tempo andando para trás, é não trocar um minuto verificando se a vela está apagada por um ano reconstruindo a casa incendiada. É estar um passo à frente das coisas. E como diabo mora nos detalhes, é aprender a ser detalhista, antes que ele lhe pregue uma peça. E com o amor pela estratégia (ken no kokoro, o espírito da Espada, que não deve ser esquecido onde quer que se vá!), vem a placidez. Foi um semestre calmo, quase contemplativo. Percebi como eu gastava energia e perdia noites de sono apagando incêndios, dando solução para problemas que poderiam ter sido evitados. E normalmente eu terminava exausto as minhas jornadas, mas feliz, achando que estratégico era ter resposta para tudo. Não. Estratégia é fazer o certo, com um custo pequeno agora, para evitar um imenso mais adiante. Isso me permitiu descansar enquanto eu corria, por mais contraditório que isso possa parecer.
 
No passado, fui conhecido pelos meus alunos como um professor exigente em termos de desempenho e disciplina. Nesse semestre as exigências seguiram as mesmas, mas percebi que elas não teriam resultado sem que eu instigasse o kiai dos meus alunos. Sem despertar o espírito, a cobrança parecia desmedida, e a desesperança acabava afetando a muitos. Sem um planejamento minucioso, que antecipasse dificuldades, a capacidade dos próprios alunos de se organizarem ficava comprometida. Dessa vez o índice de aproveitamento foi espantoso, e o índice de reprovações foi mínimo, apesar de aqueles meninos e meninas (todos ingressantes, no primeiro período!) terem sido submetidos a tarefas intelectuais que muitos dos meus mestrandos não seriam capazes de cumprir sem ajuda. No último mês de aulas eles estavam completamente esgotados, mas, como no último kakari geiko de um treino, aprenderam que há sempre uma reserva de energia escondida. Eles entenderam a mensagem e, posso dizer, sem medo de errar, que foi algo bonito. A maioria dos alunos já se manifestou que se inscreverá na minha próxima disciplina, sabendo que a metodologia do curso permanecerá a mesma.
 
A estratégia está mesmo no cotidiano.

Domo arigatou gozamashita, Senpai, por me permitir renovar semanalmente o conhecimento dessa verdade.


Barreiros

comentários  

Antunes - Rio de JaneiroKonbanwa! Shitsurei shimassu,
Nobre companheiro nos dois caminhos! Arigato gozaimashita pelo inspirador relato!
Gambate!
Arigato gozaimashita, Sayonara.



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