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Café com o Sensei

Pensamentos e comentários do Sensei Jorge Kishikawa




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    31-mai-2007

    Despertei

    Muitos me perguntam por que "abandonei" o kendo* e comecei o kenjutsu*.
    Não "abandonei" o kendo. Bem como pratico e ensino também a todos os alunos do Niten. Todos passam pelo aprendizado de kendo e depois se aprofundam em técnicas de kenjutsu.
    É por isto que vou te contar um episódio interessante:
    Devia ter seus 60 anos, média estatura e de porte magro. Parecia um daqueles do filme Os 7 Samurais. O mais magrinho e que falava pouco no filme, não me lembro do nome...
    Bem, já fui disparando o meu golpe, indefensável naquela época, o men* veloz como um desses saques de tênis que o adversário não consegue rebater. Também os tsuki* como uma flecha. E nada. Não acertei. Tentei mais uma, duas, parti para outras técnicas e nada. E eu não conseguia "pegar" ele. De jeito nenhum .Nem com uma, nem com duas espadas. O estilo dele era bem diferente em comparação ao que eu já havia conhecido até então. Ele andava. Não ficava só com o pé direito a frente.
    A ponta de sua espada não estava voltada para o meu rosto. Estava desviada para o meu lado esquerdo, com a lâmina à vista.
    Não levantava os braços frontalmente para se golpear o men, diferente do que se prega no kendo.
    Sua atenção não estava focada na estética, na boa postura. Mas no combate.
    Enfim, em inúmeros aspectos, era diferente.
    Golpeava-me a toda hora em todos os pontos. Se defendia aqui, me acertava ali. Quando eu achava que iria acertar, me devolvia com um contragolpe que eu nunca tinha visto. Foi demais!
    Realmente, foi um dos dias que me dei por vencido.
    Fiquei sabendo mais tarde, que os jurados não favoreciam a sua aprovação no exame de graduação ao 8° dan de kendo, pela sua forma "diferente" de lutar.
    É, e refletindo bem, entendi que ele não treinava para ser aprovado em exames e nem colecionar títulos.
    Estou falando nada menos de um sokê* de Kobudô*.
    Ele treinava para vencer.
    Despertei.



    *kendo= esporte que derivou-se do kenjutsu no século passado

    *kenjutsu= arte samurai que tem suas origens desde a era Kamakura
    (aproximadamente nos anos 1280) até os dias de hoje e que originou o kendo.

    *men= crânio

    *tsuki= estocada sobre a garganta

    *soke= grão mestre e representante de um estilo, passado através das
    gerações

    *kobudo; ko=antigo; bu=samurai; do=caminho, arte

    30-mai-2007

    A Química do espírito

    É certo que todos os samurais modernos são pressionados a lutar no dia-a-dia.
    Também é certo que com o avanço tecnológico e da internet, precisam dar o dobro ou talvez o triplo de si para estarem atualizados com a sua técnica e serem recrutados pelo mercado de trabalho. Não estamos falando de Japão, não. Estamos falando de Brasil, São Paulo e qualquer cidade que tenha mais que seus 100.000 habitantes. Quem não for guerreiro, morre.
    Fiquei sabendo que um de meus alunos se encontra no término da faculdade, se não me engano engenharia ou algo assim, e procurando estágios precisaria dar um tempo e deixar o Niten e os "katas do bushido para depois" segundo suas palavras, apesar de saber que o Método KIR* era o grande alicerce nas suas conquistas até então e como samurai moderno. Que os Momentos de Ouro* é que faziam a diferença no seu modo de agir, pensar e tomar as decisões. Enfim, que estava muito satisfeito e esperava, enquanto ausente do Niten, suprir a energia da guerra com o que tinha aprendido até então aqui no Niten.
    Não adianta.
    O Método KIR é para o espírito assim como o exercício é para o corpo. Não é possivel emagrecer só lendo livros ou fazendo mentalização se não estiver queimando as calorias. Quero dizer, o samurai moderno existente em cada um de nós só se mantém vivo se estivermos no Niten, vivendo os katas do bushido. Enfim, respirando o Método KIR.
    Você não sente aquela letargia, preguiça e moleza quando para de fazer os exercícios? Então. É a mesma coisa. Só que aqui, no caso, ocorre por inteiro: no seu corpo, na sua mente e, obviamente, no seu espírito.
    E a falta do KIR começa pelo espírito: preguiça. Preguiça para levantar, desculpas para não fazer, mentiras começam a aparecer.
    Depois vêm as consequências a nível mental: dificuldade para se concentrar, tomar decisões importantes e por aí vai.
    E como que denunciando esta falta de vergonha deste seu lado perdedor, fica visível a lerdeza no seu andar, a dificuldade no levantar, no correr. É você virando um "porquinho", uma "vaquinha".
    Repito:
    -Não adianta. Não basta se sentir um samurai moderno.
    A "química" não acontece!

     
    será você?

    29-mai-2007

    Kill Bill

    Hoje eu coloco a foto que comentei na sexta-feira 
    É o Kenjutsu nos filmes de sucesso nas bilheterias.
    Uma Thurman no Shin no Kamae*.

     
    Shin no Kamae, uma das posturas do Kenjutsu

    28-mai-2007

    Uchigote 3 - Quebrar a respiração

    Você está diante do oponente com a ponta da espada voltada para o seu rosto e de repente algo lhe toca na parte do uchigote
    É a espada dele já no seu antebraço direito (ou esquerdo algumas vezes). 
    A situação á tão desconcertante a ponto de quebrar a sua respiração. A não ser que você já estivesse esperando. Mas se estivesse, teria bloqueado. 
    Levar um Uchigote é uma sensação que todos os estrategistas deveriam experimentar - o Hotto no Kokyu.
    Não há igual.
     
    ERRATA (29 de maio) : o Kanji mostrado ontem junto a esta matéria era na verdade o kanji de naka, outra escrita para a palavra "dentro".
     
     
    uchi = interno, dentro 

    25-mai-2007

    Play TV

    Play TV. Combo Fala + Joga. 
    Se você faz parte da galera dos jovens e da "rapaziada", são palavras conhecidas. Trata-se do programa de TV mais "badalado" da rapaziada que gosta de vídeo-game. 
    Pois é, estive ontem lá, com o meu saudoso amigo Luciano Amaral, fazendo a reportagem . 
    Digo saudoso e amigo, pois já fizemos algumas gravações há quase 20 anos. Quem não conhece aquele programa "No Mundo Da Lua" da TV Cultura? Na época, eu era um sensei1 de artes marciais que morava no Japão e o Luciano, o Lucas, tinha ido treinar lá. Vivem reprisando o progama. Acho que já fizeram umas 5 vezes. O diretor, o Ico, é uma das pessoas que eu considero muito "gente fina". Foi muito legal. 
    Bem, no Play TV, a reportagem "rolou" descontraída, mas de um jeito inédito que eu nunca tinha feito. Foram uma série de 3 blocos e que em cada bloco eu jogava um tipo de vídeo-game e ao mesmo tempo conversava. Digo "conversava", pois não dava tempo para ficar olhando o Luciano no meio do jogo. No primeiro bloco foi uma corrida de carros, na segunda  uma partida de tênis de mesa e na terceira um de baseball e o controle era um que se chamava Nintendo Wii!! Com este controle a gente faz o movimento de arremessar a bola e ele vai do jeito que você movimenta o braço. Você faz uma simulação de rebater e no jogo ele rebate a bola. 
    E em um dos blocos da conversa, o Luciano perguntou se algumas das passagens do filme Kill Bill tinham a ver com o kenjutsu ou o kobudô. 
    - É claro que sim! 
    Só de ver a foto do cartaz Kill Bill com a Uma Thurman segurando a espada em frente ao rosto dá para ver que faz parte de um dos katas de kenjutsu que eu e Wenzel fizemos no Dia do Samurai e lá no Torneio em Brasília. 
    Mas o que me deixou muito contente foi ver o "Luquinha" já crescido e ter ficado um rapaz dinâmico, educado e esforçado. "Luquinha" virou repórter e estava recebendo o sensei para uma reportagem. 
    Agora, não no Mundo da Lua, mas no mundo real.



     


    1sensei = mestre 
    2nos prtóximos cafés, a relação dos jogos que o sensei "experimentou" no programa

    24-mai-2007

    Uchigote 2 - "POFF NÃO!!!"

    Trouxe hoje para você ver de perto, uma parte do yoroi1 dos samurais: o kote

    Ele protege o antebraço dos golpes com a soto3.
    No entanto, na parte interna do kote, o uchigote (terça, 23 de maio), vemos que ela não tem proteção de metal para aparar os golpes, sendo esta uma das razoes de treinarmos o uchigote em kenjutsu. Nos tempos chamados de Kamakura e Muromachi Jidai (1192 -1573), em que o uso de armaduras no Japão era imprescindível, o uchigote fazia parte das técnicas do kenjutsu.
    Ai você me pergunta:
    -Mas se não tem a proteção, na hora que eu bato sobre o antebraço, mesmo sendo com a espada de bambu, não dói? Não vai machucar?
    Para começo de conversa, você esta equivocado. O golpe com a espada não é para se "bater". É um corte. Um corte não é uma pancada. A kamae5, pois a espada quando vem de baixo, vem invisível! E quando tocar o seu uchigote, já era.

    yoroi = armadura
    2katana = espada de metal dos samurais
    3soto, gai = fora, externo; 
    4shinai = espada de bambu
    5kamae = posição de combate
    * uchi, naka= interno, dentro

    23-mai-2007

    Uchigote 1

    Vários golpes no kenjutsu visam acertar o uchigote, ou seja a parte interna do antebraço. Em linguagem anatômica, seria a parte anterior dos antebraços. 
    Apesar de não estarem plenamente protegidos pelo kote1, no sentido de assimilar os impactos da shinai2, fazem parte das técnicas a serem aprendidas por todos os alunos, segundo regulamento da CBKO - Confederação Brasileira de Kobudô. 
    Na realidade, a técnica verdadeira com a espada não é a de bater, mas sim a de cortar. Portanto, basta apenas encostar no uchigote e definir o corte. Aqueles que dizem que é preciso ter impacto ou o som do impacto da shinai com o kote são praticantes com a visão restrita e nunca imaginarão o quão grande é o universo dos golpes com a espada japonesa.

    Não é necessário fazer movimentos amplos com os braços para golpear com a espada japonesa.
    O movimento tem que ser curtíssimo.


    Golpe no uchigote em técnica do estilo Niten Ichi Ryu aplicado na luta com bogu. 
    O Niten Ichi Ryu é um dos muitos estilos nos quais há este tipo de corte.




    Uchi= dentro
    kote (gote)= antebraço
    1kote =aqui designado como o protetor do antebraço
    2shinai=espada de bambu

    22-mai-2007

    Alguns Benefícios de Usar Nito

    "Deve-se treinar desde o início o uso simultâneo das duas espadas, a longa e a curta, empunhadas uma em cada mão." - pag 38 do pergaminho da Terra,  O Livro dos Cinco Anéis - Miyamoto Musashi 

    No kenjutsu da CBKO (Confederacao Brasileira de Kobudô), da qual o Instituto Niten faz parte, o uso das 02 espadas simultaneamente faz parte do aprendizado de todo aluno. 
    Sendo assim, depois de ter o contato básico com o manejo de 01 espada (no caso, a espada maior denominada tachi), a utilização das 02 espadas é permitida. 
    O fato de estar com 01 espada em cada mão proporciona que o praticante, entre outros beneficios: 

    a) melhore ainda mais a coordenação motora, (sayuu dosa) 
    b) tenha maior consciência dos seus braços em separado, direito e esquerdo (sayuu ishiki) 
    c) aguce o olhar de uma forma global, pois são 02 "armas" na mão do oponente que não se sabe de onde virão (toyama no metuke) 
    d) melhora e aprimora as técnicas de pequena amplitude (kowaza no heiho) 
    e) melhora e aprimora as técnicas de grande amplitude (owaza no heiho) 
    f) curta distância (tanma no heiho) 
    g) utilização de vários grupos musculares bilaterais que não são possíveis com a prática de 01 espada, principalmente os músculos peitorais e os bicipitais (ude no kitae)
    h) fortalecimento dos "pulsos" das duas mãos (tekubi no kitae) 

    Por hoje chega.

    21-mai-2007

    Fato x Opinião da Maioria

    Hoje falo de um inglês que vive no Japão e mantém um blog sobre Niten Ichi ryu para estrangeiros, principalmente.
    Pelo fato de estar lá, se aproveita de histórias e situações e coloca-as no fórum de maneira absurda e falsa, iludindo os internautas.
    A razão é simples: tomou gato por lebre e acabou por aprender com um falso professor. Um "professor" que recebeu, digamos, uma "faixa preta" do seu "mestre" que por sua vez não recebeu de ninguém uma faixa preta. O único que poderia ter dado era o shihan1 Gosho Motoharu ( 18 abril - 88 anos ), nosso shihan. E dele, sabemos que não foi conferido ao tal "mestre". 
    Não resta ao inglês, que escolheu o caminho errado, defender por todos os meios a sua decisão, como que tentando convencer os leigos a acreditarem na sua estória e assim, com a maioria, mudar o curso da história. 
    Seu texto é em inglês e ele se aproveita da distância do japonês para o inglês. No Japão, não tem credibilidade e é visto como mais uma das formas "não limpas" dos "estrangeiros" de resolver as coisas, envergonhando os ocidentais.
    Fato é fato e não se muda com opinião da maioria. Ou muda?

    18-mai-2007

    10 anos atrás

    Estava arrumando a papelada e me deparei com um rascunho de um dos artigos da coluna que eu mantinha num jornal.
    Na época, vivia todo de branco, com mais de 5 empregos. Pronto socorros, ambulatórios, cirurgias, enfim, o tempo todo tomado pela medicina.
    Carregava 2 bips e 2 celulares que não paravam de tocar. E eu gostava. Gostava de agitar. Desde as 6 da manhã salvando pacientes, dando a espada que dá vida, escrevendo... lutando.
    Era o único entre os médicos que andava com um notebook. Não por vaidade, mas por necessidade. Afinal de contas, a minha vida não se restringia a medicina. Administrava o Niten do consultório. Escrevia os artigos com o notebook.
    Passados 10 anos, acho que não mudei muito. 
    E por pelo menos 50 não vai ser diferente, espero eu!




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