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Um aluno me enviou este email que também me fez lembrar a época em que fiz o alistamento militar.
"Shitsurei Shimasu*, Sensei!
Como sempre faço, li hoje o Café com o Sensei de ontem, sobre o livro de alterações e foi uma grande coincidência que hoje mesmo participei da Cerimônia de Juramento à Bandeira, para entrega do certificado de dispensa do serviço militar.
Foi com uma certa tristeza que reparei que a maioria, a grande maioria, dos jovens não sabe fazer uma formação alinhada, não consegue ficar em posição de sentido, nem ficar com o braço estendido para fazer o juramento, não sabem cantar o Hino Nacional, não respeitam nem a solenidade em que estão, nem as pessoas que passavam por perto, ficavam mexendo com as mulheres que passavam, sem nenhum patriotismo.
E ao mesmo tempo fiquei feliz de ser do Niten, onde aprendemos a ter respeito e a honrar nossa Pátria, onde o próprio Sensei percorre as fileiras da Formatura verificando se os alunos estão cantando o Hino em voz clara e forte.
Arigato Gozaimashita Sensei, por nos ensinar valores que foram deixados de lado pelo povo brasileiro, e dar uma esperança aos jovens que ainda buscam estes valores."
Na época, também fui dispensado por excesso de contingente.
Não imaginava, naquela época, que um dia viria a comandar uma tropa e fazer brasileiros, como eu, cantarem o Hino Nacional.
Comigo, quem não conseguia cantar ficava detido. Detido, em linguagem EB*, quer dizer, impedido de voltar para casa neste dia, ou caso merecesse, ficava o final de semana no batalhão, sem poder sair até segunda-feira.
Vamos lá:
"Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!"
Depois dessa você não vai ficar detido.
Você verá a foto e irá me perguntar:
É o Japão? Vou te responder:
- Não é, por se tratar do nosso jardim, aqui mesmo no coração desta selva de pedra chamada São Paulo.
- É sim o Japão, pois passam aqui durante o ano todo, samurais que vêm de toda a América do Sul em busca da arte, da cultura, da filosofia samurai. Este jardim é o repouso, o local de inspiração e força para todos que vem a shugyo*. Homens. Em busca de mudanças...
De frouxo para o determinado, de indisciplinado para disciplinado, de desregrado para o regrado. De covarde para o valente.
Precisamos mudar! Do verde para o vermelho.
Pegando fogo!
Existia no período Edo bem como existe no meio militar, um livro em que era anotado todo o histórico do guerreiro.
Chama-se Livro de Alterações.
Condecorações, promoções, punições, Hikyo na Furumai ( 9 de março - Hikyo na Furumai ). Em suma, alterações...
Era possível, assim, a um samurai saber se o enviado para desempenhar uma missão em seu feudo tinha bons antecedentes ou não, pois naquela época, todo cuidado era pouco.
Lembro-me de que na época em que atuava como médico militar, recebi uma Homenagem por ter representado o Brasil em torneio mundial de kendo. Tive o apoio dos comandantes (aos quais sou grato até hoje), no retorno fui citado em boletins, elogiado perante o CMSE (Comando Militar do Sudeste) e, para minha surpresa, anotaram ate no Livro de Alterações!
Não posso dizer que fui exemplar: uma punição por ter esquecido de fazer a barba. Outra por ter atrasado à formatura* ou o cabelo um pouco comprido e nada demais.
Assim foi com os samurais, é com os militares e continua sendo no Niten. É um livro preto. O Livro...
Por ser um livro acessível a todos, aconselho-o a colecionar mais Homenagens que punições durante a sua vida.
Sorte minha que tenho pelo menos uma Homenagem!
Ainda no olho da matéria de ontem ( 25 de outubro - Incessantemente )
"Artes do samurai que foram transmitidas junto ao Kendo na infância.
O Hyoho Niten Ichi Ryu e o Sekiguchi Ryu Iai.
Ao retornar a terra natal Usa, os dois novamente seguem os passos de seu mestre, treinando fervorosamente e retransmitindo as técnicas antigas da arte samurai"
Só para te dizer que dentro do Niten Ichi Ryu, temos uma diferenciação entre aqueles que já treinaram com o bogu* e shinai* daqueles que não.
Aqueles que já treinaram, seja Kendo ou Kenjutsu, por algum tempo, assimilam um algo a mais. # ( 13 de junho - ### Kuden )
No caso de nosso fundador, Musashi sensei ( Miyamoto Musashi sensei ), os "treinos" eram duelos de verdade!
A matéria da revista Kendo Nippon de setembro de 2007, a qual tenho me referido estes dias encontra-se na seção "Caminho do Bushi* - O prazer de percorrê-lo", nas quais são entrevistados mestres renomados nas artes samurais.
Neste, em que se encontram os meus professores do Niten Ichi Ryu Kenjutsu e Sekiguchi Ryu Iaijutsu como entrevistados principais, o subtitulo é reflexivo: "Incessantemente".
No olho:
"Artes do samurai que foram transmitidas junto ao Kendo na infância.
O Hyoho Niten Ichi Ryu e o Sekiguchi Ryu Iai.
Ao retornar a terra natal Usa, os dois novamente seguem os passos de seu mestre, treinando fervorosamente e retransmitindo as técnicas antigas da arte samurai"
Ao final do 6o Torneio Brasileiro de Kobudo, foram conferidos 4 shoden makimono*, totalizando agora na América do Sul. São 7 samurais a possuírem o makimono no estilo Niten Ichi Ryu, de nosso fundador Miyamoto Musashi ( Miyamoto Musashi sensei, criador do Niten Ichi Ryu ).
Um estilo, um Caminho, que temos prazer em percorrê-lo.
Incessantemente...
Falei ontem de sorrir e possuir uma boa técnica. Ao contrário de se mostrar carrancudo e nem possuir uma boa técnica. Só porque tem feições de japonês, se aproveitar disto para ludibriar ocidentais. Só por ter cabelos brancos e não falar bem o português, se aproveitar para se dizer mestre. Em qualquer arte.
Por outro lado, não sorria quando não há necessidade, pois você se passará por ser incoveniente ou palhaço.
É verdade que o sorriso prolonga as nossas vidas em 5 a 6 anos, mas isto não é motivo para ser nojento.
É verdade que quem não sorri gasta menos ATP e energia, mas isto não é motivo para ser chato.
No final das contas, o importante, se você é um guerreiro, é ter uma boa técnica.
E se puder sorrir, melhor.
Esta foto, publicada na Kendo Nippon, também no mês passado, nos mostra o Ishi sensei ensinando iai do Sekiguchi Ryu.
Desde a tenra infância, tem treinado ao lado de Yoshimoti sensei ( 12o dai* do Niten Ichi Ryu e Menkyo Kaiden* no Sekiguchi Ryu Iaijutsu) , tanto o Niten Ichi Ryu e o Sekiguchi Ryu.
Sempre sorrindo, está longe de ser o tipo desses pseudo mestres que só fazem cara feia e ostentam cabelos brancos e bigode.
Sorrindo, não perde a pose, e sempre com uma apresentação impecável dentro e fora do dojo, é dono da melhore técnica de iai na província e umas das melhores no Japão.
Quando nos encontramos, o sake é indispensável. Tiramos a máscara juntos, literalmente.
Bom e sincero - este é o Ishi sensei.
Num dos treinos de Sekiguchi Ryu Iaijutsu, lembro-me de Gosho Sensei orientando este menino.
Gosho sensei, apesar de tranquilo, não media esforços em repreendê-lo quando este se distraia ou amolecia no treino. De vez em quando me dava até dó... Um simples passo, mandava repeti-lo várias e inúmeras vezes. Não só isso, mas repreendia-o verbalmente. E o mais incrível: nenhum elogio, nenhum sorriso, por parte do mestre. Apesar disso, o menino continua firme. Deve ter nascido forte...
Esta foto, tirada pela revista Kendo Nippon, do mês passado, mostra o Yoshimoti Sensei, 12o dai* do Niten Ichi Ryu ( 09 de outubro - Kendo Nippon, Kyoto Taikai ) passando o tobitigai* ao garoto.
Daqui a alguns anos, este garoto surpreenderá todos, e provavelmente, a exemplo de Gosho sensei e Yoshimoti sensei, terá o seu nome reconhecido em todo o Japão.
Adultos que treinam semanas com bokuto* e saya de plástico* são crianças, se comparados ao nosso samuraizinho de 8 anos, que ao lado de outros da mesma idade, treinam com a katana de aço.
Adultos que necessitam de atenção e treinam com saya de plástico devem deixar de ser crianças.
"Com todo o esforço físico e com uma natureza privilegiada (grama, lagos, cerejeiras, bambuzais) tivemos a nossa técnica apurada, nossa moral elevada e nosso espírito iluminado. E tudo isto, quem sabe, se tornou início para várias estórias e lendas a partir daí. Como a que conto a seguir:
Era uma manhã cedo antes do café. Todos corriam e pararam em um gramado para teinar Katas de espada. Havia um ninho de quero-quero (passarinho) com quatro ovos em meio ao gramado. Todos se esmeraram (a exemplo dos monges buditas) a não prejudicar o ninho. Continuidade de gerações, do conhecimento à sabedoria ou simples preservação da natureza??? O diferencial era que se tratavam de praticantes do Niten!!!"