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Me informaram que encontraram um vídeo meu na internet de quase 20 anos atrás.
Palco: Torneio Mundial em Seul, 1988
A TV coreana cobriu este combate , por ser o mais longo e acirrado feito nas disputas por equipes.
Este adversário já tinha vencido o vice-campeão Kamei em um combate meio que polêmico, pois os seus golpes não se ajustavam às regras de kendo, como não levantar os braços para golpear a cabeça ou golpear com as laterais da espada, e ainda levou o japonês à derrota.
Os professores diziam que aquilo não era kendo. E que os juízes não souberam avaliar a luta. Em torneios mundiais, quando um japonês luta com um coreano, não pode ter nenhum juiz que seja do Japão ou Coréia, o que, inevitavelmente dá lugar a juízes menos experientes (ou com outra visão???).
Polêmico ou não, Kamei, a quem tenho muita admiração e respeito, perdeu.
Mas uma vez que entrou para o torneio não se deve contestar as regras. E uma vez que entrou para o kendo, e o kendo é feito por todos ( ou ninguém?), todo men* pode virar um men.
Bem, acho que você vai entender melhor o que eu estou dizendo vendo o vídeo.
E como nesta longa estrada, algumas vezes a gente vence e outras a gente perde, esta eu perdi.
Mas foi sem medo. Com coragem. Com honra, e me rendeu o prêmio Fighting Spirit.
O Honra ao Mérito.
Enquanto ainda damos uma olhada no vídeo,
está confirmado:
dias 11 e 12 de outubro
o Torneio por Equipes de Kobudô
será no Rio de Janeiro!
E, para fechar o evento "Lapidar a espada com o zen", deixo aqui um reprise do dia .
Bom para refletir neste final de semana.
Gasho*...
*gasho=cumprimento budista
Hoje trago a vocês alguns trechos da palestra com nossa amiga, a Monja Coen e algumas palavras que tenho dito aqui no café:
"Cortar a delusão e trazer a verdade. Este é o espírito do Zazen.
Quando nós nos entregamos é que a prática começa a se manifestar.
No treinamento buscamos a exaustão"
O brilho do suor nas lâminas é o que faz a espada ser lapidada.
Monja Coen e Niten.
Falamos a mesma língua
Já considerado parte do treinamento no Niten, a palestra de monja Coen , nossa amiga e apoiadora, como sempre, trouxe maior luz e sabedoria a todos os nossos alunos.
Precedida por um treinamento exaustivo de kenjutsu, disse em sua palestra, que ficou surpresa ao ver tanta adrenalina e garra dos alunos, equiparando-os a guerreiros num campo de batalha.
Conceitos importantes como a aniquilação do ego com a prática da espada, o não apego a questões de ordem material ou intelectual, reforçaram os princípios que tenho insistido a todos: a nossa prática deve ser, na sua essência, a busca da Verdade.
Desta vez, com o tema "Lapidar a Espada com o Zen", monja Coen não só respondeu a muitas dúvidas que rodeiam o consciente de muitos, mas me reforçou o que eu já imaginava:
Que as dúvidas não se respondem com o intelecto.
"A ACADEMIA BRASILEIRA DE ARTE, CULTURA E HISTÓRIA – é uma entidade cultural sem fins lucrativos conforme Decreto Federal número 4.858, em desenvolvimento desde 1910, de quando datam seus primeiros registros. Seus principais objetivos estão relacionados à promoção da Cultura da História Pátria e dos valores fundamentais da nossa sociedade.
Nos anos 50 e 60, homens como Afrânio de Mello Franco, José Honórario Rodrigues, Luiz Câmara Cascudo e Dante de Layatano desenvolveram significativa programação promovendo a História do Brasil. A partir de 1987, quando da comemoração de seus 30 anos de exercício efetivo, reorganizou suas atividades e passou a promover eventos, com o objetivo de estreitar a convivência de historiadores, artista, profissionais liberais e empresários, fazendo desta uma contribuição direta ao desenvolvimento da realidade cultural do país." - diz o texto explicativo da entidade .
O Instituto Cultural Niten recebeu a homenagem "Votos de Louvor", desta renomada entidade e que exponho a você:
Gokurosama a todos que estiveram direta ou indiretamente no Niten.
Agora, fazemos parte da história deste país.
"No trabalho e na virtude a cidade floresce" - lema de Campinas
O estilo Ishin Ryu Kusarigama Jutsu foi fundado há quase 600 anos e é considerado uma das manisfestações do kobudo* mais antigas.
Seu fundador, Nen Ami Jion, era um monge que ermitou nas montanhas inóspitas a noroeste do Japão onde os ventos fortes chegam a derrubar pinheiros e destruir casas.
Consta nos escritos que , ao fazer meditação (zazen) em cima de uma pedra, teve um lampejo de iluminação, momento que idealizou a arma kusarigama*.
Tive a oportunidade de conhecer estas montanhas ao lado do mestre Tsunemori Kaminoda, atual soke* deste estilo.
Foi uma caminhada ìngreme de quase duas horas, e que no final, no cume, se encontra um pequeno butsudan* em sua memória.
Disse mestre Kaminoda que foi lá que ele ermitava.
Simplesmente fantástico!
Veja:
*kobudo = ko(antigo)+bu(samurai)+do(caminho) = tradições guerreiras dos samurais
*kusarigama = kusari(corrente)+kama(foice)
*soke = grão-mestre, representante
*butsudan = altar
A foto de ontem veio do Rio de Janeiro. Trata-se de um kata de kusarigama*, do estilo Ishin Ryu, cujo fundador foi Nen Ami Jion há quase 600 anos.
Junto à foto, consta um relato interessante que me fez lembrar da época em que a minha esposa Mika também praticava o jo*, para fazer dupla comigo.
Veja:
Percorrendo "o caminho" de mãos dadas.
A primeira coisa que vem a mente quando se vê um casal lutando ou medindo forças em um treino, seria: Será que resolvem suas pendências em um duelo? Não, na realidade nossa vivência no Niten, nos proporciona um mesmo código de conduta, que nos une e fortalece.
As vantagens de se percorrer "o caminho" como um casal é enorme, pois a capacidade de aprendizado aumenta quando trocamos percepções sobre estratégias, intuições sobre combates, as dicas dos Sempais, além de podermos ficar despreocupados com relação às viagens de treino, como gashukus e torneios.
Assim como obter um conhecimento e não aplicá-lo não é sábio, tentamos trazer para a nossa vida em comum as pérolas aprendidas nos treinos e encontros como: a cordialidade com o outro, o incentivo em encarar de frente os problemas do dia-a-dia, assumir os atos com determinação, relembrar aquilo que foi corrigido, abrir-se ao novo, entre outras coisas. Quando um está desanimado, ou perante a um desafio profissional, muitas vezes dizemos ao outro: Kamae! Imediatamente, vem o sorriso, pois relembramos que somos guerreiros, e que é preciso enfrentar com coragem as adversidades da vida.
Temos tido sorte de muitas vezes, sincronizar nossos interesses. Além do kenjutsu, nosso atual desafio é a kusarigama. Estamos treinando juntos com o objetivo de encontrarmos a harmonia dos movimentos de tão bela e misteriosa arma, onde esperamos "amarrar" ainda mais nossa união.
A cada dia que passa torna-se mais notável, o quanto o caminho da espada trilhado em conjunto pode trazer muitos benefícios para uma vida a dois, pois treinamos não somente a arte da guerra, mas também a arte de viver e podemos afirmar por experiência própria que o casal que treina junto estabelece um laço muito mais forte.
Domo Arigato Gosaimashita Sensei pela oportunidade.
Com a corrente do kusarigama, o casal vai estar mais unido e juntinho para percorrer o mar da vida.
Não vale ficar de "olho gordo", hein?!
Que todos tenham esta sorte.
* kusarigama= kusari(corrente) + kama(foice); uma das armas utilizadas pelos samurais, conhecida como foice e corrente
* jo= bastão, cajado