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-Terra à vista!
Dizemos quando navegamos por meses e no momento em que avistamos aquele pontinho de terra e esperança para poder arpar soltamos para fora a nossa satisfação. A nossa alegria.
Assim também é no nosso treinamento. Por dias e meses, "navegamos" em busca da técnica correta. Enfrentamos vários empecilhos: as ondas altas, as tempestades, o tédio, a náusea e até o Sol pode estar contra. Sem falarmos dos colegas indesejáveis e incovenientes. Enfim, temos que superar, uma vez que entramos.
Mas, quando superamos todas as adversidades da viagem e vislumbramos um pouco da técnica correta, podemos dizer:
-Técnica à vista!
Em japonês, dizemos:
-Mituketa!*
Quantas terras você já descobriu?...
*mituketa= descobri!
Musashi sensei (25set - Cortadas) não foi o único a preconizar o treinamento com duas espadas e espada menor.
Já bem antes, há mais de 6 séculos, o uso da espada curta, bem como as duas espadas já fazia parte do treinamento do estilo Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu, considerado o estilo mais antigo do Japão.
Sem dúvida o combate com a espada menor, bem como com duas espadas, tende a ser mais dinâmico e até cansativo (se você não pegar o jeito), pois ficar parado para ver o que vai fazer seria o maior erro estratégico ao se lutar contra uma arma mais longa.
Quer dizer que não dá para ficar descansando e tem que pensar rápido. Rápido e curto.
Vá lá no vídeo "kenjutsu" da home do Niten e veja como o Fabrício "manda bala".
Espada curta e duas espadas... Olha que você vai perder muita, e muita caloria!
Então, descobriu? (24set - Inovador)
Pois bem, o samurai que nunca ninguém ousou duvidar de sua capacidade técnica após os 29, imbatível em mais de 60 duelos, o célebre Miyamoto Musashi, que para nós alunos diretos de sua linhagem é chamado de Musashi sensei, escreveu em seu livro Go Rin no Sho, o Livro dos Cinco Anéis:
"Todo aquele que se diz samurai, tem a obrigação de saber manejar tanto a espada curta como a longa. É inadmissível a um samurai ser derrotado com a sua espada menor a sua cintura."
Musashi sensei dizia isso porque todos os outros estilos enfatizavam o uso da espada longa empunhando-a com as duas mãos, o que era desvantajoso em muitas situações, como por exemplo ser assaltado por mais de um adversário.
Outro fator era de que muitos estilos não faziam o uso da espada curta, ou wakizashi, como é denominada nos seus escritos.
No Instituto Niten, todos os alunos, a partir de um certo tempo, seguem o escrito. Entendo que o aprendizado deve ser abrangente em todas as situações de combate. Longe, perto e média distância.
Bem, até aí nada de inovador para quem já conhece o Niten.
Acontece que nesta foto, o inovador é que os alunos já começavam a aula com uma espada diferente. Elas simplesmente eram cortadas.
Observe (19set - Entre Mestres).
Continue olhando a foto do dia 19 (19 set - Entre Mestres) e procure o que há de inovador nesta foto.
Dica. Leia o Livro dos Cinco Anéis de Musashi sensei.
Hoje, peço a sua atenção para a foto da Café do dia 19 (19 set - Entre Mestres).
Vai observar que os equipamentos de proteção são diferentes. Pois é, são antigos e hoje em dia não existem mais. É possível que tenham chegado logo nas primeiras décadas da imigração japonesa.
Quando era criança, também cheguei a lutar com um desses. Mesmo para os adultos, eram pesados a beça. Saía até com dor de pescoço, porque as grades eram de ferro e dos grossos que pareciam pedra.
Hoje em dia, temos materiais resistentes, leves e com design de vários tipos.
É bom você saber que os antigos penaram bastante.
No ano que vem, mestre Baba virá com sua comitiva de 15 universitários. Lembro que mestre Baba, apesar de lecionar o kendo, nutre inclinações em estudar estilos de kenjutsu. E, uma delas é a de treinar com duas espadas (Nito).
Há quase 10 anos, se não me falha a memória, a revista Kendo Nippon publicou uma matéria sobre duas espadas, sendo que mestre Baba foi o orientador das técnicas expostas. Suas técnicas, tal como a nossa, não se enquadram aos regulamentos de kendo, como por exemplo, o uso da espada menor (shoto).
Sendo assim, vejo necessidade em treinar bem a nossa tropa de elite, pois o pessoal de lá vai vir com tudo.
Não vai ser fácil.
Quem sabe se, já nesse torneio, não vão aparecer alguns homens que representarão a nossa tropa...
O Niten Rio, com a coordenação de Wenzel, crescia. E em ritmo acelerado. Estava impossível de se praticar em uma casa (18set - Ken Zen Iti Nyo) com mais de uma dúzia de alunos.
Num dos finais de semana que fui ao Rio, orei.
Fui atendido. A energia do budo* foi emanada e me levou, ao acaso, a academia Shotokan de karatê, também em Ipanema.
Era numa segunda de manhã e o professor, um japonês, estava lá. Tinha acabado de dar aula.
Me apresentei e, enquanto conversávamos, ficamos sabendo que tínhamos algo em comum, além do que é inerente aos mestres em artes marciais.
-Kishikawa!- ficou surpreso.
-Inoki!- caiu a minha ficha
Seu querido sobrinho tinha sido meu aluno há 20 anos.
Não disse mais nada e me deu a chave.
Entre mestres, palavras são inúteis.
Havia meia dúzia de alunos treinando regularmente em Ipanema e isto justificava, por si só que as aulas fossem remanejadas para
um outro lugar, pois nem sempre (ou quase sempre) treinar na praia é tão agradável assim. Dias de sol escaldante, dias de chuva, ventania, frio e por aí vai.
A energia universal foi emanada e os monges vieram a nós.
Célio, um dos alunos, coordenava o grupo zen do Rio de Janeiro.
Imediatamente se prontificou a ceder o Centro Zen, lá em Copacabana.
Um casarão antigo, em meio à subida da favela do Pavão-Pavãozinho.
Quartos espaçosos, sendo que um deles viria a ser o nosso "dojo".
Quando você imaginar que as aulas ocorriam no seu quarto, ou na sua sala você vai entender o que eu quero lhe transmitir.
Mas enquanto isto não vem à sua imaginação, ficamos por aqui.
Ken zen iti nyo*
Célio fazendo zazen no centro zen, na sala em que fazíamos os treinos na época
A primeira aula no Rio, por assim dizer, foi na praia.
Ipanema. Em frente ao bar do Caneco 70.
Chovia. Mas não tinha volta. Já havíamos divulgado que a nossa primeira aula seria lá.
Estávamos de kimono, hakama, do e tarê. Men e shinai na mão.
Só esperando a chuva passar, espiávamos de dentro do Caneco 70.
Cada vez mais forte e ninguém na praia.
Não tínhamos alternativa.
Com equipamento completo, mergulhamos na chuva e em cima da areia fizemos treino de 1 hora.
No final, todo o equipamento ensopado.
É verdade que quem sai na chuva é para se molhar.
Falando no Torneio do Rio (15set - Torneio no Rio), me veio a lembrança dos primeiros dias do Niten no Rio.
Já faz quase 10 anos, se não me falha a memória. Os interessados enviavam cartas ou telefonavam, pois na época não tinha e-mails.
Solicitavam uma unidade no Rio.
O primeiro passo foi dado.
Fui ao Rio.
Tempo nublado e o Wenzel no aeroporto, que ainda não era coordenador, pois nem havíamos começado. Não, pensando bem, já era coordenador, pois foi quem coordenou todo o primeiro dia de minha visita.
Uma das imagens mais belas de que me lembro é a do Cristo Redentor.
Não, não é aquela que você já conhece. Com toda a vista para o mar e a baía da Guanabara.
Não. Era como se estivéssemos (mas estávamos!) em cima das nuvens. Não se via nada lá em baixo. Só nuvens.
Nuvens que se moviam. Vinham e subiam para o alto.
Não vi a baía neste dia, nem o mar.
Decidi, então, voltar...
E ficar.