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Café com o Sensei

Pensamentos e comentários do Sensei Jorge Kishikawa




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    22-ago-2011

    Momentos de satisfaçao

    "No Momentos de Ouro desta semana o Sensei nos falou sobre sermos okoko* e retribuirmos o que nossos pais nos fizeram, segundo o Hagakure esta seria uma das virtudes do samurai contidas no bushido. Estas palavras me fizeram pensar se eu estava sendo okoko ou ofuko em minha vida.

    Estou casado há quase três anos e desde que saí da casa de meus pais a freqüência com que eu os visitava era cada vez menor, não que houvesse algum problema entre nós, eu os amo e devo tudo a eles, nem mesmo a distancia, pois nossas casas são próximas, o problema sempre foi o tempo, ou melhor, a ausência dele.

    Eu trabalho bastante, estudo, participo da associação Nipo-Brasileira da minha cidade, organizo eventos, e no meio deste turbilhão de tarefas meus pais sempre acabavam ficando em segundo plano, eu sempre pensava: “Depois eu vou visitá-los”, “Depois eu vou lá”... Mas o depois quase me foi tirado...

    No final do ano passado meu pai sofreu um derrame que pegou todos os familiares de surpresa, fiquei assustado, pois ele sempre foi uma das pessoas mais fortes que eu já conheci e por pouco não faleceu.

    Prometi a mim mesmo que dedicaria mais tempo de minha vida a ele e minha mãe, mas novamente acabei assumindo novas responsabilidades e colocando-os em segundo plano.

    Em março deste ano, meu pai sofreu um infarto nas vésperas do meu aniversário, na época eu passava por problemas no trabalho, tive que trancar minha faculdade, a avó da minha esposa faleceu, e, por mais que eu quisesse, não consegui ser okoko como deveria.

    Em abril comecei a treinar no Niten, fiquei imensamente feliz, pois aqui eu encontrei algo que há tempos procurava, a auto-satisfação. Porém ainda faltava algo, eu ainda estava sendo relapso com meus pais, ainda estava sendo ofuko com eles, mas não percebia.

    Na quinta feira 21/07 minha mãe me ligou às 07h30min da manhã dizendo que meu pai não estava se sentindo bem, e me pedindo para levá-lo ao hospital, rapidamente fui a casa deles e encontrei meu pai visivelmente abatido, ele reclamava de tonturas, náuseas e visão turva. De imediato disse para ele entrar no carro, porém meu pai quis ir ao banheiro antes, enquanto isso eu liguei para o meu trabalho para avisar que eu iria me atrasar, foi quando minha mãe me chamou aos prantos dizendo que meu pai havia caído no quintal. Chegando lá o encontrei no chão inconsciente, convulsionando, ele respirava com dificuldade, sangrava e espumava pela boca. Fiquei apavorado, achei que estava enfartando novamente.

    Meu irmão e eu tentamos reanimá-lo, fizemos massagem cardíaca, respiração boca a boca, mas ele não respondia, achei que iria perdê-lo, achei que estava morrendo em meus braços, chamamos o resgate e com a ajuda de vizinhos e familiares conseguimos socorrê-lo.

    Já recuperado, no hospital, perguntei ao meu pai por que ele não tinha me ligado antes, já que ele acorda às 6h para trabalhar, e ele me respondeu: “Eu não queria te atrapalhar”, na hora eu pensei que bobagem, é questão de saúde! Mas aquilo não saiu da minha cabeça porque meu pai achava que estava me atrapalhando...

    Então no Momento de Ouro o Sensei nos disse sobre a importância de sermos okoko e eu percebi que a culpa por meu pai pensar daquela maneira era minha, eu estava tão ocupado e distante dele que ele não se sentia no direito de “ocupar” meu tempo e tão pouco pedir minha ajuda!

    Decidi como pessoa, como homem e como samurai que dedicarei mais do meu tempo aqueles que me dedicaram toda sua vida!

    Este domingo fui pescar com meus pais, foi fantástico!
    Agradeço o Niten por existir o Momento de Ouro "

    Mauro (Unidade Vila Mariana - templo Nikkyoji)


    *Okoko - Retribuir, gratidão pelos pais e por aqueles que dedicaram sua vida por nós


    Mauro ao lado dos pais


    Sabemos que nossos entes queridos estão sempre em nossos corações.
    No entanto, a vida, como bem escrito no meu livro Shin Hagakure, não é um mar de rosas e, vez em quando, faz nos esquecermos e afastarmos das coisas mais valiosas como seres humanos.
    A travessia da vida é difícil e, para não afundarmos de vez  ou bater em alguma rocha ou iceberg, temos que ter o controle do leme. Estarmos sempre atentos.
    Mas isto não é o suficiente.
    É necessário termos uma bússola. Do contrario, não chegaremos ao nosso destino. Ou chegaremos insatisfeitos.
    O Momento de Ouro não se resume a algumas lições de sabedoria para o treinamento técnico ou aquisição de uma postura marcial, como bem demonstra este relato.
    Se o Shin Hagakure é o livro indispensável para despertar o tigre adormecido em nossos corações, como citado por Guido Mantega (pag. 19), o Momentos de Ouro faz o papel  da bússola que, indispensável para todo o bom capitão, impedirá que o tigre adormeça em nossos corações. 
    Ao fim de nossa travessia é necessário, antes de mais nada, chegar. 
    E, com o Momento de Ouro,  é possível que chegaremos.
    E, acredito eu, mais satisfeitos. 




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