Café com o Sensei Ir para o Conteúdo
imgcentral

Café com o Sensei

Pensamentos e comentários do Sensei Jorge Kishikawa




Retornar para últimas postagens

    31-mai-2013

    Ser Samurai



    "Konbanwa Sempai,
    Shitsurei Shimassu,

    Sempai, refleti muito sobre os momentos de ouro deste mês em especial, e por muitas vezes fiquei comovido com as palavras e ensinamentos que ouvi.

    Acredito que nunca me abri com ninguém do Niten sobre minha família e decidi pôr neste e-mail a razão e a importância do Instituto em me ajudar a lidar com meus pais, especialmente com a minha mãe.

    Minha mãe sofre de uma profunda depressão há mais de 15 anos. Quando ela começou a ter esta doença, eu era apenas uma criança e ficava bastante frustrado em não saber como ajudá-la. Havia semanas que ela não saia do quarto e não queria ver a luz do sol. Ela tomava remédios pesados e ainda os misturava com álcool, e constantemente ficava bastante agressiva, a ponto do meu pai querer interná-la.

    Pois bem, o tempo passou, mas por mais que eu tentasse ajudá-la, ela mesma não conseguia se ajudar. Hoje em dia ela está sofrendo muitas sequelas dos abusos de medicação, e é aí que o Niten me ajudou.

    Antes eu me isolava, nem queria saber dela. Não queria ver minha mãe, por mais duro que isso seja. Hoje ela está muito mal, há dias em que preciso ajudá-la a levantar-se da cama e a vestir-se. Trago comida e ajudo como posso. O Niten me fez ver que eu não posso dar as costas assim, pelo contrário, ter devoção a ela.

    Isso foi duro de compreender no começo, eu pensava "como vou ter devoção a uma pessoa que me fez sofrer?". Mas aí é que está: eu sou filho adotivo, justamente por vontade da minha mãe. Nunca conheci meus pais biológicos, somente soube que eles eram muito pobres e que não poderiam me criar.

    O ato de amor excepcional da minha mãe me comove hoje. Quando estou ajudando a ela a tomar banho ou qualquer outra coisa que ela não consegue fazer sozinha, me lembro do terceiro voto do Hagakure. Acho que a expressão deste voto, que quase diariamente convivo, nunca pôde ser tão claro para mim.

    Posso dizer também que muito do meu desempenho no último torneio e em todas as aulas e lutas, eu tenho ela em mente. Luto por ela também.

    Estou quase em lágrimas escrevendo este e-mail. Isso demonstra o quando o Niten significa para mim.

    Sempai, Domo Arigatô Gozaimashita por me fazer entender o verdadeiro sentido do que é ser Samurai e o que é ter devoção aos pais.

    Arigato
    Sayounará"


    A.F.


    A relação com os pais é um tanto complicada.
    É muito difícil eu ouvir de alguém que "eu estou muito bem com os meus pais". Sempre existe um "que" de que algo não vai bem, que "eles são complicados, que eles não me entendem "e por aí vai.
    Sim. Já tive alunos que os pais não só interferiam, mas até proibiam o treinamento. Apesar de serem adultos independentes!
    Cada pai, cada mãe com a sua mania. Alguns casos, só de ouvir é de doer...
    E é por isto que recitamos o 3° voto do Hagakure Shiseigan em todas as aulas: "Oya ni koukou tsukamatsuru beki koto".
    Por existirem os sentimentos mais complicados entre pais e filhos, tendemos a perder nossa razão a ponto de chegar a "cortar os laços", e até a odiá-los eternamente.
    Como seres humanos, aconteça o que acontecer, gostando ou não gostando deles, de uma coisa não podemos nos esquecer: de respeitá-los e, se somos samurais, tambem devotá-los.
    Falar é facil, fazer nem tanto. Mas, se continuarmos recitando os votos em todas as aulas, um dia, sem menos esperarmos, a iluminação ocorrerá.
    Isto é obvio no Niten, pois sabemos que todos os votos estão interligados ao almejarmos a elevação espiritual.



    Momentos de Ouro após treinamento técnico no Instituto Niten

     

    28-mai-2013

    20Anos Impacto





    20 anos de Niten.
    Encontrei esta revista em meio aos objetos "antigos".
    Foi a primeira revista marcial lançada aqui no Brasil. E mais: a número 01. Custo : Cr$ 150,00. Lia-se cento e cinquenta cruzeiros. Os mais jovens nunca ouviram falar de "cruzeiros", imagino.
    Foi quando as várias modalidades, após extenuantes reuniões, resolveram-se unir para ganhar força dentro do meio esportivo. Até então, as artes marcias que se conheciam eram as chamadas de "pancadaria" (algumas ainda continuam) ou kung fu chinês (devido ao seriado de David Carradine ou de Bruce Lee). Fizemos demonstrações, festivais, e foi daí que surgiu esta 1ª revista marcial.
    Naquela época não havia computadores ou câmeras digitais para facilitar o trabalho dos pobres fotógrafos (e dos modelos também).
    Repare na proteção do abdome, o "do". Ela foi ofuscada com uma pasta, tipo graxa de sapato porque o flash , quando disparava, atrapalhava o fotógrafo. Veja também eu um tanto "cansado" depois de quase 3 horas de flash e posições estáticas...
    E, olhe lá embaixo:  na legenda está escrito "Kendo - Jorge Kishikawa - Um super campeão".
    Não, não foi invenção do editor. Na realidade, o "super campeão" foi um título e troféu que recebi da Federação Paulista de Kendo, na época a responsável pela difusão do esporte no Brasil. Foi no ano que, graças aos céus e budas, sagrei me penta-campeão brasileiro consecutivo.
    Depois desta foto, aprendi uma importante lição: esta é a posição da espada que os fotógrafos mais gostam.




    Revista Impacto - Novembro 1990

    24-mai-2013

    Hidensho 34 - As pequenas coisas



    "Estava um dia muito quente na capital São Paulo já quando acordei pouco antes das seis da manhã, era cedo e sabia que iria treinar com o Sensei, onde a cada respiração se absorve algum aprendizado. Pois bem, o treino se iniciou às sete da manhã já com um ritmo acelerado com o kihon (movimentos basicos) conhecido por nós como "piloto". Com a energia no alto e o corpo dolorido do treino tive a oportunidade única de lutar com o Sensei.
    Recaíam ippon (golpes precisos) sobre mim de diversos kamaes (posturas) e do jeito mais inusitado possível, Ito (uma espada), Nito (duas espadas) e Kodachi (adaga), o Sensei me mostrava na pele os segredos do Hidensho, experiência intransmissível e que só quem já lutou com o Sensei sabe... de cada arma e cada kamae pude ver minhas fraquezas e forças enquanto o Sensei me mostrava como era de fato um combate, a vida e a morte em uma única respiração e aos poucos a assimilação do que é viver intensamente.

    Muitos colegas já tiveram a experiência de receber dez golpes em sequência do Sensei, não contei mas acho que nestes dias de treino em São Paulo já recebi ao menos dez destas sequências, como uma avalanche, que não para.
    Já muito surpreso com as habilidades incríveis do Sensei, não só por sua técnica mas porque todos os seus golpes tinham espírito, o que não é fácil, me vi diante da última luta do dia com o Sensei. Estava lá, empunhando minha Kodachi (adaga), e, diante de mim, Sensei também empunhava sua própria Kodachi. Pensei na hora, quem sabe agora me dou um pouco melhor já que sou relativamente rápido. Este pensamento foi rapidamente cortado assim que a luta começou, não podia acreditar, o Sensei parecia se teletransportar com aquela Kodachi que mais parecia um Tanto (faca). Não somente golpes men (crânio), tsuki (estocada)e dô (flanco), mas recebia golpes em meu kote (antebraço) enquanto ele se movia com minha espada curta... isso foi incrível! Quando, ao final do combate, não achava que seria mais presenteado o Sensei se aproximou e disse: "...a Kodachi é livre, é como um pincel e, dentro de suas leis, não há regras...".
    Estava extasiado, e depois do treino com o Sensei tivemos um Shiai (valendo ponto), eu contra Rodolfo, Coordenador de Recife e com a arbitragem do Senpai Wenzel.

    Graças ao Sensei pude sentir melhor o que o Sensei queria dizer, a Kodachi é como um pincel com o qual podemos desenhar o caminho do combate. Estou aprendendo, neste dia de treino, que é preciso conhecer os mais diversos e numerosos pincéis e com com eles se assimilar mais e mais para que assim possa desenhar, com firmeza, o caminho da vida. E quem sabe, como diz o Sensei, chegar até os 100 anos?"


    Drawin - Unidade Belo Horizonte.


    Para quem não tem idéia do que uma espada menor é capaz, sugiro assistir o filme "Samurai do Entardecer", em japonês, "Tasogare Seibei".
    Depois de assistir, verá que na parte técnica, não se deve menosprezar uma kodachi. No âmbito da vida, e de maneira similar, não  esquecer de viver intensamente.
    Interessante é saber que em ambos os casos, o melhor de tudo encontramos nas pequenas coisas...



    Prato era Meiji - acervo do Sensei




    23-mai-2013

    20Anos Tradução Nuestro Pequeño Samurai

     



    Os primeiros alunos

    Segue tradução do relato no café de ontem (CS 20 anos 1 - Nuestro Pequeño Samurai)

    "Nosso filho Antonio está há um pouco mais de 2 meses assistindo às aulas de Kenjutsu no Instituto Niten e a experiência tem sido incrível.
    Buscávamos uma escola que transmitisse valores que consideramos fundamentais como família, respeito com os demais, humildade, responsabilidade e disciplina. E junto com isso, agora vemos nosso filho concentrado, mais tranquilo e feliz de assistir aos treinos.
    Nos encanta sentir em cada uma das pessoas que frequenta o Instituo Niten o amor pelo que fazem, por isso estamos felizes que nosso filho possa ser parte deste grupo tão especial de pessoas que nos ajudaram a encontrar o samurai que havia dentro do Antonio.

    Atenciosamente,
    Eduardo e Priscila, pais de Antonio Salgado González"


     

    Comentário no Site: Nuestro Pequeño Samurai

    "Para mim, é uma honra poder ajudar com o treino do Antonio e de todas as crianças do KIR Jovem, e não há maior recompensa no caminho do que vê-los crescer com os valores que o Sensei nos transmite através do Instituto NITEN. Domo Arigato Gozaimashita Sensei! Arigato Gozaimashita a Antonio e a todos os alunos do KIR Jovem."
    Cristobal Pellegrini (unidade Chile)

     

    Para ler o comentário do Sensei sobre o relato leia o café de ontem (CS 20 anos 1 - Nuestro Pequeño Samurai)


     

    22-mai-2013

    20Anos Nuestro Pequeño Samurai






    Recebi este relato do outro lado da cordilheira dos Andes:

    "Nuestro hijo Antonio lleva un poco más de 2 meses asistiendo a clases de Kenjutsu en Instituto Niten y la experiencia ha sido increíble.
    Buscábamos una escuela que transmitiera valores que consideramos fundamentales como familia : respeto hacia los demás, humildad, responsabilidad y disciplina. Y junto con todo eso, ahora vemos a nuestro hijo concentrado, más tranquilo y feliz de asistir a los entrenamientos.

     


    Nos encanta sentir en cada una de las personas que asiste al Instituto Niten el amor hacia lo que hacen, por lo que estamos felices de que nuestro hijo pueda ser parte de este grupo tan especial de personas que nos ayudaron a sacar al samurai que Antonio llevaba dentro.
     

    Atentamente,
    Eduardo y Priscila, Papás de Antonio Salgado González" 

     

    Comentário no site: Nuestro Pequeño Samurai

    "Para mi es un honor el poder ayudar con el entrenamiento de Antonio y de todos los niños de KIR Joven, y no hay mayor recompensa en mi camino que verlos crecer con los valores que Sensei nos transmite a través del instituto NITEN. Domo Arigato Gozaimashita Sensei! Arigato Gozaimashita!! a Antonio y a todos los alumnos de KIR Joven."
    Cristobal Pellegrini (unidad Chile)



    Hoje, durante o treino de manhã, estava comentando com os shugyosha (alunos que vêm fazer retiro) que sou especialista em encontrar "pêlo em ovo". Sim, sou bom de encontrar imperfeições nas técnicas de meus alunos. Mesmo que tenham treinado por vários anos ou décadas, encontro.
    Deixando esta conversa a parte, ver o trabalho que iniciei há 20 anos no Instituto Niten cruzando fronteiras e gerações é gratificante.
    No início, houve aqueles que em sua incompreensão ou até por má fé, criticaram a nossa proposta.

    Hoje passados 20 anos, digo a você, sem sombra de dúvida que, apesar de nossas imperfeições, o trabalho que nossos coordenadores e monitores fazem por nossos alunos promove o bem estar e felicidade a todos que procuram. Damos mais que técnica: intensificamos a vida.
    Vamos continuar levando o Niten para os muitos Antonio, para eles quando adultos se tornarem concentrados, tranquilos e felizes.

    E Omedeto (meus parabéns) aos alunos do Chile.





    20-mai-2013

    Ceu Pimentas e Homenagem



    Neste sábado passado, foi realizado o Torneio Regional de Guarulhos no Ceu Pimentas.
    Pelo que ouvi, foi um grande dia. Muitas boas disputas e alegria geral.
    Não justamente, fui homenageado pelo Exmo. Secretário de Cultura de Guarulhos, dr. Edmilson Souza, e que, de fundo do coração agradeço pela consideração.
    Mas o mérito é de todos vocês. Coordenadores e alunos de Guarulhos que propiciaram-me receber esta grande homenagem. Arigato.



    clique na imagem para ver a homenagem



    Recebi o email de um aluno que retrata um pouco os acontecimentos da semana que se passou.

     

    "Sensei, shitsurrei shimassu.

    Li o café dessa semana
    Gokuro samá pelo treino e pelas palavras.
    Ter o Sensei perto de nós, discípulos, é de um valor que não podemos estimar, agora, o que vai significar para nossas vidas.
    Arigatô gozaimashitá
    Foi triste não ter o Sensei no Céu Pimentas esse sábado, espero que esteja tudo bem com o Sensei e sua família.

    shitsurrei shmassu,"

    Meloni(unidade Sumaré)

     

    Ao qual respondi:
    "Arigato pela preocupação.
    Está tudo bem, apenas corrido, pois estive no japão.
    Poucos são os que enxergam o que irá acontecer lá na frente,
    mas de nada adianta falar, pois só vão acordar quando a tempestade os pegar. Aí, o cabelo branco e o cansaço serão testemunhas que o tempo passou, nada aprenderam e será tarde demais.
    Gokurosama pelo dia no Ceu Pimentas. "




     


    16-mai-2013

    Hidensho 33 - Vivencia rara

    "Durante o treino com o Sensei, gostaria de ressaltar alguns momentos que foram especiais. Mas antes, gostaria de dizer o que mais me impressionou no treino daquele dia.
     
    O salão do Hokaido estava ocupado para os preparativos de um evento e nós tivemos que treinar no andar superior. Lá, o pé direito é baixo e há no teto o suporte para correr portas, sendo que em alguns lugares o vão chega a apenas 2m e alguns centímetros. Nesse ambiente é mais difícil lutar com a espada longa, já que os movimentos acima da cabeça são reduzidos.
    Quando estava colocando bogu, o Sensei me ordenou que eu utilizasse apenas a Kodachi (adaga).
    Começamos a lutar, eu de Kodachi utilizando o kamae Chudan (com a ponta voltada para o oponente)e o Sensei de Nitô (duas espadas) utilizando Gedan (com a ponta voltada ao chão). Lembro de o Sensei aplicando muitos Tsukis (estocadas) e Mens (golpe sobre crânio). Tentei me defender, mas a versatilidade das duas espadas se mostrou extremamente eficiente – quando eu defendia o Men ou o Tsuki meu antebraço ficava exposto e então o Sensei o cortava com a espada menor. Foram inúmeros Kotes (antebraço) que eu recebi do Sensei e eu buscava alguma forma de romper ou quebrar essa sequência de dois golpes com as duas espadas. Devia haver um jeito de defender com a Kodachi sem deixar o antebraço exposto e sem ter que recuar desnecessariamente para trás.
     
    Ás vezes, quando treino com o Sensei me vejo em um impasse, por exemplo esse em que tento várias formas diferentes de atacar ou contra-atacar e simplesmente não encontro uma ‘brecha’, uma saída, onde o Sensei com uma combinação parecida de golpes parece conseguir sempre me abater com facilidade, eu procuro aplicar golpes simples, amplos e diretos.
    Eu sei que se tentar fazer alguma ‘fita’, utilizar algum artifício para conseguir chegar a algum golpe, só vai resultar em uma derrota mais rápida ou em um golpe não sincero.
    Por outro lado, sei que um golpe simples vai ser facilmente aparado e cortado pelo Sensei. Mas eu acredito que nesse momento, em que tentamos aplicar um golpe com toda nossa energia, e que claramente demonstramos o golpe, é quando mais aprendemos no combate, pois posso ver como o Sensei vai aparar e cortar e posso entender melhor o tempo da luta.
    E foi quando comecei a tentar aplicar golpes com toda a verdade e energia que a luta ganhou outra dimensão, uma outra sensibilidade e atmosfera. Acho que o Sensei sempre proporciona a oportunidade de lutarmos nessa intensidade e depende apenas de nós em abrir o coração e lutar com coragem e sinceridade.
    Mais que nunca achei que estávamos empunhando uma espada de verdade, que vencer não era o objetivo nem meu e nem do Sensei, mas sim cortar. Encontrar uma maneira precisa e limpa de cortar o adversário. Por mais estranho que possa parecer para alguns, eu via muita felicidade no Sensei, uma energia radiante e contagiante de alegria no que estávamos fazendo e, mesmo sendo cortado de diversas maneiras e me sentindo incapaz de superar a montanha à minha frente, também sentia felicidade.
    No treino de sexta eu pude entender um sentimento, que talvez apenas os Samurais sentiam, de conseguir limpar a alma de toda energia negativa, toda vontade de vencer, todo ego, toda raiva, ira, todo medo. Ter alguém à frente pronto para lhe cortar e, contudo, sentir dentro de mim mais meu coração a bater. O corpo parece que obedece rápido aos impulsos e o único fim é deixar o espírito fluir – aplicar um golpe com toda verdade.E em algum momento, encontrei uma saída. Com a ponta da minha Kodachi para baixo, desviei a espada longa para fora do centro, mantive meu antebraço baixo, longe do alcance da espada curta e em um movimento amplo e circular levei a minha espada acima da minha cabeça e depois baixei-a em direção ao Dô (flanco) esquerdo do Sensei. Foi um golpe com muita energia, verdadeiro.
     
    Mas foi apenas esse. A luta recomeçou e o Sensei rapidamente, também em um golpe circular, cortou meu Dô do meu lado direito. Disse-me que agora estávamos empatados, eu tinha dado um Dô e o Sensei também. A luta recomeçou, algo me dizia que o Sensei ia tentar novamente um Dô. E acertou. E depois mais um. E mais um. E mais um. Foram cinco. Mesmo eu sabendo que o golpe seria um Dô eu simplesmente não consegui defender nenhum. Foram todos sinceros, limpos, perfeitos. Eu fiquei um tanto espantado e sentia minha alma trespassada.
     
    O Sensei, com um sorriso, então me disse: “É Hidensho.”
    Meloni (Unidade Sumaré)
     
     
    Quando o treinamento está isento de sentimentos impuros como a busca pela graduação, troféu ou reconhecimento pode-se desfrutar, na sua plenitude, a essência do Caminho. É necessário tempo e coração sincero para se ter esta experiência. 
    Tão sincero que nem um fio de cabelo é permitido estar na mente do aprendiz da espada. 
    O que vemos acima é o registro de um momento entre mestre e discípulo que, mesmo sem palavras, puderam "dialogar" sobre o Caminho. 
    Vivenciar esta experiência é algo raro hoje em dia: Faltam mestres competentes e discípulos sinceros...



    Tsuba - Acervo do Sensei

     

    14-mai-2013

    Dia das Mães



    Após os Momentos de Ouro deste sábado, recebi o email de um aluno que, tocado pelas minhas palavras, externou seu sentimento, solicitando compartilhar com todos.
    Ao meu ver, este sentimento nobre e raro hoje em dia deve ser seguido como exemplo por todos que buscam a paz interior.
    Realmente, não vale a pena perder tempo.


    "SHITSUREI SHIMASSU, SENSEI,
    KOMBAWÁ,

    Gostaria de fazer um pequeno relato do que refleti sobre o Momento de Ouro onde o SENSEI falou sobre seu próprio SENSEI, de quase noventa anos, que estava triste por não ter mais a presença dos pais.
    Na hora fiquei bastante emocionado e, refletindo sobre isso, lembrei-me de uma coisa que meu pai me disse em seus últimos meses de vida.
    Por causa de um câncer, minha mãe nos deixou assim que entrei na faculdade e pelo Alzeimer, meu pai, alguns anos depois. Atravessei o inferno com cada um deles, em toda a dificuldade que essas duas doenças trazem, cuidei deles até onde foi possível.
    Um dia, meu pai, em um raro momento em que lembrava quem eu era, me disse: ”Obrigado por tudo”.
    Alguns achavam minha paciência e compaixão como um gesto nobre. Outros, de acordo com suas religiões, achavam que eu estava garantindo meu lugar no céu.
    Nunca pensei assim. Nunca fiz nada disso. Na verdade acho que fui até um pouco egoísta. A verdade é que, mesmo em meio a todo o sofrimento que eles passaram, cada vez que eu podia sentir sua ternura e tê-los como exemplo, mesmo ali, era como um pedaço do paraíso pra mim e eu queria aproveitá-los até os últimos minutos.

    Como poderia ele me agradecer se eu é quem estava ganhando? A verdade é que eu sempre precisei deles, doentes ou não.

    Como hoje no dia das mães.

    ARIGATÔ GOZAIMASHITA, SENSEI, por me lembrar sempre de todas as coisas realmente importantes na vida.
    SAYOUNARÁ"

    João Paulo - Unidade Vila Mariana
     


    Momentos de Ouro do sábado 11 de Maio de 2013 (escrito por Mestre Risuke Otake ao Sensei)


     

    10-mai-2013

    Shin Hagakure 3ª edição 2 - Valeu


    Ao escrever este parágrafo, já me encontro aqui no Japão.
    Aqui há professores que se recusam a cantar o Kimigayo (Hino nacional japonês) ou hastear o Kokka (bandeira) por serem influênciados pelo Nikkyosan, corrente educacional orientada pelos comunistas
    antes da guerra e que incita à aversão a qualquer manifestação cultural antiga, acusando-a de conservadora e nacionalista pró imperador.
    Chegamos a tal ponto onde uma multa é inferida ao professor que recusar a cantá-lo. Na realidade, a coisa é mais complicada e não me cabe explicar aqui.

    Bem, o que eu quero lhe dizer é que um dia  este livro será traduzido para o japonês. E, quando este dia chegar, como tudo de novo que chega para mudar, haverá alguns que aplaudirão, outros que criticarão. Todos, estejam em seus equívocos e incompreensões ou não,  dando as suas  opiniões. Opiniões de quem nunca passou pelo treinamento austero, pela tradição ou convívio com os últimos samurais, estes já não mais vivos atualmente. Vozes.
    Mas tudo bem. O que mais importa é que, sem querer ser pretencioso, cedo ou tarde, eles, os japoneses, compreenderão o que estou dizendo e se orgulharão do sangue guerreiro que correm em suas veias.
    Havendo esta compreensão, mesmo que agora distantes, serão gratos aos seus ancestrais Samurais, fazendo valer no seu dia a dia, como na prestação de seus serviços, os seus legados.
    Continuarão na busca em serem os melhores. Perfeição. Respeito. Honra.
    E, se isto acontecer, só por isto já valeu este livro. Já valeu a minha vida.
    As pessoas serão mais felizes.



    Sensei com a primeira bandeira do Japão no Brasil que desembarcou do navio Kasato Maru em 1908. Evento de celebração ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil no Memorial do Imigrante da Mooca, São Paulo.

     

    08-mai-2013

    Shin Hagakure 3ª edição 1 - Japão


    Neste exato momento em que faço a revisão da 3ª edição do Shin Hagakure, estou a bordo de uma companhia aérea japonesa nos céus da Europa a caminho de mais um de meus treinamentos no Japão.
    Eu sinto, vejo e constato: o Japão dá de 10 a Zero no quesito de prestação de serviços em comparação a qualquer uma companhia do ocidente: além de ser bem atendido, tudo funciona, se compararmos com o nosso continente.
    A formalidade, o cumprimento, o respeito, a disciplina, a compaixão e tudo o que for necessário para um melhor atendimento incorporados em cada uma das atendentes.
    A poltrona, a refeição e até a atenção "VIP" dada pelas atendentes que se equiparam ou até superam a classe executiva de uma companhia aérea do ocidente, reforçam o que eu sempre disse: o Japão ainda é o melhor no que faz.
    Mas não é esse o ponto onde quero chegar...
    O que esta nova geração de japoneses nao sabem é que se eles são o que são, é porque existiu uma cultura e gerações de homens, seus ancestrais, que souberam como educar e treinar a fazê-los com eficácia e perfeição. Estes ancestrais estiveram no seio da sociedade durante mil anos influenciando a sua metodologia de pensar, sentir e executar: foram os Samurais.
    E por que os jovens de hoje  não sabem de onde veio toda esta habilidade? Porque esqueceram. Deixaram esta cultura em busca das novidades do ocidente. Em troca de proteção militar, abriram mão do que há, de tão importante quanto a defesa de seu país, a própria identidade. A cultura. Não tem jeito. Não podemos culpá-los.
    Pois bem, imagine que na minha infância, os meus colegas descendentes se recusavam em aprender o japonês e achavam que o treinamento com espadas era assunto de "ditchan e batchan"(vovô e vovó). Ou seja, brega.
    Os tempos se passaram e eu continuei remando contra a maré e pasmem, em ritmo acelerado.
    (Continua)





     




    topo

    +55 11 94294-8956
    contato@niten.org.br