Café com o Sensei
Pensamentos e comentários do Sensei Jorge Kishikawa
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30-ago-2018
Instituto Niten
Nosso Momento de Ouro de ontem foi sobre Paciência. Me lembrou sobre algo que eu pretendia fazer alguns meses atrás.
Quando Senpai Thomas recomendou pela primeira vez que escrevêssemos uma carta "de coração", resisti. Sendo super introvertido com alguns meses de treinamento, o que eu poderia dizer que seria significativo?
Fiquei impressionado com Senpai Kenzo, claro. Ele era forte e elegante, confiante e direto.
Sensei, quando você veio nos visitar fiquei ainda mais impressionado. Os alunos que vieram com você foram muito capazes e confiantes. O treinamento foi (na medida certa) desafiador e útil. As demonstrações de keiko e a habilidade com as armas eram emocionantes, maravilhosas, esclarecedoras e inspiradoras. Fiquei grato pelo seu tempo e atenção.
Honestamente, tendo estudado com algumas pessoas formidáveis na minha vida, não esperava menos. Sua liderança, habilidade e elegância foram notáveis, mas algumas horas não são suficientes para realmente conhecer alguém. Ainda assim, essa experiência confirmou que eu estava no lugar certo. Eu quero aprender contigo tanto quanto eu puder.
Na segunda vez em que Senpai Thomas pediu o feedback, fiquei um pouco envergonhado por não ter respondido na primeira vez. Mas ainda assim, lutei para encontrar as palavras para expressar e meu comprometimento. O que eu poderia dizer que você nunca ouviu antes?
Quando Senpai Wenzel nos visitou, fiquei impressionado com sua elegância, fluidez, confiança e inteligência. Durante o treino com Senpai Wenzel, lembrei-me de uma frase que gosto: "Procure primeiro entender, para depois ser compreendido" (Steven Covey, "Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes").
Depois do treino, lembrei-me de uma excelente definição de inteligência: Inteligência é a capacidade de receber, organizar e transmitir conhecimento e compreensão. Senpai Wenzel demonstrou sua inteligência criando um novo exercício durante o treino. A "espada cadente" demonstrou relaxamento e tensão com notável clareza.
Agora, finalmente, depois de ler o primeiro volume de Shin Hagakure, sinto que é importante compartilhar meu apreço pelas habilidades e lições que aprendemos com o Instituto Niten.
Aos 42 anos de idade, estou contando com o ki desenvolvido durante a infância, pois agora trabalho com técnica e resistência com interesse e intenção. Mas há algo mais disponível aqui. Obviamente, os benefícios das artes marciais em geral são muitos e foram transmitidos através de muitas escolas, de diversas maneira ao longo dos séculos. Para mim, pessoalmente, os ensinamentos espirituais e filosóficos conhecidos como os Momentos de Ouro e o Shin Hagakure se destacam em nosso treinamento. Estudei com os jesuítas e com mestres de Shao-lin durante anos e hoje aprecio os valores, a moral e a ética que aprendemos com Niten.
Eu valorizo o quão simples e acessíveis essas idéias são no início, e quão profundamente elas podem moldar nossas vidas quando as ouvimos e as praticamos. Além da técnica e do treinamento físico que aprendemos com o Niten, a filosofia e o espírito que recebemos são excepcionais na minha experiência.
No Shin Hagakure você diz: "Os ocidentais não entendem o Bushido". Obrigado pela sua persistência e paciência em nos ensinar. Obrigado por nos dar a oportunidade de começar a entender o que o Bushido realmente significa.
Atenciosamente," - Zac Vohs - Niten Denver
Dizem que para se conhecer o monte Fuji, é preciso escalá-lo.
O Niten, alto como o monte Fuji, tem a sua escalada e a cada momento que se avança, você se depara com uma nova paisagem.
Estas paisagens são únicas no mundo, e isto tem uma razão de ser, pois reune todas as melhores vistas do Japão, vistas que eu trouxe durante as minhas décadas de peregrinações.
O Niten é tão alto que um "coração" não é grande o suficiente para descrevê-lo...
Vohs à Esquerda brindando com os alunos de Denver Gravura de Hokusai, da coleção "100 vistas do Monte Fuji", início do século 18
24-ago-2018
"21 de Agosto de 2018, o Instituto Niten promoveu um valioso Seminário com um Mestre de nosso Sensei
. Shimamura Sensei, 6º Soke de Nito Shinkage Ryu Kusarigama Jutsu, possui também amplo conhecimento em Tameshigiri, é mestre campeão japonês de Tameshigiri, e nos proporcionou, juntamente com o Sensei Jorge Kishikawa, um seminário repleto de tesouros não apenas sobre como cortar, mas também sobre a importância do sentimento e respeito por trás de cada corte.
Em cada olhar atento, era palpável a curiosidade e a determinação em não perder nenhum detalhe: a inclinação correta da lâmina, a distância exata para realizar o corte, o posicionamento dos braços, como usar o Koshi...Os Mestres são como bússolas na busca pela perfeição.
Shimamura Soke, firme em cada corte, paciente e atento a cada aluno, transmite tranquilidade ao longo de todo o seminário.
Durante o evento, a concentração e a energia saltaram aos olhos.
Era possível sentir no ar durante cada correção, cada corte e cada Rei, algo muito mais importante do que o nervosismo de estar frente a frente com os Mestres, era possível sentir a vontade de dar o seu melhor. Sentimento que emanava de cada aluno.
Esse sentimento, motivado seja por saber estar representando o Instituto Niten perante Shimamura Soke, ou pela vontade de fazer o certo, pela vontade de colocar a coragem à prova e vencer o desafio, ou mesmo (e provavelmente) por uma combinação de todos esses fatores, concomitantemente a todos os valiosos ensinamentos, é de indescritível importância para a formação não só dos Samurais do Niten, mas dos seres humanos que o compõe.
Não só o Niten não existiria se não fosse pelo Sensei Jorge Kishikawa, como certamente não seria o mesmo sem seu constante esforço e dedicação em aprender e transmitir o Bushido.
E para fechar com chave de ouro, essa dedicação foi novamente reconhecida. Sensei é, mais uma vez, Menkyo Kaiden! Poder estar presente neste momento de reconhecimento, Sensei Jorge Kishikawa recebendo a graduação máxima do estilo Nito Shinkage Ryu Kusarigama Jutsu, em nosso Dojo em São Paulo, certamente traz muita alegria!
São muitas conquistas para comemorar neste ano que marca os 25 anos do Instituto Niten, muita história para refletir, e muito trabalho duro pela frente. Que bom!
Que venham muitos mais 25 anos!
Domo arigatou gozaimashita."
Larissa – Campinas
17-ago-2018
Nesta sexta-feira, dia 10 de agosto, o Sensei Jorge Kisihikawa, com uma comitiva do Niten, visitou, orgulhosa e honradamente, o Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Coronel Marcelo Viera Salles para uma audiência privada. O convite do encontro fora intermediado pelo senhor Massaki Shimada, do Conselho do Patrimônio do Estado de São Paulo e ex-presidente da CEAGESP. Este evento tem caráter especial uma vez que faz parte das comemorações dos 25 anos do Niten e dos 110 anos da imigração japonesa para o Brasil.
Inicialmente, o Sensei Jorge Kishikawa expôs ao Comandante Salles que o Niten pratica várias modalidades de intervenção não letal, usadas no Japão por forças policiais, como o Jojutsu (arte do bastão), Goshinjutsu (defesa pessoal dos samurais) e o Jitte. Em seguida, especificou a expressiva interação do Instituto Niten em treinamentos e workshops com vários orgãos federais e com a própria Policia Militar.
Nesse sentido, o aluno do Niten, Tenente Coronel Amorim, que lidera o CIGS (Centro de Instrução de Guerra na Selva), na Amazônia, mencionou os diversos militares que praticam no Niten.
O Comandante da PM, Coronel Salles, enfatizou que a capacitação em artes marciais favorece o discernimento e a atuação em uma situação de conflito em campo.
Manifestou, inclusive, interesse na ampliação de cursos da Policia Militar com o Niten e para tanto, já estão sendo programadas para o próximo mês apresentações de treinamentos e de armas samurais para os oficiais da Academia de Polícia Militar do Barro Branco.
A seguir, o Sensei Kishikawa presenteou o Coronel Salles com um Jitte, a tradicional arma policial japonesa e, nessa ocasião, o Coronel manifestou-se muito interessado e honrado com o convite recebido para as comemorações dos 25 anos do Niten e do Primeiro Torneio Mundial de Kenjutsu, maior combate samurai dos últimos tempos, em Outubro. O Coronel Salles prontamente confirmou sua presença e a de seu staff, o que dará muito orgulho à instituição.
Em seguida, a comitiva foi convidada para um passeio no belo jardim oculto japonês que existe na entrada do Comando Militar. O jardim, construído pela indicação do primeiro nissei da PM do Estado de São Paulo, Coronel Reizo Nishi, chamou a atenção de todos pela beleza e delicadeza da sua composição. Ele simboliza a presença e assimilação da cultura japonesa pelo nosso país. Os detalhes do jardim, como as rochas devidamente colocadas em ordem, a maior ladeada pelas menores, representando o Comandante Geral e seu Estado Maior, são de enorme orgulho para a Policia Militar.
Para finalizar essa honorífica visita, o Coronel Salles presenteou o Sensei Jorge Kishikawa com uma significativa e bela placa comemorativa onde fica comprovado que ambas instituições, Niten e Policia Militar, tem um nobre objetivo em comum, ou seja, desenvolver a arte militar em equilíbrio com a cultura e técnica dos samurais.
09-ago-2018
09 de agosto de 1945. Exatamente neste mesmo horário em que trasncrevo estas
linhas, às 11:02, explodiu a bomba Fat Man sobre a cidade portuária
de Nagasaki.
Alguns dias depois o Japão se rendia às forças aliadas e assim se encerrou uma das páginas mais longas de sofrimento na história do povo japonês.
Desde então, discussões sobre a culpa dos generais japoneses da guerra, discussões sobre o rearmamento, sobre lembrar ou não as vítimas da guerra, e até cantar ou não o Hino Nacional nas escolas, surgem de tempos em tempos.
Mas a verdade é que após 73 anos, somente quem teve sua casa cruelmente bombardeada, conhece a verdadeira dimensão da dor e da tragédia de uma guerra.
Os samurais já diziam que é preciso nos preparar para evitar a guerra...
Façamos um minuto de silêncio.
- Mokuto...
*Mokuto = reflexão silenciosa em memória às vitimas de uma catástrofe
"A destruição de múltiplas vidas
Escrevo este texto agora de noite. Já fazem algumas horas desde o terror que ocorreu em 1945 no Japão em Hiroshima. Está sendo difícil escrever, minhas mãos estam tremulas diante de tanto horror que estou recordando do museu da Bomba Atômica em Hiroshima. Me lembro do vestido, da bicicleta, do policial, e até da menina que nasceu depois do incidente e morreu alguns anos depois de leucemia por causa da radiação. Todos eles, elas, plantas animais e sinais de vida que desapareceram, merecem ser lembrados, vou relembrar agora como uma meditação em prol a tudo isso.
Havia uma mulher que estava tendo seu dia cuidando de casa, provavelmente pensando: Quando essa guerra vai acabar? Onde está o meu amado marido? Na Manchúria, na China, ninguém sabe…
Eis que uma luz rasga o céu. O sol foi coberto pela luz. E essa luz queimou toda a pele da jovem. Como seria possível? Deus me castigou por pensar no meu marido? E aí um vento quente e forte se espalha destruindo janelas e paredes enormes como se fosse o portal do inferno se abrindo, cacos de vidro caíram e se fincaram nela como chicotes ou chuvas de fogo. Ou é coisa do demo que apareceu para nos arruinar?
Hoje a única coisa que restou dela foi o seu vestido que estava usando no trágico dia. Havia manchas de sangue na lateral e nas costas.
Ela morreu alguns dias depois da bomba cair.
“Foi Deus ou o Diabo quem me levou? Foi a luz do divino, ou o vento diabólico que me derrubou?”
Não muito longe havia um menino que ganhou um presente de seu pai. Era uma bicicleta, era um presente para expressar amor do pai pelo pequeno menino de três anos. O pai estava dentro de casa, o menino amando o presente de coração de seu pai. Mesmo com a Guerra ainda existe uma relação pai e filho, que bom…Talvez assim pensava o pai.
Um avião sobrevoa e alguns segundos depois uma forte luz se fez. O que é isso?!
Logo em seguida o vento quente e devastador arremessa o menino e o mata.
O pai sobreviveu mas o menino morreu a única coisa que restou naquele dia foi a bicicleta, o pai pegou a bicicleta e a guardou como todo pai guarda os brinquedos de seus bebês antes de levá-los à cama, mas dessa vez não havia mais o amor entre os dois, só um amor que foi brutalmente separado por uma luz e um vento, assim como uma folha de outono é arrancada da árvore e levada para longe.
Em serviço, atento, sob pressão e é claro, vivendo uma guerra numa cidade que muito conhecia, um policial vigilante e pronto para qualquer coisa. Ouviu discursos sobre o poder de sua nação regida por um imperador que era um Deus que os regia com toda sabedoria divina e que por isso não haveria chances de descansar pois estavam servindo a Deus.
Como se fosse uma missão surpresa a bomba caiu.
Uma luz!
Um vento….
Destruição…
Seria seu imperador um Deus quem fez isso a ele?
E sua mulher que fim teve?
Ele saberia mais tarde que ela morreu.
Sem entender direito viu pessoas procurando familiares e vizinhos, reuniu alguns para ajudá-lo na contagem de mortos, desaparecidos e vivos. Seria isso o mais certo a fazer? Depois de tanto sofrer sem saber o destino da esposa e todo ferido, mas olhou ao redor e viu que muitos passavam pelo mesmo ou pior, então resolveu ajudá-los.
Em sua tarefa tinha que anotar nomes dos desaparecidos e mortos, anotar o nome de seus amigos que nunca mais veria, anotar os nomes dos vizinhos que morreram.
Depois de toda confusão, brotos de esperança nascem, uma menina nasceu depois da tragédia, trazendo a esperança de um futuro próspero.
Toda a sua infância foi maravilhosa, era bonita querida, de boa família era uma flor!
Eis que uma leucemia a enfermou, a causa da leucemia, radiação. Toda aquela alegria que a pequena trouxe se transformava na memória do passado tenebroso de alguns anos. A morte era certa. E aconteceu quando tinha nove anos de idade apenas.
O que é mais terrível?
Uma coisa imediata que de repente te leva tudo?
Ou uma esperança que se transformou em tragédia causando um sofrimento lento?
Agora é noite, fazem setenta e três anos do acontecimento, me imagino numa noite daquela data.
As estrelas estão escuras, as árvores assombradas, onde havia objetos que desapareceram só restaram a sombra deles.
Vejo cada figura, uma mulher ferida, um pai enterrando seu filho, um agente persistente quase morto pensando no próximo e uma criança que tentou trazer esperança mas não conseguiu.
O que espero, é que todos reconheçam que o que a setenta e três anos atrás ocorreu ainda pode ocorrer hoje.
Não há maior sofrimento."
Yoshimitsu Yoshimitsu - Treinando em Dojo no Japão
06-ago-2018
Hoje, 06 de Agosto, dia de lembrar a bomba de Hiroshima.
Peço a vocês, 1 minuto de Mokuto, 1 minuto de silêncio e reflexão sobre o assunto.
Arigatou
*Mokuto - SilêncioO menino evaporou enquanto brincava no triciclo