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No Café de hoje, sugiro que releia o Café Perguntas Importantes (05jan - Perguntas Importantes) e o de ontem (20jan - Carneirinhos Monstros).
É importante saber o porquê e com quem está andando para não nos perder no Caminho.
São só 10 minutinhos do seu Café que vão fazer diferença nos seus próximos 10 anos...
No início, aparecem de carneirinhos.
Indefesos, inofensivos. "Dóceis" e "humildes" em procura do Caminho.
-Onegai shimasu!*- suplicam ao mestre.
A porta é aberta...
Durante o trajeto do Caminho, a sinceridade e a lealdade são colocadas à prova.
O ego fala mais alto. Começam a cair as máscaras.
Tempo perdido.
Por fim, aparecem os ossos, e aí vemos os "monstros" que na realidade eram.
Já dizia o samurai Yamamoto Tsunetomo: "Quando consegue ver dentro do coração do outro, você pode se decepcionar".
Neste final de semana, um aluno me trouxe um assunto delicado em relação à prática do tsuki, golpe de estocada, ao pescoço do adversário.
Praticante do kenjutsu, se mostrava preocupado, pois estava com hérnia de disco, precisamente na região cervical (pescoço). E com toda razão!
No kendo, um tsuki é considerado válido quando é o suficiente para "deslocar" o pescoço do oponente para trás. Eu sei como é isso. Treinei exaustivamente, por décadas, este golpe.
Na década de 80, quando participava dos torneios, só éramos eu e meu irmão aplicando os golpes tsuki.
Vi, no entanto, que este golpe esconde um grande perigo: lesão da coluna cervical acarretando a já conhecida hérnia de disco.
Por ser médico, muitos professores lá no Japão me "consultavam" sobre a dor que tinham no pescoço e algumas delas, que iam aos braços e às mãos.
Ou seja, ao longo das décadas de treinamento, o que era para ser um esporte saudável, se tornava causa de grandes danos.
Não que isto tenha sido determinante, mas a orientação que tenho dado no treinamento no kenjutsu difere do que tenho praticado no kendo. Entendo que sendo uma espada real, a katana, os golpes não precisam "deslocar", "empurrar" o adversário. Ou, melhor dizendo, se fosse uma katana mesmo, uma perfuração de 1cm já seria fatal para lesar as partes vitais do oponente.
É possível que um praticante de kendo desinformado não compreenda a validade de um tsuki no torneio de kenjutsu por achar que faltou "força" para deslocar o adversário.
Compreenda: não há necessidade de "deslocar" o pescoço. Um toque basta.
O importante é atingi-lo.
Para que machucá-lo?
Um toque basta!
Um aluno me enviou estas palavras depois ler o Café do dia 05 de janeiro (05jan - Perguntas Importantes):
"Sensei, andei pensando e eu me lembro bem do que eu vim procurar no Niten. Lembro do primeiro dia que eu fui ao treino também. Mas não achei que fosse encontrar isso da maneira como eu achei, eu só simplesmente achei...
Vim treinar porque não existia equilíbrio entre a minha espada e a pena. Esta última era muito mais forte, dominante e determinante na minha vida. Tudo seria resolvido pela lógica impecável, e todos cederiam aos argumentos bem lançados e encadeados, todos reconhecem e aceitam a oratória forte e coerente. Mas isso está longe de ser a verdade.
Sempre existirão aqueles que podem saber que perderam no campo das idéias, mas que continuam a se negar a aceitar a derrota, e buscarão, por todos os meios possíveis, burlar e impedir que o certo e justo prevaleçam nas relações humanas.
Nessas horas, somente a espada, empunhada para defender a pena, pode ser vencedora. Nada mais. Não é hora de pedir favores, não é hora de esperar ajuda divina. Chega a hora de ir à guerra, e na guerra, a ideologia não vence batalhas, somente a espada.
Eu vim ao Niten para aprender isso, para aprender a ir à guerra quando for necessário, para nunca deixar que ninguém me empurre para fora do círculo, e para que, quando chegar a hora, eu possa lutar por quem não pode fazer isso com as próprias forças.
E descobri que eu posso fazer isso fazendo o Light Exercise. Porque ali, quando o exercício termina, nada mais existe, seu corpo acabou, está exausto, aquela batalha acabou, mas a guerra ainda não. Só o espírito, a pura vontade e determinação,continua te empurrando pra frente. O rugido do último men é o rugido do homem que não se deixa derrotar pelas dificuldades do corpo, de quem se entrega em cada luta e vai até o limite, senão além, e se recusa a desistir no final.
Sensei, eu vim para o Niten aprender a fazer a guerra para defender todos aqueles ideais e princípios que me guiam nos tempos de paz.
Por isso Sensei, que eu gostei tanto da parte final do email de ano novo do Sensei, "e que venha a guerra!"
Domo arigatô gozaimashitá Sensei, por mais coisas do que se pode dizer ou escrever!"
Falei sobre jardim ontem (14jan - Kokoro Kara)
Acho oportuno deixar esta foto e estas palavras:
"LIMPAR O JARDIM
Já disse que a primeira tarefa que o aluno deve fazer é a limpeza.
Para aprenderem que os afazeres de pouca importância devem ser levados a sério.
Para que não comecem a crescer ervas daninhas no jardim do espírito.
É nesse momento, quando existe uma brecha ao inimigo, que o castelo cai em ruína." - Shin Hagakure, pag 118
"Kokoro kara" quer dizer, "de coração". Que vem "do coração".
Não fazer, simplesmente, por fazer ou por obrigação. Ou porque foi mandado.
Alguns enviam orei, outros oreizinho, outros oreizão. E outros nem enviam (falta-lhes educação).
Alguns enviam cartão, outros email, outros com palavras do coração. E outros, nada (falta-lhes seriedade).
Alguns aparam o jardim por obrigação, outros mediocremente, outros com perfeição. E outros, nem chegam a aparar (falta-lhes vontade).
Neste dia fiquei contente, pois não é sempre que recebemos alunos que escrevem mensagens de "kokoro", bem como shugyoshas* que aparam sem defeitos (sobra-lhes energia).
Hatsugueiko, o primeiro treino do ano (Unidade Ana Rosa)
Hoje destaco a comitiva do Japão que virá ao Brasil no próximo Dia do Samurai, 24 de abril.
A programação do evento já está feita e vai ter muiiiita luta.
Para os amantes do iai, haverá treino seminário de Iaijutsu também.
O grande dia se aproxima...
Brasil x Japão.
No Livro dos Cinco Anéis, de Musashi Sensei*, no Mizu no maki, pergaminho da Água, está escrito:
"A forma da não-forma, a princípio quer dizer que não deve haver uma forma rígida ou sequência predeterminada a ser seguida".
Ele quer dizer com sua experiência que devemos conhecer todos os tipos de kamae, melhor dizendo, posturas, e não ficar apegado em uma.
O prazer de se estudar o Kenjutsu é mergulhar nas técnicas milenares dos samurais e constatar, pela própria experiência, que essas técnicas, de fato, surgiram de inspirações divinas.
Há um universo inteiro a ser explorado.
A vida é curta.
Sugiro você não ficar parado.
"Este segundo dia de shugyo (06jan - Recarregar a energia) continua bastante corrido. A energia para aguentar o shugyo é grande, mas tenho trazido a tona as últimas gotas de energia para aguentar cada dia. Hoje, foram muitos men-men-men*, kirikaeshi*, shiai, correções e "sapinhos".
Dentre os exercícios citados, destaco o nosso conhecido "sapinho". Excelente estimulante para despertar a parte adormecida do tigre que existe (u que deveria existir em alguns) em cada um de nós.
Muitas vezes, por descuido e falta de atenção sobre os nossos pensamentos, agimos displicentemente, deixando de cumprir os nossos compromissos.
À medida que o tempo passa, de tigre passamos a bicho preguiça.
Por isso, o shugyo.
Por isso, o "sapinho".