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A primeira aula no Rio, por assim dizer, foi na praia.
Ipanema. Em frente ao bar do Caneco 70.
Chovia. Mas não tinha volta. Já havíamos divulgado que a nossa primeira aula seria lá.
Estávamos de kimono, hakama, do e tarê. Men e shinai na mão.
Só esperando a chuva passar, espiávamos de dentro do Caneco 70.
Cada vez mais forte e ninguém na praia.
Não tínhamos alternativa.
Com equipamento completo, mergulhamos na chuva e em cima da areia fizemos treino de 1 hora.
No final, todo o equipamento ensopado.
É verdade que quem sai na chuva é para se molhar.
Falando no Torneio do Rio (15set - Torneio no Rio), me veio a lembrança dos primeiros dias do Niten no Rio.
Já faz quase 10 anos, se não me falha a memória. Os interessados enviavam cartas ou telefonavam, pois na época não tinha e-mails.
Solicitavam uma unidade no Rio.
O primeiro passo foi dado.
Fui ao Rio.
Tempo nublado e o Wenzel no aeroporto, que ainda não era coordenador, pois nem havíamos começado. Não, pensando bem, já era coordenador, pois foi quem coordenou todo o primeiro dia de minha visita.
Uma das imagens mais belas de que me lembro é a do Cristo Redentor.
Não, não é aquela que você já conhece. Com toda a vista para o mar e a baía da Guanabara.
Não. Era como se estivéssemos (mas estávamos!) em cima das nuvens. Não se via nada lá em baixo. Só nuvens.
Nuvens que se moviam. Vinham e subiam para o alto.
Não vi a baía neste dia, nem o mar.
Decidi, então, voltar...
E ficar.
Era uma manhã como outra qualquer e em meio à luz e ao frescor da primavera saíamos dos nossos habituais treinos do Hokkaido*.
Nas ruas, engarrafamentos, buzinas, carros, ônibus lotados. Tudo parado. Cena típica de uma manhã na capital paulistana.
Um pouco antes das onze, alguns samurais modernos andavam em direção a padaria. Como sempre, suados após o treino da Unidade Ana Rosa e vestidos de kimonos e espadas à mão, despertávamos atenção.
Era o jeito. Não tínhamos tempo nem para um "banho de gato".
Aquele dia não foi diferente.
Sentamos. Mesa de lanchonete. Comida por kilo em clima de "copo sujo".
Uma televisão lá no fundo só para distrair os clientes impacientes.
Sentei-me. E, como sempre, dei aquela suspirada depois de um bom treino.
Ao olhar a tv, vejo tumulto e:
-Booooommmm!!!
Não acredito no que vejo e fico inerte, sem reação, apático, "mushin"*.
Confesso. Tomei um men*. E daqueles...
Era 11 de setembro.
*Hokkaido = local de treino da Unidade Ana Rosa, em São Paulo
*mushin = mu (vazio); shin(sentimento)
*men = golpe na cabeça
Uma revista marcial da época (09set - Tanaka) publicou uma matéria a meu respeito, se não me engano, com os seguintes dizeres:
"Jorge Kishikawa, super-campeão de Mil e uma faces".
Em estratégia, Musashi Sensei, em seu Livro dos Cinco Anéis, nos fala que não se deve utilizar a mesma tática repetidas vezes.
Não precisa se chegar a Mil, mas para um estrategista, estudar algumas dezenas de kamae* é imprescindível.
Mesmo assim, você pode ser pego.
Então é melhor ter Mil mesmo.
Que difícil...
Naquela época (08set- Foto do Último Café), estava "atolado" em provas e provas nos anos de medicina.
Mas "botei" em minha cabeça que nada iria mudar os meus objetivos. E um deles era continuar a busca pelo deca-campeonato em anos consecutivos.
Mas sabia que para continuar no pódio com a mesma técnica e a mesma estratégia não conseguiria, pois adversários habilidosos não faltavam. Entre eles lembro-me de um japonês que veio, na época, ministrar aulas aos filhos de executivos no Brasil. Tinha passado também pela universidade Kokushikan e foi uma das maiores pedras no meu caminho ao pódio.
Tanaka lutava com postura jodan* e nós treinos ninguém o abatia. No Japão, já havia feito um bom histórico nos torneios colegiais e universitários.
Chegamos na semifinal.
- A estratégia tem que ser diferente, do contrário serei eu também derrotado e tudo irá por água abaixo - pensei.
Dito e feito.
Venci.
A foto colocada na última sexta neste Café (05set - Foto) se trata de uma das disputas em semifinais em torneio brasileiro de kendo.
Trata-se de uma técnica originada no combate com a espada menor
O adversário, na foto era muito ágil para recuar e contragolpear.
Utiizando-se a técnica de espada menor, consegui encaixar o golpe que me levou a final do campeonato.
Treinar com a espada menor ampliará a sua Estratégia.
que o Niten tem a ver com o Samurai do Entardecer?
Quase tudo.
Mas em sendo um momento para um café, vou te enumerar duas razões:
Uma delas é o uso da espada menor, presente em quase todas as nossas aulas: no combate de kenjutsu, no Niten Ichi Ryu Kenjutsu, Sekiguchi Ryu Iaijutsu,
Suyo Ryu Iai Kenpo, Shindo Muso Ryu Jojutsu, Uchida Ryu Tanjo Jutsu e por ai vai.
A outra, por uma simples razão de princípios: que buscamos a felicidade verdadeira em primeiro lugar.
Felicidade que se conquista com o espírito.
Lutar com espada é também lutar sem espada.
Como assim?
Ao utilizar a espada menor com uma das mãos, e não utilizar a outra livre é falta de bom senso. Desde os primórdios do kenjutsu, as técnicas com a kodachi* e tanto* faziam parte do treinamento.
Ou seja, em kenjutsu, treinavam-se o uso da tachi (espada maior), kodachi e tanto. Em combate de kenjutsu, se te pegarem com as mãos, já está a meio passo da derrota.
É. Não tem um segundo para respirar.
Confira no filme.