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"Treinar Tameshigiri está sendo um grande aprendizado. Como Sensei diz, cortar parece fácil, mas não é!
Hoje, falhei novamente ao ser avaliado: errei um corte que tinha facilidade, por poucos fios do tatame. Mas mesmo com a lâmina já com fio gasto em relação aos outros treinos, consegui fazer a maioria dos cortes quando avaliado, embora tivesse falhado quase todos os cortes do aquecimento! Neste cenário, saí iluminado com percepções riquíssimas para meu dia a dia!
Vi que minha postura, minha energia, diante de um problema, vai influenciar diretamente sua solução ou não. Meu espírito está afiado e preciso a ponto de cortar reto até o final do tatame?
Tenho o foco e a força necessária, mas não exagerada, e da forma correta?
No final do treino, os problemas do trabalho que - sem querer - levei comigo, já não estavam mais lá. Apenas meu diálogo com a Espada, com o Sensei, com o Espírito.
Ao fim da tarde, fomos agraciados novamente com uma charutada na Adm. Lá, além dos deliciosos comes e bebes e da incrível companhia e convivência com os colegas do caminho, Sensei brindou-nos mostrando um katana longo, longo como o de Sasaki Kojiro! Era bem maior do que as lâminas que costumamos usar. Uma relíquia dentre os tesouros do Sensei.
Estava lá, simples em seu shirasaya (estojo de proteção da lâmina), mas brilhante, polida e afiada como o Espírito que Sensei nos trás."
Cortes (Unidade Rio de Janeiro)
"Cortar parece fácil, mas não é", como eu sempre digo, segundo o aluno.
Mas não foi assim que eu ouvi há 30 anos. Foi quando comecei a procurar respostas para o meu aprendizado que a aquela altura não eram suficientes com a espada de bambu, madeira ou uma de metal sem fio.- "Cortar é fácil" - ouvi durante décadas de professores que sequer haviam segurado uma katana.
Indignado com tais afirmações, comecei a estudar.
Foram anos treinando.
E hoje, chego a seguinte conclusão:
"Cortar é fácil. Fácil é errar"...
Outro momento muito especial no combate
Houve também outro momento que achei importante, pois o Sensei aplicou um golpe que eu nunca havia visto. Eu tentei aplicar um Tsuki com a Kodachi e então o Sensei com um toque de magica, a desviou longe e então aplicou um Men com a sua Kodachi."
Meloni (Unidade Sumare)
Lâmina do período Muromachi - Acervo do Sensei
"Durante este shugyo fui privilegiado pelo Sensei em poder participar de treinos
(para não dizer embates) inéditos em que pude observar como a kusarigama (foice e corrente) seria em combate. "Pude constatar técnicas contra as quais não estamos acostumados a lutar e ver o tanto que elas podem ser efetivas.
Embora possamos ter uma pequena noção da distância do "fundou" (projetil de ferro na ponta da corrente) enquanto é girada, o golpe que ela vai desferir é outra história. O desarme da espada das mãos do oponente, que em tempos remotos quando eram usada as armas reais, causaria sérios danos ao receptor do golpe. Caso não fosse o suficiente para quebrar o seu espírito e o oponente conseguisse invadir o maai (distancia) do "fundou" mais corrente, teria que enfrentar a terrível foice.
Um dos exercícios do treino consiste em estar no kamae chudan (ponta apontada para o pescoço) e tirar o kote (antebraço) antes que ele seja acertado. Quando estava conseguindo "defender" 1 ou 2 a cada 3 golpes, Sensei cerrou os olhos e... HIDENSHO! Kote, kote, kote, kote e mais kote.
Realmente a kusarigama é uma arma notável, versátil e letal nas mãos de mestres como o Sensei.
Sanzio - Unidade Pampulha/Belo Horizonte
Engana-se aquele que pensa ser a kusarigama uma arma eficaz desde que gire o projétil com velocidade.
Da mesma maneira que com a espada nem sempre movimentos velozes são os mais perigosos, com a kusarigama se dá o mesmo.
É preciso cautela para se ter eficácia e estratégia.
No entanto, não é tao fácil defender-se dela quando o "fundo" vem a toda velocidade. Pois o projétil começa a ser invisível no ato de sua rotação.
Aqui vai uma pergunta: qual a outra lição a se tirar com este depoimento?
Sensei discursando
Estivemos em Brasília neste fim de semana para comemorarmos os 10 anos da Unidade.
Além dos festejos, um Gashuku para dar emoção a todos os participantes.
O objetivo foi alcançado e todos ganharam mais um evento para ser lembrado o resto de nossas vidas.
Três dias vividos intensamente que a partir de hoje será revivido com o relato dos alunos:
Saída da comitiva de São Paulo
Embarque do avião
"Gostaria de relatar sobre o Gashuku de comemoração aos 10 anos da Unidade Brasília.
Quando entrei para o Instituto Cultural Niten, se me falassem que depois de aproximadamente 32 meses eu iria participar de um evento comemorativo em uma data tão especial. Não só para participar, como ajudar a arrumar o local de treino, cuidar do material dos Sempais, apresentar Katas de Niten Ichi Ryu para colegas de várias unidades, beber da fonte mais pura do Bushido e ter ainda a grande honra de conhecer um grande amigo Do Sensei de mais de 20 anos, do qual as palavras eu vou lembrar para sempre “Por não saber que era impossível, foi lá e o fez”, eu não poderia acreditar de maneira alguma no início.
Porque quando entrei para o Niten eu achava que conhecia algo de Bushido ou mesmo de autoconfiança e coragem, por treinar aqui dentro, depois desse tempo eu vejo que não sabia nada, e não digo que sei hoje! Mas hoje eu sei que treino arduamente para meu espírito aprender a praticar os Momentos de Ouro todos os dias. Acredito que quem já entrou depois da infância e adolescência ao Niten, talvez leve um tempo para limpar o grosso da sujeira do mundo lá fora e depois começar o trabalho de refinamento como uma peça de madeira que o Mestre de Verdade vai trabalhando, esse trabalho de refinamento é feito “a mão”!
E parte desse trabalho, Sensei disse-nos hoje (domingo), que devemos ser pessoas “do topo”, “do alto”. Este foi um gashuku que eu não precisei parar por passar mau ou estar exausto, e eu considero minha maior vitória, não envergonhar meus companheiros desistindo de treinar, mas estar com eles até o fim, Arigato Gozaimashita a todos por termos vencido juntos e recebendo a lição de perseverança do Sensei para que possamos continuar a treinar com muita energia para honrar O Sensei, crescermos juntos no caminho e que eu comece a me encaminhar ao caminho de me tornar uma pessoa “do topo”.
Domo Arigato Gozaimashita Sensei, palavras não são suficientes para demonstrar minha gratidão!"
(Jackson - Unidade Brasília/DF)
"Na charutada, mesmo em momentos de descontração não se esquece que devemos estar prontos para batalha.
Digo isso porque, quando entre um assunto e outro, o Sensei levantou a questão sobre a atitude que cada pessoa tomaria
Ter tempo para pensar e responder é uma coisa. Agora, estar pronto para tomar uma decisão imediata é outra. Nos lembra que mesmo descontraídos devemos estar sempre alerta.
Confesso que fiquei até arrepiado quando o sensei nos mostrou a lâmina. Como é guardada para ser preservada. E a energia que a presença de uma relíquia desse tipo transmite.
"A espada é a alma do samurai". Já ouvi essa frase algumas vezes mas só em momentos como esse se compreende o peso dessas palavras.
O Sensei me conhece e sabe que se deixar eu fico escrevendo páginas do que aconteceu.
Então fico por aqui."
Weber (Unidade Vila Mariana)
"O Sensei dá a instrução para o pessoal da minha fila para pegarmos nossas espadas de madeira e treinarmos o movimendo do corte diagonal de baixo pra cima do lado esquerdo. É uma posição estranha, pois na posição de guarda, antes do corte, os antebraços ficam cruzados. Mais algumas explicações de que este corte é até mais importante de ser estudado do que na posição lateral do lado esquerdo, onde a posição seria mais natural.
Chega minha vez de cortar. Ao contrário da impressão que se tem inicialmente, é BEM DIFÍCIL cortar. Na minha primeira peça, os três cortes atravessam a peça toda. Fico contente e aí vem os erros. Ao todo, cortei cinco peças, e tirando a primeira, a espada parou em pelo menos um corte em todas as peças.
Depois dos cortes, vários sushis, enrolados de várias maneiras e sashimi. A quantidade ótima, até foi díficil conseguir comer tudo, mas é sushi e vale a pena, Né?"
Guilherme (Unidade Campinas)
"Após um treino intenso, braços e mente cansados do aprendizado, mas o espírito pronto para mais. Assim entramos na charutada.
É o momento de relaxar um pouco, beber com o Sensei e os colegas que enfrentaram o dia.
Não diferente das outras oportunidades, porém sendo única em cada ocasião, é o momento de maior aprendizado do dia.
Degustando um charuto, saboreando uma cachaça, pouco a pouco a conversa com o Sensei vai crescendo.
Conduzidos pelo Sensei, vamos conhecendo um pouco mais uns aos outros, seja nas apresentações, seja nas observações de cada um sobre assuntos trazidos pelo Sensei.
E completando a vivência, o Sensei nos traz grandes ensinamentos.
De maneira simples, descontraída, vai conduzindo a conversa, envolvendo a todos no assunto, e passando as lições do Bushido.
As vivências do próprio Sensei com os Mestres, os Shugyos (retiros espirituais) do Sensei, os acontecimentos por aqui, é uma conversa longa, mas tranquila, gostosa, como aquele "Dedo de Prosa".
Agora aquele Katana que o Sensei nos mostrou... a quantidade de energia que há nele é proporcional ao seu tamanho. Foi o que senti.
Ao final, a primeira vez que vejo o Sensei retornar para uma "blitz".
Foi para marcar em nossos corações, "o importante é fazer direito o cotidiano..."
Danilo (Unidade Campinas)
"Aprendendo, na pele, o que realmente corta e o que não corta, nós iremos construir, em união com o treino de combate, um conhecimento próprio e tácito da Verdade do Ki-Ken-Tai-Ichi( energia-tecnica-postura) e não nos tornaremos meros repetidores de informação. Quando transmitirmos adiante o conhecimento do Sensei, poderemos, no futuro, falar com propriedade "isto não corta" com base na experiência pessoal.
Também pudemos assistir ao Sensei demonstrando cortes básicos e avançados. E isto é sempre um incentivo forte para continuarmos a nos esforçar. É a prova de que, se falhamos, a culpa está em nós, não na técnica, no alvo ou na espada. E se está em nós, podemos consertar, treinando mais e com orientação correta.
Apenas o treinamento e as demonstrações já teriam valido, com sobras, a viagem a São Paulo, mas neste dia o Sensei optou por nos beneficiar ainda mais, disponibilizando horas preciosas do seu tempo durante toda a tarde do feriado para conviver conosco alunos, quando poderia estar em casa, desfrutando da companhia de seus pais, esposa, filhos...
Destas oportunidades de convívio eu aprendi que o Caminho vai muito mais além do que vestir um hakama (roupa inferior), empunhar uma espada nas mãos e suar no Dojo. "
Holschuh (Unidade Americana)
"Observando, enxergava e aprendia com as correções do Sensei sobre todos. A cada correção do Sensei, pude ver o sucesso surgindo, e a diferença que estes detalhes fazem. Impressionado, eu devo dizer: O Sensei correndo rapidamente, de um lado para o outro, a cada corte uma técnica diferente, uma oportunidade que surgia, sem parar. Me parecia uma batalha. Um corte perfeito, e rapidamente já estava cortando o próximo adversário!Ao final, com eficiência, todos limparam e arrumaram o salão rapidamente e pudemos saborear aquele sushi da vitória."
Danilo (Unidade Campinas)
"Junto com os cortes, o Sensei aproveitava para repassar as técnicas e também ressaltar a importância do treinamento como um todo. Apenas treinar corte não faria sentido. É o conjunto do treino, Kenjutsu, Iaijutsu, Jojutsu, etc., que permite entender toda a dinâmica do combate: do momento do saque até entrar na defesa do adversário para, por fim, aplicar corretamente o corte."
Mazeron (Unidade Porto Alegre)
"Tenho escrito pouco em meu diário, mas 30 de maio seria um dos poucos dias em que a minha página não poderia ficar em branco.No treino do tameshi, antes de cortar, senti uma sensação diferente da primeira vez.Não sei, acho que ansiedade. Estava pensando que não poderia ir pior do que da vez anterior.Felizmente quando se empunha uma kataná não há espaço para esse tipo de tolice.Não sei se isso se passa com todas as pessoas, mas eu parei de pensar, em fazer bonito ou feio. Na verdade eu não pensava em nada. Apenas cortar.Ainda tive a sorte de cortar um makiwara do sensei, não sabia que os que o sensei corta são mais robustos que os demais. Foi bem mais difícil."
Weber (Unidade São Paulo)
"Nada melhor que num dia que seria ocioso poder treinar com o Sensei e aprender tanto sobre o Tameshi
Sensei falou-nos sobre as diferentes Katanas e sobre os Koshiraes, executou demonstração dos kamaes do kenjutsu em ação e os ensinamentos escondidos dentro dos katas, verdadeiros tesouros!"
Elaine – Unidade Rio de Janeiro
"Sensei nos concedeu um presente inestimável ao nos transmitir conhecimentos sobre a alma do samurai, a Katana, detalhes de sua curvatura, peso, suas origens, informações que nos fazem compreender um pouco por que a Katana é tida como a alma do samurai, por sua beleza e complexidade. Uma obra de arte forjada para a humanidade."
Abrantes (Unidade Rio de Janeiro)
"Parece que treinar Tameshigiri mais uma vez nos remete a treinar de verdade a Compaixão!!"
Sanches (Unidade Vila Mariana)
"Konbanwa Sempai,
Shitsurei Shimassu,
Sempai, refleti muito sobre os momentos de ouro deste mês em especial, e por muitas vezes fiquei comovido com as palavras e ensinamentos que ouvi.
Acredito que nunca me abri com ninguém do Niten sobre minha família e decidi pôr neste e-mail a razão e a importância do Instituto em me ajudar a lidar com meus pais, especialmente com a minha mãe.
Minha mãe sofre de uma profunda depressão há mais de 15 anos. Quando ela começou a ter esta doença, eu era apenas uma criança e ficava bastante frustrado em não saber como ajudá-la. Havia semanas que ela não saia do quarto e não queria ver a luz do sol. Ela tomava remédios pesados e ainda os misturava com álcool, e constantemente ficava bastante agressiva, a ponto do meu pai querer interná-la.
Pois bem, o tempo passou, mas por mais que eu tentasse ajudá-la, ela mesma não conseguia se ajudar. Hoje em dia ela está sofrendo muitas sequelas dos abusos de medicação, e é aí que o Niten me ajudou.
Antes eu me isolava, nem queria saber dela. Não queria ver minha mãe, por mais duro que isso seja. Hoje ela está muito mal, há dias em que preciso ajudá-la a levantar-se da cama e a vestir-se. Trago comida e ajudo como posso. O Niten me fez ver que eu não posso dar as costas assim, pelo contrário, ter devoção a ela.
Isso foi duro de compreender no começo, eu pensava "como vou ter devoção a uma pessoa que me fez sofrer?". Mas aí é que está: eu sou filho adotivo, justamente por vontade da minha mãe. Nunca conheci meus pais biológicos, somente soube que eles eram muito pobres e que não poderiam me criar.
O ato de amor excepcional da minha mãe me comove hoje. Quando estou ajudando a ela a tomar banho ou qualquer outra coisa que ela não consegue fazer sozinha, me lembro do terceiro voto do Hagakure. Acho que a expressão deste voto, que quase diariamente convivo, nunca pôde ser tão claro para mim.
Posso dizer também que muito do meu desempenho no último torneio e em todas as aulas e lutas, eu tenho ela em mente. Luto por ela também.
Estou quase em lágrimas escrevendo este e-mail. Isso demonstra o quando o Niten significa para mim.
Sempai, Domo Arigatô Gozaimashita por me fazer entender o verdadeiro sentido do que é ser Samurai e o que é ter devoção aos pais.
Arigato
Sayounará"
A.F.
Momentos de Ouro após treinamento técnico no Instituto Niten
20 anos de Niten.
Encontrei esta revista em meio aos objetos "antigos".
Foi a primeira revista marcial lançada aqui no Brasil. E mais: a número 01. Custo : Cr$ 150,00. Lia-se cento e cinquenta cruzeiros. Os mais jovens nunca ouviram falar de "cruzeiros", imagino.
Foi quando as várias modalidades, após extenuantes reuniões, resolveram-se unir para ganhar força dentro do meio esportivo. Até então, as artes marcias que se conheciam eram as chamadas de "pancadaria" (algumas ainda continuam) ou kung fu chinês (devido ao seriado de David Carradine ou de Bruce Lee). Fizemos demonstrações, festivais, e foi daí que surgiu esta 1ª revista marcial.
Naquela época não havia computadores ou câmeras digitais para facilitar o trabalho dos pobres fotógrafos (e dos modelos também).
Repare na proteção do abdome, o "do". Ela foi ofuscada com uma pasta, tipo graxa de sapato porque o flash , quando disparava, atrapalhava o fotógrafo. Veja também eu um tanto "cansado" depois de quase 3 horas de flash e posições estáticas...
E, olhe lá embaixo: na legenda está escrito "Kendo - Jorge Kishikawa - Um super campeão".
Não, não foi invenção do editor. Na realidade, o "super campeão" foi um título e troféu que recebi da Federação Paulista de Kendo, na época a responsável pela difusão do esporte no Brasil. Foi no ano que, graças aos céus e budas, sagrei me penta-campeão brasileiro consecutivo.
Depois desta foto, aprendi uma importante lição: esta é a posição da espada que os fotógrafos mais gostam.
Revista Impacto - Novembro 1990