Niten 25 Anos Expandindo o Kobudô - EM BUSCA DE UM BUDO QUE TRAZ A FELICIDADE

(Matéria do jornal nikkey 25/04/18)




"Assim que fundou o Instituto Niten, o Sr. Kishikawa deu início aos treinamentos do Hyoho Niten Ichi Ryu de Miyamoto Musashi oriundo da província de Oita.
Desde então, tem ido anualmente ao Japão, e em 2005 recebeu o certificado de Menkyo Kaiden (título de grão mestre) das mãos do então grão mestre da 10ª geração, Gosho Motoharu.
Até o momento, o Sr. Kishikawa também tem percorrido outras regiões do Japão para aprimorar, além do kenjutsu e iaijutsu (técnica da espada real), o jojutsu (técnica do cajado), bojutsu (técnica do bastão longo), kusarigamajutsu (técnica da foice e corrente), naginatajutsu (técnica da alabarda), jittejutsu (técnica do jitte), sojutsu(técnica da lança) e kogusoku (técnica das armas menores).
O Sr. Kishikawa diz que "é possível que nem mesmo no Japão, alguém tenha aprendido tantas técnicas dos samurais".
No Niten, aprende-se exaustivamente as técnicas de Duas Espadas (Nito Ryu), seguindo os ensinamentos do "Niten Ichi Ryu". O aluno tem contato com técnicas secretas como técnicas "soete waza", sobrepondo as mãos sobre o dorso da lâmina, "uchigote" que almejam a parte interna do braço, fazem parte das técnicas utilizadas nos Koryu (escolas antigas) e introduzidas nas aulas do Niten.
Foi no ensino fundamental que o Sr.Kishikawa se viu atraído pela cultura samurai e pelas técnicas antigas. Seus avós enviavam revistas e livros sobre as guerras feudais do Japão e Miyamoto Musashi, e ele lia incansavelmente. Foi a partir deste encontro, lendo o "Livro dos Cinco Anéis" (Go Rin no Sho) de Musashi e o"Bushido" de Nitobe Inazo que percebeu a profundidade do espírito guerreiro do samurai.
Um dos ensinamentos que leva à risca é o "Fusui Onbun", do início do período Edo, de autoria do grande samurai Yagyu Jubei. Este ensinamento transmite que mesmo no em meio ao combate, manter o espírito capaz de sentir a mais suave brisa e ouvir a corrente do mais silencioso riacho é o diferencial para ser vitorioso.
O pretexto para a fundação do Niten foi que, quando cursava a medicina, ensinava alguns de seus colegas no ginásio da faculdade e comentava sobre as histórias e ensinamentos dos samurais.
Ao comentar que "O espírito de combate dos samurais auxiliava em suas provas de medicina e na melhoria da relação médico-paciente", a atenção por parte de seus colegas era notória. Desde então, começou a perceber que os seus colegas ansiavam pelo momento de ouvir as abordagens sobre os samurais mais até do que treinar exaustivamente. Na realidade, segundo o sr Kishikawa, "buscavam a chave para viver feliz".
O Sr Kishikawa carregava uma certa desconfiança se é tao importante "correr em busca de medalhas e prestar exame de faixas". Pois, ao treinarmos exaustivamente como um atleta para conquistarmos medalhas, nos afastamos das reflexões mais profundas sobre a vida. Sua desconfiança é compreensível quando se observa que num torneio, só o campeão sai feliz, enquanto que todo o resto, sai perdedor: Infelizes.
"O mais importante não é vencer ou perder, mas trilhar uma vida feliz"- foi pensando assim que descobriu uma nova forma de abordar as técnicas do budo, onde vencer ou perder era irrelevante.
Colocou ênfase em realizar uma prática saudável e que permitisse um treinamento diferente do que havia feito até então: algo que pudesse ser praticado por um longo período de tempo, introduzindo seus conhecimentos em medicina esportiva.
Um exemplo : enquanto que no kendo se pratica com o pé direito à frente, no Niten, o pé esquerdo também é utilizado à frente, por exemplo na "postura do ideograma"(mojigamae). Ao treinar apenas com o pé direito à frente, ocorre a sobrecarga de todas as articulações do lado direito,trazendo como consequência dores e lesões irreversíveis. A "postura do ideograma" "evita as lesões, equilibrando a sobrecarga de apenas um dos membros inferiores.
"Tenho visto muitos praticantes experientes no kendo que lesionaram os seus joelhos e calcanhares. Não é possível ser feliz com dor. "- completa o Sr Kishikawa.

Entre os seus alunos, há muitos praticantes que treinaram artes marciais que simpatizam com esta metodologia. Evandro Pontes (44 anos), praticante de judô há 30 anos, lesionou ambos os joelhos há 5 anos deixando então de praticá-lo e após isto começou a frequentar o Niten com seu filho e esposa. "No mundo do judô, o importante é a competição e para isto eu treinava quase todos os dias" - relembra.
"O espírito competitivo leva o praticante a ter sentimentos baixos e mesquinhos, ou vencer através do dopping, o que não vejo graça nenhuma. Praticando no Niten, estou me aprimorando internamente e tenho convivido mais com a minha família"- revelou.

Foto: "Pontes e sua família no Niten"