Matéria publicada na Revista O FLU, encarte do Jornal `O Fluminense´ de Niterói da edição de Domingo de 13 de abrl de 2014 (clique nas páginas para ampliar) FILOSOFIA SAMURAI Por: Fernanda Paixão 13/04/2014 Kenjutsu, arte marcial de origem japonesa, ajuda o desenvolvimento espiritual No Japão, um jovem guerreiro dedicou sua vida à arte da espada. Seu nome era Musashi, um samurai que desenvolveu técnicas de combate usadas até hoje na prática de artes marciais como o kenjutsu. Legado de Musashi, a luta, que usa duas espadas, é conhecida como a arte da espada dos samurais. As aulas de kenjutsu são praticadas com armas feitas de bambu e madeira, e, aliada aos treinos, há uma forte filosofia. (...) Continua (post completo) |
Fernanda Ramos - NiteróiAcho que esta foi a melhor matéria realizada na unidade de Niterói. Parabéns a todos! (Continua)
Na história da esgrima japonesa, pouquíssimos samurais são agraciados com o título de “Kensei”, em bom português, "Santo da Espada". Um deles é Musashi Sensei, o qual devotamos a aprender e praticar seus ensinamentos todos os dias de nossas vidas, do amanhecer ao anoitecer.
Mas existem outros. Dentre eles está Tsukahara Bokuden, também uma lenda entre os praticantes do Caminho. No seu currículo consta, dentre muitas atividades, duelos e afins, que dominou ainda jovem o Tenshin Shoden Katori Shintô-ryu, foi Intrutor Xogunal da Casa Ashikaga e o fundador do célebre estilo Kashima Shintô-ryu.
Pois bem, uma famosa anedota sintetiza a genialidade deste samurai. Conta ela que Tsukahara Bokuden estava numa barca cheia de passageiros atravessando o lago Biwa-ko quando foi interpelado por um viajante sem modos. Em tom presunçoso e mal educado, perguntou à Bokuden qual era seu estilo. A resposta veio acompanhanda de ironia:
- Meu estilo é o Mutekatsu-ryu.
- Ora, seu imbecil, se seu estilo é o “Estilo da Vitória com as Mãos Vazias”, porque carregas estas duas espadas na cintura?
- É, realmente parece tolice, mas elas servem para que meu espírito corte a arrogância.
Tremendamente irritado com o diálogo, aos berros o passageiro ordenou ao barqueiro que parasse na margem do lago para dar cabo de Bokuden. Este, pedindo desculpas aos demais passageiros pelo transtorno na viagem, o convenceu de que o duelo deveria ser realizado numa ilha próxima para evitar maiores problemas. Chegando lá, imediatamente o viajante pulou do barco com espada fora do saya* e o desafiou novamente com impropérios. E então Bokuden disse:
- Meu estilo necessita de muita concentração, por isso, acalma-te. Deixarei minhas espadas no barco e lutarei com teu remo barqueiro.
Em seguida, pegou o remo do barqueiro, o empunhou, e se dirigiu à borda da embarcação. Quando pensaram todos que pularia do barco para terra firme e iniciaria a contenda, ele rapidamente se pôs a afastar o barco da ilha com um forte empurrão e a remar.
- Seu covarde, voltes aqui! - disse o passageiro brigão de espada na mão.
Depois de se afastar à uma considerável distância, Bokuden sorriu e disse calmamente:
- Se quiseres venha nadando até o barco. Garanto que tirarei tua vida antes mesmo de pensar em subir! Tolo, agora entendes!? Esse é o modo de se vencer sem usar armas do estilo Mutekatsu-ryu. Se quiseres aprender algo que realmente preste é só me procurar. Passe bem por aí.
Desta história, fica a lição: vencer não é só uma questão de cortar, nocautear ou de recorrer a violência, na verdade, é sobre sair dominante e triunfante da situação o mais suave possível. Como diz Sensei: “Se alguém atacar, acalmar a raiva e envolver o adversário defendendo-se suavemente”. Seguindo sempre isso a vitória se torna certa no caminho do guerreiro!
*saya: bainha da espada samurai.
Cena do filme "Operação Dragão", com Bruce Lee. 1973.
Ainda sobre o Iaijutsu,
outras dúvida que sempre surgem,
é como se mover durante os treinos,
o "timing" da execução dos cortes e posturas.
Alguns detalhes de como se mover
só podem ser percebidas treinando com muita fúria de combate,
mil vezes, até 10 mil vezes o mesmo kata até conseguir se pegar
pensando com veracidade como se estivesse no combate real,
realmente ver alguem vindo com uma espada contra você
de certo ângulo, postura e o corte de aplicado de alguma direção.
Nem sempre rápido de mais,
pois o oponente poderia prever a sua intenção de atacar ou defender
Nem sempre muito devagar,
pois seria cortado sem poder ter a chance de reagir.
Com muita fúria...
O "timing" de cada detalhe tem que encaixar perfeitamente!
Como tocar piano, cada tecla tem que ser apertada no momento certo,
umas mais rápidas e outras mais devagar.
Sem perder a sincronia ou o rítmo da música!
Foto: Daniel Barenboim - Pianista e Maestro
(em suas diferentes movimentações ao tocar piano)
Na guerra, em qualquer aspecto ou provação da vida, Sensei nos ensina que quatro são os fatores para vencer: Ki, Ken, Tai e Un.
O primeiro fator é Ki, o estado de espírito, a disposição de entrar para vencer a qualquer custo. Alcançar o almejado estado de transe no limiar da vida e morte.
Ken, o segundo, diz respeito à técnica, dominada com repetição, muito suor e lágrimas.
No terceiro está Tai, o condicionamento físico do samurai. A posição e o corpo, que devem ser firmes para suportar o combate incessante.
O último, Un, é a sorte. Uma donzela arredia que às vezes aparece para nos auxiliar. Às vezes. Por isso, e como não a controlamos, treinamos justamente para superá-la. Pois sorte é “bônus” e contar com ela é o melhor atalho para a derrota.
Nicolau Maquiavel foi um importante estadista e político italiano no período conhecido como Renascimento (Séc. XV e XVI).
Alguns atribuem a frase "os fins justificam os meios a ele", apesar de se tratar de uma das várias interpretações sobre o seu pensamento.
Dos vários conceitos que trabalhou em suas obras, destaco particularmente dois: a virtù e a fortuna. A virtù é a capacidade do indivíduo de se adaptar e controlar as ocasiões e acontecimentos. A fortuna é a sorte, o acaso, imprevisível, que pode vir para o bem ou para o mal.
Em sua obra O Príncipe, Maquiavel explicou que a fortuna é árbitra de ao menos 50% de nossas ações, deixando o restante ao nosso governo. Disse ainda que a fortuna seria como um rio impetuoso, que derruba casas e alaga planícies, mas que quando acalma nada impede que os homens construam diques e barreiras para que, no momento que a cheia voltar, não cause os danos que causou antes. Essa capacidade de direcionar a fortuna seria a virtù.
Os Samurais entendiam bem isso: "ficar esperando a sorte é o mesmo que esperar a morte". A virtù do guerreiro estaria em treinar e deixar seu Kamae (postura de combate) forte o bastante para poder direcionar o acaso a seu favor e, assim, não depender da sorte.
Breno Freitas - NiteróiHai, Buchard
Ambos, Samurais e Filósofos, buscam a excelência naquilo que fazem. Isso acontece, na minha opinião, porque assim como na Filosofia, os samurais amam o saber. Naturalmente são saberes diferentes (ou na sua essência, nem tanto...), mas amb (Continua)
Buchard - Shitussurei shimassu Senpai,
Venho estudando Maquiavel e fiquei entusiasmado ao ver essa postagem. Interessante é perceber que a Fortuna, embora seja acaso, ela é personificada: os deuses reservaram para nós esse mistério que é a vida, essa reunião de (Continua)
Durante os treinos de Iaijutsu
alguns alunos ficam em dúvida
sobre como olhar ou encarar o inimigo.
Pois é uma detalhe importante
quando se está empunhando uma espada de verdade em combate.
Ter fúria guerreira durante a execução
de qualquer golpe, postura, ou sequência é imprescindível,
porém apenas fazer cara de mau, durão ou careta, não é a mesma coisa!
Quem já teve a oportunidade de ver um grande mestre de espada treinando,
ou fotos do século retrasado dos últimos guerreiros samurais
e até mesmo em filmes antigos sobre samurais,
provavelmente já notou que o olhar está sempre tranquilo e sereno,
por mais furiosa que seja a movimentação, o golpe ou intensidade da situação.
A serenidade dentro do caos do combate define bem o olhar do guerreiro samurai.
Cena do Filme: Os 7 Samurais (observe os olhares)
George Teixeira
* 25 Abril 1964 † 16 Março 2014
Damos o Adeus ao nosso Irmão de Espada Teixeira, que faleceu na manhã deste domingo, 16 de março de 2014 lutando contra o câncer.
Teixeira juntou-se ao Niten em 2004, e nestes quase 10 anos manteve-se presente aos treinos e próximo dos alunos, ajudou a cuidar dos mais novos e a orientá-los também em seus desafios na vida.
Era irreverente, carismático, nosso malvado favorito,
de raciocínio rápido a aguçado, foi para todos um estímulo para que mantivéssemos sempre o kamae na vida!
Compreendeu logo os valores e princípios do Instituto Niten
e os defendeu em todas as situações dificeis que estiveram ao seu alcance.
Sempre um Samurai a postos para o combate.
São dele inúmeras ideias, frases, textos e sugestões para melhorar e fortalecer nosso Instituto.
Como um dos autores mais empolgados na elaboração da letra do nosso Hino "Samurais do Niten", uma parte dele está eternizada para todos nós nos versos que ajudou a esculpir.
Perigoso e concentrado na luta,
com todas as suas imperfeições, era nosso Kikuchiyo dos 7 Samurais.
O treino no último sábado no Dojo Tijuca, 15 de março, não podia estar mais cheio e mais repleto de energia, era como se estivesse dedicado a ele,
e ao final fomos num grupo numeroso até a calçada do hospital, tomar um mate e ficar perto de nosso irmão que travava a última luta em vida.
Em seu velório lhe prestamos as homenagens, e como foi seu desejo expresso, cobrimos seu caixão com a bandeira do Niten.
Teixeira foi emoção e vida à flor da pele até o último momento.
Nos deixa mais esta lição.
Honto ni Domo Arigato Gozaimashita
Mãos em Prece
Wenzel Böhm
Instituto Niten Rio de Janeiro
Teixeira, no centro na fileira da frente, em meio ao grupo como ele tanto gostava, foto também de um domingo pela manhã às 10h da forma como ele certamente quer ser lembrado.
Naira Mattos Teixeira - Rio de JaneiroAos companheiros e amigos de George!
Escrevo para agradecer. Agradecer a cada um pelas palavras de conforto, pelo carinho, neste momento tão difícil pelo qual todos temos que passar ao longo de nossas vidas – a partida das pessoas que amamos.
Victo (Continua)
Sanzio Guilherme Naves - Belo HorizonteQue o caminho do outro lado continue firme na iluminação do Senpai Teixeira. Sinceros sentimentos para toda sua família. (Continua)
Kalawatis - Volta RedondaHontou-ni Domo Arigato Gozaimashita senpai!
Eu e todos que tiveram a honra de conhecê-lo tivemos muita sorte de compartilhar da sua vida, uma pessoa realmente única.
Com você, aprendemos que sem um sorriso nada na vida tem sentido.
Sayonara! (Continua)
Silvana Lopes - BrasiliaQue Senpai Teixeira tenha tido uma passagem tranquila, meus sentimentos a família e aos colegas do Niten RJ.
Mãos em prece! (Continua)
Rodrigo Correa Leite - ItúQue a certeza das virtudes sempre o acompanhem. Infelizmente não o conheci pessoalmente, mas tenho certeza que sua energia continua entre nós.
Meus sentimentos à família e aos colegas do Niten RJ.
Mãos em prece!
Leite - Ana Rosa (Continua)
Quando nos deparamos com uma técnica nova, segue-se um extenso período de estudo.
Como num experimento científico, através da tentativa e erro, vamos ajustando um detalhe aqui, outro ali. Até que enfim chegamos perto do resultado que queríamos.
Ótimo! Agora com um norte, a busca é tentar chegar novamente a esse ponto.
Coloquem suas máscaras (diga-se MEN*), doutores, e vamos estudar a ciência da espada samurai.
*MEN: Parte integrante da armadura (Bogu). Protege a região da cabeça.
Omar - Niterói - RjShitsureishmassu Senpai Breno``
Com certeza estarei fazendo experiências para evoluir na química do Men``
Domo Arigatou Gozaimashita
Sayounará
Omar (Continua)
General Eisenhower conversando com pára-quedistas da 101ª Divisão "Airborne", antes de sua partida para Normandia. Inglaterra, 5 de junho de 1944.
Dentro do dojo, ou em qualquer lugar, sempre existe uma hierarquia.
Para a empreitada funcionar, os mais graduados devem sempre se preocupar com os mais novos, tendo em mente a responsabilidade de tratar com justiça e compaixão a “tropa”. Entender a real importância deles, vez que são os “peões” que ganham a guerra.
Por isso fazer algo errado ou de qualquer maneira é duplamente negativo: prejudica o seu espírito e contamina os outros que vêm atrás de você. A referência existe para ser dada. Isso serve tanto para o general, quanto para o soldado, para o chefe e o empregado, para o “senpai” e o “kohai”. Para aqueles que tem maiores responsabilidades, quanto aqueles que tem menos, pois mais dia menos dia, esse ainda vai ter de dar o exemplo para um futuro novato. E assim o ciclo se completa e tudo começa outra vez.
Findado o carnaval, é hora de apertar ainda mais o nó. Não que este estivesse frouxo nas festividades desses cinco dias de folia, nem antes. Pelo contrário, sempre vigilante. Fato é: a cautela exige que verifiquemos, diuturnamente, se o espírito e as amarrações da armadura estão ajustados. Principalmente, após os períodos em que o foco é comemorar ou descansar.
Por esta mesma razão, ao resolver algo, ainda que pareça fácil, pense e aja como se fosse difícil. Se afogar ou perder mantimentos ao cruzar o rio pensando ser ele todo raso, não é uma opção. Somente a vitória.
O general Sasaki Takatsuna lidera as tropas do Shogun Yoritomo na travessia do rio Uji para derrotar o levante das forças de Minamoto no Yoshinaka.
A Batalha do Rio Uji, 1853. Pintura de Yoshitora.