Reportagem na Kendo Nippon
"O Espírito que enobrece os Brasileiros"
Tradução por Yuko Takeda de Arruda
Matéria da Revista KENDO NIPPON 01/2006 sobre o Instituto Niten
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Sensei Jorge Kishikawa e seu Método de Desenvolvimento de Potencial Humano através da Espada (Ken Nôryoku)
No Campeonato Mundial de 1988 realizado na Coréia o Sensei Jorge Kishikawa foi quem se tornou a principal força motriz a levar a equipe brasileira ao terceiro lugar.
O seu entusiasmo como “samurai” cresceu ainda mais e hoje em dia o seu conhecimento sobre “kobudô” (bushidô antigo) também é profundo. Ao mesmo tempo, no Brasil, sua terra natal, Kishikawa está desdobrando seus esforços para divulgar um novo método de desenvolvimento do potencial humano por meio do Kenjutsu. O caso-modelo do Brasil, de aplicar e aproveitar o “Kenjutsu” na sociedade nos traz muito a pensar.
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Pensar sobre o Espírito do Bushidô através dos Ensinamentos Severos do Pai
Muitos dos “kenshi" (praticantes de espada) do exterior praticam o kendô para tornar mais rica a sua vida. Cada vez mais está se tornando claro, inclusive através da série de reportagens sobre os dojo fora do Japão que a KendoNippon vem fazendo, que o objetivo maior destes DOJOS não reside em vencer nos torneios ou ser promovido e obter “Dan”s mais elevados. É no exterior (fora do Japão) que encontramos, esporadicamente, exemplos de colocação em prática do “kendô” que prega a formação humana. “Como o kendô deve ser vivido e aproveitado dentro da sociedade?” Para contemplar e reexaminar esse tema, pode até ser benéfico afastar-se um pouco do Japão
No Brasil, na América do Sul, encontramos mais um modelo desse caso.
O Instituto Niten (Instituto Niten de Pesquisa de Budô) cujo presidente é o Sensei Jorge Kishikawa (42), é um entidade fundada há 13 anos, em 1992. Chama-se “instituto”, que tem o papel de transmitir e mostrar aos brasileiros a espiritualidade do “budô” e sua utilidade no modo de viver de cada um, mas é parecido com o que no Japão é conhecido como dojo ou curso de kendô , onde se treina com “bogu” e “shinai”. O número de locais de treinamento (“keikojô”) tem crescido paulatinamente e hoje já conta com 32 unidades espalhadas por todo o Brasil, mais de 700 membros, tem boa popularidade e aparece na mídia com freqüência.
No Brasil, diferentemente do Japão, os ginásios de esporte das escolas não são aproveitados para o treinamento. Assim, os ginásios esportivos particulares de cidades são reservados por grupos ou entidades que praticam karatê, judô, etc. e o “kenjutsu” do Instituto Niten também está incluído na lista de reservas.
Deixando para depois o motivo pelo qual se usa o termo “kenjutsu”, em vez de “kendô”, vamos falar sobre o Sensei Kishikawa.
Muitos dos leitores devem-se lembrar dos Irmãos Kishikawa, que contribuíram para o notável desempenho da equipe brasileira (3º. Lugar) no Campeonato Mundial de 1988 realizado na Coréia. O capitão do time de então era o Sensei Jorge Kishikawa , irmão mais velho. Seu irmão mais novo, Sr. Roberto, encontra-se atualmente em Hong Kong. Ambos os irmãos ostentam o 7º. Dan de Kendô e fortes candidatos para o 8º. Dan. Os pais, que emigraram da província de Saga para o Brasil continuam firmes: O Sensei Jorge Kishikawa nasceu numa família com excelente tradição nas artes marciais: o pai com 7º. Dan de kendô, e a mãe, com 6º. Dan de kendô. Sensei Jorge Kishikawa nasceu e cresceu no Brasil, mas desde a tenra idade pegava no “shinai” e chegou a ser pentacampeão juvenil na categoria individual nos torneiros nacionais do Brasil. Depois de ter obtidos “dan”, de novo alcançou a proeza de se tornar pentacampeão brasileiro, de novo na categoria individual. Na época da realização do Campeonato Mundial, Sensei Kishikawa cursava o 5º ano da Faculdade de Medicina de São Paulo. Para poder formar-se devidamente, pensou em desistir da participação. Diante dessa situação, quem tomou a iniciativa de quebrar esse impasse foi seu pai, senhor Yoshiaki, conta Sensei Kishikawa. “Vá ao Campeonato em Seul. Vá também ao Japão e estude lá por um ano. Mesmo que atrase sua formatura por um ano, você estará ganhando um bem que vale por dez anos.” disse seu pai.
A mãe do Sensei Kishikawa era uma pessoa muito carinhosa, enquanto que o pai educava os filhos com muito rigor. Os filhos tinham de aguardar os pais terminarem suas refeições e só então iniciavam a comer. Deviam responder aos pais dizendo “HAI” (sim) em voz alta e clara. A partir dos 5 anos de idade, começou o costume de correr cerca de 1km dando volta perto de casa, todas as manhãs. Aos sete, matriculou-se na escola primária. Nas manhãs frias, chegou a perder a hora por ter dormido demais. Mesmo assim, o pai mandou dar a corrida matinal. Ao ouvir a reclamação de que iria chegar atrasado à escola, o pai teria respondido, aos gritos, o seguinte :
- O que mais importa em você é o seu espírito, e a sua força física! A escola e seus estudos não são primordiais. Reflita bem que o atraso ocorre por causa de você mesmo.
Agora, Sensei Kishikawa guarda e preza, com todo coração, os ensinamentos que recebeu do pai.
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60 tipos de “kamae”, Treino Real com Luta com Espada de Verdade (“shinken”)
Sensei Kishikawa nos explica o que ocasionou a fundação do Instituto Niten.
“Na Faculdade de Medicina, vi muitas pessoas sofrerem de estresse. Eu mesmo o sentia de vez em quando, mas como meio de aliviá-lo, eu tinha o “suburi” de “shinai” ou de “bokutô”. Observando meu método de relaxamento, o pessoal ao redor que sofria de estresse me perguntava o porquê daquilo e assim comecei a explicar que no Japão havia a cultura dos samurais, que colocavam em prática esse tipo de cultura na vida real. Provavelmente o pessoal achou uma forte espiritualidade nisso. Formou-se, assim, um círculo de pessoas interessadas na cultura japonesa e acabou por ocasionar a fundação do Instituto Niten. Com esse tipo de histórico, passei a aplicar o “Método de Desenvolvimento do Potencial Humano através da Espada”: o Método KIR.”
Ao descrever o desenvolvimento do potencial humano, Kishikawa revela a confiança na sua capacidade de poder contemplar as coisas da vida através do ponto de vista tanto de um japonês quanto de um brasileiro, além da experiência acumulada através da atuação como médico do exército e do esporte, o que lhe confere uma visão aguçada da vida e do mundo. Com tudo isto, com certeza, Kishikawa tinha potencialidades para ser consultor!
Além disso, em sua busca ao espírito do samurai (espírito do bushidô), Kishikawa deu prioridade ao estudo do “Kobudô” antes do “kendô". Para começar, desde criança, Kishikawa tinha forte interesse pelas origens. Segundo o que nos revelou, foi uma edição da revista KendoNippon que trazia uma reportagem especial sobre “koryû” (estilos antigos) que teria despertado o seu interesse. Aos 7 anos, pegou duas espadas para seu treino. Com o passar do tempo, aliado ao seu dom inato de busca e pesquisa, o “kobudô” passou a penetrar no âmago de Kishikawa.
Enquanto era solteiro, ia ao Japão anualmente para visitar as famílias fundadoras dos estilos de “kobudô”, tais como a escola Niten-Ichiryû na Província de Oita, Suiouryû em Shizuoka, Shindô-Musooryû (Jô) em Tóquio etc. No kendô moderno Kishikawa recebeu instruções do Mestre Kinji Baba, da Universidade Kokushikan, em sua Unidade Tsurukawa. Recentemente, suas idas ao Japão se tornaram uma vez a cada três anos, mas a regularidade é rigorosamente mantida. Recentemente, ficou no Japão por cerca de um mês e meio. Durante sua estada treinou junto aos mestres acima mencionados por cerca de uma semana cada. Além disso, estudou “kusari-gama” e “jitte”, bem como participou das cerimônias do chá e meditou num templo zen. Visitou Reigandô (Gruta de Reigan,local de reclusão de Musashi Sensei), na província de Kumamoto, Ganryû-jima (ilha de Ganryû local onde ocorreu o combate entre Musashi Sensei e Sasaki Kojiro) em Yamaguchi, para seguir os passos de Miyamoto Musashi. Ainda por cima, encontrou tempo para seminários empresariais. Foi, portanto, uma estada na qual Kishikawa saboreou profundamente a cultura japonesa. Kishikawa chama esse “musha-shugyô” (treinamento de samurai) de “reabastecimento da energia”, e comenta:
“ Esses grandes mestres têm energias maravilhosas. Gostaria de tornar-me uma ponte que transmite essas energias aos brasileiros. E isso só consigo tendo ensinamento direto desses mestres.”
É grande a confiança que os membros do Instituto depositam no Sensei Kishikawa. A vitalidade típica de Kishikawa certamente transforma-se em carisma que atrai seus alunos. Sensei Kishikawa transmite os “kata” (formas) que aprendeu e depois volta a se dedicar ao seu próprio aperfeiçoamento. E nesse momento é que se destaca a característica desse Instituto. Os “katás" são colocadas em prática com shinai e bogu. Esse treinamento (keiko) chamado de “combate real” (jissen) consiste em cada um, protegido com bogu, empunhar o shinai e colocar em prática o que aprendeu de “katá”, adotando um “kamae” e nos combates ( uchiai ). Não se trata de se movimentar conforme “katá”. É lutar (combater) livremente adotando os elementos essenciais do “katá”. No kendô moderno, o “kamae” (postura) costuma ser de “tchudan” e eventualmente usar “jodan” ou duas espadas (que não são bem aceitas). Aqui, no entanto, além dos 3 kamae citados, entram “gedan”, “waki-gamae”, “hasso”, “kodachi”, etc. etc., chegando a 60 kamae!
“Uchi”(golpe) em si também vem acompanhado de força. Não há relutância nem cerimônia nos movimentos de “kiru” (cortar) e “tsuku” (estocar). Evidentemente, os pontos a serem atacados são os mesmos quatro pontos do kendô moderno. No entanto, se o “kamae” for variado, as órbitas (trilhas) do shinai também podem variar. Pode inclusive gerar novos “waza” (golpes) como sacudir em “gyaku kesa” (“kesa-giri”=diagonal invertido) para atingir o “uchi-kote”. O fato de Kishikawa incentivar esse tipo de treino se deve a uma descoberta inesperada, que aumentou sua confiança. É muito interessante o seu depoimento.
“No “katá”, temos um “gokui”(segredo) ou um“rigô” (lógica). Certa vez, ao colocá-lo em prática num combate real, cheguei a compreender essa lógica. Se fosse apenas “katá” (forma), podia ter terminado numa coreografia, mas num combate real é que consegui descobrir o porquê disso. Foi uma grande revelação”
Trata-se de uma idéia que jamais nasceria num ambiente cheio de restrições e preceitos que proíbem isso ou aquilo. A meta a ser alcançada não é vitória, nem promoção do seu grau: é a formação humana. Embora apresente aspectos diferentes, a verdade é que o kendô moderno não pode ser classificado como positivo ou negativo somente em função dos caminhos percorridos até alcançar o topo.
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Basta ter Coragem e Sinceridade para poder viver
Nesse Instituto, o “kenjutsu”, o “iai” e o “jo” constituem os três pilares básicos. Além disso, os membros têm de apresentar um trabalho anual. Os temas são livres, podendo falar sobre “shodô” (caligrafia japonesa) ou abordar um filme japonês. Como se trata de trabalhos em forma de dissertação, basta escrever o que pensa.
“ Não se deve limitar a treinar, a estudar, a ler ou a ouvir. Tem de fazer tudo. Se não fizer tudo, não se consegue desenvolver seu potencial. E nesse momento, precisamos estar dotados de uma coisa, que é a coragem. No ocidente, não são poucas as pessoas consideradas como intelectuais que, por falta desse elemento coragem, fracassam na vida, mesmo depois de se formarem nas escolas. Por isso mesmo é que precisamos fazer o “keiko” (treinamento)”.
Para os brasileiros que querem conhecer e sentir a cultura japonesa, Kishikawa dá palestras. Recentemente, também tem aumentado o número de nipo-brasileiros que se matriculam no Instituto a fim de voltar a conhecer o Japão. As palestras que abordam temas variados parecem despertar o interesse dessas pessoas. Esse tipo de “kun-iku”(educação para formação humana de pessoas através de ensinamento moral e disciplina) era um dos pilares de sustentação da educação do Japão de outrora. Hoje em dia, tem-se a impressão de que está quase desaparecendo...
As palestras ocupam cerca de 40 minutos a uma hora antes de iniciar cada treinamento. O usual é ter a palestra seguida de treinamento que dura uma hora a uma hora e meia. O palestrante não se limita ao Sensei Kishikawa, mas os coordenadores de unidades também são capacitados a dar palestras.
“O mundo dos samurais pode ter sido de “fugen jikkô” (fazer o bem ou o que deve ser feito, sem muita fala), mas eu adoto o estilo “case-by-case” com relação a isso. Eu desempenho o papel de engenheiro do trânsito, pois conheço tanto o lado brasileiro quanto o lado japonês. Tenho de prezar o espírito do samurai ao mesmo tempo em que devo relevar as características próprias do povo brasileiro. Por isso mesmo, considero positivo rir e falar bastante. Ainda por cima, acho que devemos procurar expressar verbalmente com muita abertura. Quando dou treinamento (“keiko”) às crianças, às vezes oriento para elas aprenderem a falar em público. Gostaria que as crianças aprendessem a discursar diante de outros com maior desenvoltura. Incentivo a troca de abraços e aperto de mãos. Quando se realizam encontros e eventos, esse tipo de contato pode animar o ambiente. Na transmissão do espírito do samurai proveniente do Japão para o Brasil, o importante é ajustar bem para que ele possa ser aceito com facilidade pelos brasileiros.”
Falou-se em “encontros”. Até há 5 anos, a realização de “competição” ou “torneios” era teimosamente evitada, mas na forma de “encontro” começaram a ser feitos. O motivo era a falta de diversão para as crianças, pois a entrega de trabalhos não dava motivação. Os “encontros”, realizados duas vezes ao ano, adotam formas também peculiares. Como se referiu anteriormente, os critérios para validar golpes dependem dos danos causados ao adversário. Quando o “corte é eficiente”, recebe “ippon”, se faltar algo para o golpe perfeito, recebe um ponto de “kôka” (efeito). Obtendo-se duas vezes “kôka” ganha-se um ponto. A quadra de combate também é bem peculiar: dentro de um quadrado de 10m x 10m, está marcado um círculo. Se um lutador sair desse círculo, o adversário recebe “kôka”.
“Adoto o espírito de “sumô”, que condena o recuo. Antes avançar do que recuar é o lema. O meu desejo é que todos tenham a coragem, que tenham em mente que recuar significa a derrota, como acontece com a luta de sumô”, diz Kishikawa.
Nos seminários mensais, pode ocorrer a exibição de filmes como O Último Samurai ou Depois da Chuva, para trocar opiniões e impressões. É interessante especular sobre o conteúdo dessas discussões que pode ser consideravelmente sofisticado, uma vez que há referências freqüentes aos termos peculiares como “wabi” e “sabi”.
Existe um manual que é lido e recapitulado nos treinamentos. É a obra “Shin-Hagakure” do Sensei Kishikawa. É um livro com formato de bolso, escrito em português. Parece conter reflexões sobre os ensinamentos que ele tem recebido até os dias de hoje, assim como considerações edificantes que ele veio colhendo ao longo de suas experiências.
Nas primeiras páginas do livro encontra-se a seguinte missão do Instituto Niten:
“ Estudar sobre o Japão com alegria. Vamos nos ajudar uns aos outros e realizar com plenitude o “katsu-jin-ken” (a espada que vivifica o homem). É isso a missão do Instituto Niten”.
Ao folhear as primeiras páginas, encontramos 7 itens marcados, com seguinte teor (As notas entre parênteses são do editor desta revista):
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• Responder “hai” em voz alta.
• (Na vida,) treinamento em primeiro lugar.
• Contabilidade em segundo lugar. (Não se deve tentar fazer o impossível, dedicando-se exclusivamente ao treinamento. Explica que sai muito caro ir do Brasil ao Japão onde tudo é caro. E sugere que deve-se organizar bem a contabilidade para o sustento).
• Coragem e sinceridade são suficientes. (Adquirir conhecimentos através de estudos nem sempre coincide com os meios de vida, mas se tiver coragem e sinceridade, pode-se viver).
• Bushidô não é democracia. (O brasileiro gosta da palavra democracia. Diferentemente do ambiente educacional do Japão, não existe a noção de “senpai” (os veteranos) e “koohai” (os novatos). Se mandar alguém limpar a sala, responde reclamando por que ele, e não outro, tem de executar essa tarefa. Usou essa expressão um pouco exagerada, a fim de eliminar esse tipo de atitude.)
• Perdoar os mais fracos. Acreditar nos mais fortes.
• Existirá sempre uma força maior que a sua. (Como médico, Kishikawa encontrou um doente terminal de câncer e não duvidou que houvesse mais de 3 meses de sobrevida. Entretanto, Kishikawa deparou com o fato de que hoje, 10 anos depois, esse doente continua vivendo. Kishikawa diz que existe um ponto que a força humana não alcança, como esse caso que, segundo o ponto de vista da medicina, não há como esse doente estar vivendo. Por isso, ensina que devemos respeitar essa força. Que devemos ser humildes.)
A publicação do “Shin-Hagakure” tem também o seguinte significado.
“ É preciso que haja união ( coesão ) entre as 32 unidades. Se em uma unidade na Região Norte aparecer alguém manifestando a visão própria, enquanto outro na Região Sul pregar outra visão, perde-se o direcionamento. Por isso mesmo estabeleci um manual de orientação de ensinamentos e em todas as preleções iniciais procuro apresentar a visão geral dos itens unificadores importantes.”
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Na recente estada do Sensei Kishikawa no Japão, veio acompanhado de seu discípulo Wenzel Bohm, 31, coordenador da Unidade Rio de Janeiro e seu braço direito. Além de coordenador, Böhm é designer artístico e deixou a seguinte mensagem aos japoneses:
“ Os brasileiros que frequentam o dojo adquirem primeiramente vigor físico. Mais que isso é gratificante observar que, passados 3 ou 4 meses, os alunos mudam também de fisionomia e de atitude perante as pessoas, situações, coisas. Os brasileiros sentem que falta algo no aspecto mental do treinamento puramente físico. O “bushidô” preenche muito bem esse espaço. Ao estudar e aprender com o "bushidô", os brasileiros estão encontrando uma maneira de viver renovada. Agradecemos ao Japão e aos que criaram o espírito do "bushidô" por isso.”
O depoimento de Bohm nos transmite como os brasileiros podem renovar sua mentalidade. É importante ainda acrescentar que, embora Sensei Kishikawa dê uma importância maior ao “kenjutsu” , não significa que ele tenha rompido o intercâmbio com o “kendô”. Kishikawa tem o sentimento e intenção de “trabalhar juntos, em harmonia”. Nos treinamentos de kenjutsu já contou inclusive com um grupo de kendocas do Peru, bem como de estudantes do Japão e da Coréia. Há a manifestação desses visitantes de também querer fazer combate com “kamae” variados. Kishikawa pretende atender esses desejos e manter intercâmbio. Obviamente, pode-se imaginar que haja muitos amantes do “kendô” no Brasil que não gostem desse tipo de atitude, mas Kishikawa deseja inclusive ter contato com essas pessoas.
“Nossas portas estão sempre abertas para todos “ declara Kishikawa com muita firmeza em sua voz.
Depois de ter ouvido o depoimento do Sensei Kishikawa por longo tempo, até comecei a me preocupar um pouco: será que os discípulos do Sensei Jorge Kishikawa, ao visitarem o Japão, poderão encontrar os samurais de verdade?