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Foi-se a semana de São João, festividade muito importante para a população aqui do nordeste. Muitos festejam, outros trabalham, alguns movem montanhas em prol de sua fé ou de sua diversão. Eu segui conselhos. Fui à luta, em busca de renovação, paz interior e treino. Planejei cuidadosamente, negociei com meu chefe e minha equipe os detalhes de minha ausência. Foi no mínimo intrigante, pois cada elemento parecia conspirar a favor, como sinais, de que o rumo estava certo.
O quê e como seria era incerto, porém meu espírito estava sereno, mas em alerta e pronto para enfrentar seja o que for. Sou biólogo, mas por fatores de necessidade maior, que envolvem uma complexa ideologia de gratidão e lealdade a família, hoje trabalho na área comercial e decidi que tinha que renovar! Retomar, ir em frente e me aperfeiçoar no que realmente gosto, sem comprometer minha atual função e responsabilidades. Compreendi que mesmo fazendo o que julgamos correto e necessário em dado momento, é possível entrarmos numa zona de conforto ao achar que isso ou aquilo é o suficiente.
Sou especializado em animais peçonhentos e coleções zoológicas, mas decidi fazer uma espécie de “shugyo” na minha área de formação. Pesquisei e achei no interior de Sergipe o Parque dos Falcões, referência mundial em manejo conservacionista de aves de rapina. Foi lá, num pedacinho de paraíso, junto à natureza e em regime de aprendizado dia e noite que eu tive um despertar. Não foram revelações ou algo místico. Foi a suma certeza de que o modo de vida que escolhi já começara a dar frutos. A filosofia e o treinamento diário transformaram mais que apenas minha técnica com a espada. Todo o stress, nervosismo e ansiedade gerados pela vida corrida e o ego, que afetavam não só a mim, mas às pessoas ao meu redor foram suprimidos, arrancados como na manutenção de um belo jardim, na qual não há espaço para ervas daninhas. Hoje em seu lugar cultivo a concentração, calma, atenção e principalmente a alegria para fazer tudo da forma mais certa possível.
Compreender é muito mais profundo que apenas entender e sem dúvida toda a bagagem Histórica, Filosófica e o Valor que estimo tanto pelo Sensei quanto pelo Instituto Niten e meus colegas de treino, me ajudaram na compreensão de muitas coisas, mas talvez uma em especial; nós somos nossos maiores inimigos e estar em constante combate nos ajuda a conhecer-nos melhor, revelando nossas fraquezas e habilidades, daí cabe a nós escolhermos como vamos honrar a tudo isso que nos é revelado. Essa gratidão carrego firme em meu espírito e os expresso com a força do meu Kiai e com a firmeza da minha palavra.
Minha nova experiência foi aos pés da Serra de Itabaiana entre os seus 6 - 8°C logo ao despertar preguiçoso do sol por volta das 5hs, muito orvalho sobre as plantas, o barulho do riacho e dos animais anunciando mais uma aurora e uma neblina que a muito não tinha o prazer de contemplar tornavam o “Mokuso” um momento à parte de serenidade. Era nesse momento que eu imergia no treinamento do nosso Caminho. Exercitava a técnica logo cedo, com kimono e hakama. De fato estava frio, mas logo o sangue esquentava. Sempre haverão adversidades e obstáculos no Caminho e na vida, mas o nosso treinamento nos preparar para enfrentar e não fraquejar diante deles. Este era o meu momento para treinar. Foram sete dias de magia sobre a técnica, pois pude praticar em plena harmonia com a natureza, mente e corpo unidos. Posso dizer que causei muito impacto, pois quando o pessoal que trabalha no parque foi se levantando e chegando, por volta das 6hs e viram segundo eles “um troço ali esquisito” ou “é cada um que aparece por aqui”, seguido de muita curiosidade e risadas durante nossas refeições. Foi uma atração a parte. O importante era que todos nós vivenciamos a renovação, tudo era novo para mim e para eles. A troca de experiências de forma sincera fez com que, na busca por renovação, aprendizado e paz, também conquistei novos e bons amigos.
Manejar as aves usando as técnicas desenvolvidas lá no parque dos falcões me ajudaram a reequilibrar as coisas e acalmar meu espírito. Posso dizer que foi muito mais que simplesmente aprender. Foi vivenciar. Ver e fazer. O instrutor e fundador do instituto me chamou muito a atenção por sua personalidade, pois logo quando cheguei ele foi dizendo: “...peço desculpas por ter dificuldade de me expressar, mas se você veio disposto a aprender isso não será problema, porque aqui você vai ter que ver, ouvir e fazer, certo ...” seguido de um grande sorriso amistoso e um abraço forte. De fato não tive nenhum problema, pois nosso Caminho é exatamente esse; ver, ouvir, Hai e fazer. Hoje posso dizer que as aves de rapina são os samurais dos ares, mas isso eu explicarei em outro momento.
Domo arigatô gozaimashitá ao Sensei por me ajudar a me tornar um ser humano melhor– Ken Nôryoku
Domo arigatô gozaimashitá aos Sempais que ajudam diretamente o Sensei junto ao Instituto
Domo arigatô gozaimashitá ao Sempai Édio por sua sinceridade e exemplo de conduta
Domo arigatô gozaimashitá aos meus colegas de treino, por me propiciarem meu aprimoramento
Larissa - SalvadorIgor! Maravilha compartilhar essa renovação aqui! Relatos, fotos, desenhos, poemas, SENTIR, vídeos... inspira ação para quem não esteve lá, num momento que foi importante para cada um renovar sua Vontade.