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Relatos dos alunos




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    Um novo olhar sobre o mesmo mundo

    por Simonassi - 10-nov-2009

    "Fomos todos iniciantes novamente. Manter sempre o espírito do aprendiz - a frase voltou claramente a minha mente várias vezes ao longo deste sábado de descobertas..."

    No último sábado despertei bem cedo para receber o senpai Vaz, aqui em Vitória. Vesti o kimono e hakamá, peguei os equipamentos e parti para a rodoviária.

    Francisco
    Simonassi

    Coordenador do
    Niten Vitória

    Ao chegar (isso sempre me surpreende) lá estava o senpai, sorrindo aguardando de pé junto ao portão. Digo que me surpreende pois só quem faz o trajeto de ônibus madrugada a dentro sabe que mesmo quando "dormimos" não é um sonho tranquilo, é cansativo, tenso.
    E com todo cansaço lá estava ele sorridente como se a viagem não tivesse durado mais que alguns minutos.
    De lá seguimos para a praia de Camburi. Onde treinamos na comemoração do Dia do Samurai. É um lugar de beleza e de uma energia incrível, ao chegar, tive uma sensação que naquele momento não saberia explicar.
    Lá começamos o dia com o Iaijutsu. O sensei disse recentemente, ao falar da modalidade Kobudo, sobre a experiência de treinar em lugares (como a areia da praia) onde samurais travavam batalhas reais. O sol estava brilhando, o mar calmo com uma brisa suave.
    Senpai Vaz começou o treino observando a execução dos Katas. durante um tempo apenas observou e então começou a aparar as arestas. Mais uma vez me surpreendi com ele. De forma direta com exemplos simples ele começou a mostrar os pontos que precisavam ser melhorados. Quando executava o corte, ficava visível a diferença que existe entre nós e os mais graduados. Eles fazem tudo parecer tão simples - pensei. Este treino não levou a exaustão, muito pelo contrário, pareceu recarregar as baterias para o treino de logo mais. ao fazermos o torei, e nos despedirmos da praia, senti de novo aquela sensação, só aí compreendi o que era: Emoção de um aprendiz, aquela que sentimos no primeiro treino, quando tudo o que vemos é novo, inédito para nós.
    Com esta sensação fomos para o Dojo Vitória e começamos o treino de Kenjutsu - Arthur - um dos alunos mais aplicados de Vitória já estava aguardando, já havia limpado o Dojo e desceu rapidamente para buscar os equipamentos. alguns minutos depois, Netto, outro dos alunos juntou-se a nós e o treino começou. Muito Kiai, energia, golpes sucessivos sem paradas pra tomar fôlego. Esta explosão, fez com que chegássemos naquele ponto onde a força física já não existe mais, somente a energia de cada um. O momento ideal para começar a aprender. Os Katas do Niten Ichi Ryu, começaram a ser executados sob a observação cuidadosa do senpai Vaz. Que repetiu o procedimento que havia feito antes: Observou com atenção para só então intervir fazendo correções dando exemplos, corrigindo a postura. Utilizando os espelhos para mostrar a cada um onde seus defeitos estavam aparecendo.
    Cada um de nós teve uma descoberta nova naquele sábado. Ao olharmos para o treino em si. Os exercícios praticados, os Katas, todos eles eram conhecidos por nós. Porém o senpai conseguiu fazer com que cada um tivesse uma nova visão sobre algo que julgávamos conhecer.

    Fomos todos iniciantes novamente. Manter sempre o espírito do aprendiz - a frase voltou claramente a minha mente várias vezes ao longo deste sábado de descobertas.

    Arigatô gozaimassu Sensei, por nos proporcionar momentos como este;
    Arigatô gozaimassu Senpai Vaz por nos mostrar como ter sempre um novo plhar sobre o nosso mundo.
    Arigatô aos senpais que trabalham sem cessar pelo sucesso do Niten!


    Francisco Simonassi Neto
    Instituto Niten Vitória-ES.

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    Azuizinhos

    por Israel Carbone - 06-jun-2009

    “Quando a aula acabou, me lembro que estava muito feliz e percebi que aquilo seria essencial para mim, ainda mais em ano de vestibular. Saí de lá com o espírito um pouco mais forte.”


    Israel Carbone
    Conheci o Niten pesquisando sobre Bushido na Internet. Na época nada pude fazer a respeito, pois eu tinha por volta de 13 anos de idade e as unidades eram muito longe de casa. Meus pais não deixaram eu praticar por causa da distância e da violência na cidade, fatores que pesaram muito na decisão deles. Sendo assim, "esperei" ficar mais velho. Aos 18 anos, estava em nossa casa de férias em Araras, Petrópolis, quando decidi que deveria voltar a tocar no mesmo assunto de anos atrás.

    Peguei o ônibus de Petrópolis para o Rio e fui assistir a uma aula na unidade de Botafogo. Levei meu amigo Raphael junto comigo, afinal nós dois sempre lemos e pesquisamos muito sobre Bushido. Um detalhe importante era que o Raphael estudava na mesma sala de um dos sempais (sempai Marcos Menezes). Quando chegamos ao local, estava havendo um workshop sobre o filme “O Último Samurai”. Chegada a hora do treino, falamos com Marcos e nos sentamos para assistí-lo.

    Sempre me lembro de quando fui sentar para assistir e um dos "azuizinhos" veio em minha direção e me chamou para fazer uma aula. No início fiquei um pouco assustado com todos aqueles kiais, com a postura de todos no dojo, com a seriedade. Senti um espírito muito forte, uma força muito grande. Já havia feito outras artes marciais, mas não senti essa força em nenhuma delas. Era uma sensação estranha, dava medo, mas ao mesmo tempo me sentia atraído por tudo aquilo.

    Fiz o treino e gostei muito, até ganhei um torneio virtual para principiantes. Quando a aula acabou, me lembro que estava muito feliz e percebi que aquilo seria essencial para mim, ainda mais em ano de vestibular. Saí de lá com o espírito um pouco mais forte. Não sei se isso acontece com todos, mas parece que ao querer fazer uma aula, mesmo sendo experimental, surge uma barreira na sua frente.

    Bem, se não fosse pelo empurrão daquele "azulzinho" que veio me chamar pra fazer o treino, acho que hoje eu não estaria no Niten.

    Tags: Relatos,

    Cinco anos e cinco dias

    por Donegá - 10-abr-2008

    "Quantas vitórias. Só vitórias. Sempre vence aquele que aprende algo com a derrota."


    Ricardo Donegá
    Hoje é dia dez de abril de 2008
    Há cinco anos e cinco dias eu havia decidido dar um passo importante em minha vida, mas não sabia disso.

    Era sábado e eu havia acordado ás sete horas, pois teria que chegar pelo menos com meia hora de antecedência no workshop de Kenjutsu, promovido pelo Instituto Cultural Niten em Ribeirão Preto.

    Muitas coisas passavam pela minha cabeça. Eu acabara de me formar e ingressar no mestrado. Foram tempos difíceis. Tinha vindo de o que poderíamos chamar de um “insucesso profissional” e estava recomeçando; recém contratado na Unaerp como professor e com um projeto de consultoria correndo paralelo, para reforçar minha renda e tentar me posicionar profissionalmente. Eu sempre quis ser professor e tinha abandonado esse sonho há muito tempo.

    Enfim, cheguei meio acanhado e vi umas pessoas reunidas em frente á academia. Estavam animados e bem alegres. A academia não estava aberta ainda – isso era um problema do local, sempre a recepcionista atrasava ou chegava em cima da hora, fato que nos fez sair de lá alguns meses depois; afinal, horário tem que ser cumprido. Confesso que quando me aproximei, passei pelo grupo sem parar. Medo. Ansiedade. Dúvida. Não sei realmente o que ocorreu. Já havia entrado em contato com o Niten por e-mail fazia mais de um ano, em 2001 ou 2002 eu acho. Já tinha visto o Sensei na revista Kiai divulgando o que viria a ser conhecido como o método KIR. Tanta vontade e a oportunidade finalmente havia se apresentado. Mas quantas lutas eu já tinha feito? Jiu Jitsu, Karate, Capoeira, Boxe e nunca me encontrei. Nem como guerreiro, nem como filósofo ou como pessoa. Respirar fundo. Buscar o foco.

    - Bom dia Sensei, meu nome é Donegá!
    - Ohayo Gozaimassu Donegá, seja muito bem vindo! Sou o sempai Mauro!
    - Sempai?
    - Hai! Sensei só temos o Sensei! Rsrs

    Assim entrei para o Niten. Há cinco anos e cinco dias.
    Tudo, absolutamente tudo na minha vida mudou.
    Empenho, disciplina, foco, objetividade, educação. Não que eu não os tivesse. Mas o direcionamento, a lapidação, o incentivo recebido foram cruciais na minha formação pessoal e profissional.
    Foi sacrificado. O que eu ganhava mal dava pra me manter basicamente. E com 29 anos seria complicado pedir pro meu pai pagar. Mas pensei: deixarei de fazer algumas coisas e vou investir no meu aperfeiçoamento. Se preciso for, andaria a pé para economizar. E foi o que fiz. Resultado? Só cresci e ascendi. Crescimento pessoal gera o crescimento profissional, e a conseqüência é a melhoria financeira.
    Aprendi que quem quer treinar, treina. Não há desculpa. Não há empecilho. Não há dor. Não há fome ou sono.
    Houve dias de dúvida? Claro.
    Houve dias de tempestades? Terríveis que castigam a alma.
    Houve ervas daninhas? Qual o jardim Zen que uma vez sem o cultivo adequando não cria ervas daninhas?
    Sou humano. O ser humano que não sente, deixa de ser humano. O ser humano que não pensa, deixa de ser humano.
    Mas sentimentos e pensamentos vêm e vão. Nossa essência permanece.
    E a essência é que segue em frente.
    Cinco anos e cinco dias.
    Quantas pessoas maravilhosas conheci.
    Quantos torneios.
    Quantos eventos.
    Quantas lutas.
    Quantas vitórias. Só vitórias. Sempre vence aquele que aprende algo com a derrota.
    Quantas broncas dos Sempais.
    Quantas shinaizadas do Sensei.
    Quantas risadas.
    Cinco anos e cinco dias.
    Muitos desafios foram superados. O ciclo de dificuldades, de altos e baixos sempre acontece no caminho de nossa evolução.
    Mas aprendi a esperar o momento certo para aplicar o golpe.
    Colocar as energias como num duelo de vida ou morte.
    Hoje posso dizer que me vejo sem dar aulas.
    Hoje posso dizer que me vejo sem minha empresa de consultoria.
    Mas não consigo me desviar do caminho da espada.

    Domo Arigato Gozaimashitá ao Sensei.
    Domo Arigato Gozaimashitá aos Sempais.
    Domo Arigato Gozaimashitá aa toda família Niten.
    Donegá. Primeiro Aluno da Unidade Ribeirão Preto.


    Primeiro treino em Ribeirão - 5 de abril de 2003

    Tags: Relatos,
    comentários   1 de 1

    Paulo Walraven - Fortaleza hai sempai Donegá, vejo sua trajetória um pouco parecida com a minha, muitas dúvidas, treinos em outras artes marciais sem nunca me encontrar realmente como pessoa, guerreiro... e como você, há anos mantenho contato com o Niten, sem começar a treinar. Mas (Continua)

    Diário de um Shugyo

    por Carlo Corvello - 01-mar-2008

    Os primeiros dias de um shugyo.

    Comecei a fazer este shugyo no dia três de janeiro. Na noite anterior ao fatídico dia, assisti ao filme "Tropa de Elite", que narra o dia a dia de policiais das forças especiais cariocas, em especial, o treinamento deles. Não consegui dormir naquela noite; na primeira noite de shugyo; e nem na segunda, cada vez que caía no sono acordava dando um men ( um soco no teto ou na parede, na verdade).

    Porém, apesar da insônia, assim como o número cada vez menor de aspirantes que seguiam no curso ao longo do filme, pareço estar cada vez mais adaptado, menos cansado e mais disposto, e tudo isso sem ter que tomar tiro de bandido, nem comer no chão. Agora minha atenção está dirigida em não ser o 01 (o primeiro a pedir pra sair!?) e ficar firme até o final.


    "Ou você se omite;
    ou se corrompe;
    ou então vai pra guerra!"

    Capitão Nascimento personagem interpretado por Wagner Moura em
    Tropa de Elite.


    Naginata: foco na estratégia


    Na charutada da última sexta-feira o Sensei divulgou uma notícia bombástica: ele irá colocar bogu e lutar em todos os treinos de kenjutsu em que for este ano. Dito e feito: sábado, lá estava o Sensei de bogu e naginata. Volta e meia o Sensei ia perseguindo sua víti... isto é oponente pelo dojo. Alguns praticamente percorriam a quadra de fora a fora de costas, o Sensei não recuava um milímetro, outros, menos afortunados, eram imediatamente encurralados contra uma parede. Eu fui o último a lutar, minha tachi contra a naginata do Sensei. Se chegar perto do Sensei vale-se ippon, acho que eu teria conseguido um yuko. O imenso maai da naginata parecia impenetrável para a espada.

    Segunda-feira lutei com o Sensei de novo. Se dizem que não se deve cutucar onça com vara curta, o mesmo deve valer para a luta. Sendo assim, mudei minha estratégia: agora seria naginata contra naginata. O resultado? Não diria que adiantou muita coisa contra o Sensei. Continuei apanhando, e bastante! Mas pelo menos a recompensa é grande: estou aprendendo a usar a naginata diretamente com o Sensei.

    Arigatô gozaimashita Sensei!


    Tags: Shugyo, Relatos,

    Ona Musha

    por Menegheti - 04-out-2007

    O heroísmo não é uma qualidade exclusiva do homem na cultura japonesa. As lendas e até mesmo a história do Japão, revelaram muitas heroínas. Pode-se duvidar da veracidade dos fatos na integra, mas não se pode duvidar do seu heroísmo.Um grande exemplo é a mulher de Yamato Takeru, que se portou como uma heroína ao lado de seu marido. Ela se chamava Ototachibana, acompanhou o marido na maior parte das expedições e, finalmente, entregou-se à mercê dos deuses do mar a fim de parar a tempestade que ameaçava o navio dele.


    Maria Fernanda Menegheti

    Sete dias mais tarde, encontrou-se o pente de Ototachibana na praia. Yamato Takeru mandou que se fizesse um túmulo para o pente. No regresso para a região ocidental de Honshu, lamentou-se dizendo: "Adzuma wa ya", que significa "Que pena, minha esposa". Assim a região oriental de Honshu ficou conhecida pelo nome de Adzuma.

    A filha de Kiyomon, a mãe do imperador-menino Antoku, também preferiu, durante a batalha de Dannoura (a batalha final que deu ao clan Minamoto o primeiro shogunato no Japão), atirar-se ao mar com o filho nos braços do que deixá-lo cair nas mãos dos Minamotos.

    Outra heroína, Kesa Gozen, viveu durante o século XII, era nova, bonita e casada. Vivia na casa da mãe com o marido. Numa ocasião o primo de Kesa Gozen, com pouco menos de vinte anos, apaixonou-se violentamente por ela. Kesa Gozen repeliu as tentativas do rapaz e continuou fiel ao marido, cujos deveres o levaram frequentemente a ausentar-se de casa. O jovem ainda tentou ganhar os favores de Kesa Gozen através da mãe dela, ameaçando a vida da velha senhora.

    Kesa Gozen temia tanto pela segurança da mãe que se decidiu a prometer ao primo que dormiria com ele, mas só se o marido morresse nas mãos do rapaz. Na noite em que se supunha que ele regressava, Kesa Gozen deitou-se no lugar do marido. O rapaz esgueirou-se para dentro do quarto, mas a mulher não se mexeu. Sabia exatamente o que a esperava. O primo apunhalou-a e pela sua morte, ela salvou a mãe, o marido e a própria honra. O jovem primo ficou tão horrorizado com o que tinha feito que desistiu de todos os prazeres humanos e entrou para um mosteiro. Esta vida assentou-lhe bem, pois morreu santo, conhecido como Mongaku Shonin

    Mas para mim a melhor guerreira de todos os tempos no Japão feudal foi Tomoe Gozen

    No Japão feudal no 12º século, a sociedade do samurai estava em seu apogeu. Embora sociedade samurai fosse dominada por homens, foram treinadas algumas mulheres nos clãs em artes marciais, Tomoe Gozen era a esposa de Minamoto Yoshinaka, um samurai em guerra com Minamoto Yoshitsune.
    Na Heike Monogatari , Tomoe Gozen aparece como uma general das tropas de Kiso Yoshinaka, primeira força de ataque de Yoritomo. Ela era descrita da seguinte maneira:
    Tomoe era especialmente bonita, com pele branca, cabelos longos e feições charmosas. Era também uma arqueira admirável, e como espadachim era valiosa, preparada para confrontar um demônio ou um deus, montada ou a pé. Ela agüentava estar a cavalo continuamente com excelente habilidade; ela cavalgava ilesa por descidas arriscadas. Quando uma batalha era iminente, Yoshinaka a enviava como primeiro capitão, equipada com uma forte armadura, uma longa espada e com um imponente arco e flecha; e realizou mais feitos valorosos do que qualquer guerreiro dele.

    Ao lutar no Rio Uji, ela o apoiou na derradeira batalha. Quando era óbvio que eles seriam derrotados, Yoshinaka e seus poucos guerreiros restantes, fizeram um ataque desesperado contra os samurais de Yoshitsune. Tomoe Gozen teimou em permanecer para enfrentar derrota com seu marido, gritava a plenos pulmões, "eu quero lutar a última batalha gloriosa a seu lado mesmo a custa de minha vida." Os registros de Heike Monogatori dizem que, mesmo ela diante de um exército poderoso, se arremessou como um raio, lutando como um furacão ela enfrentava praticamente sozinha o exército inimigo. Ela falou para o marido que ira atrasar o inimigo o tempo suficiente para ele cometer seppuku, ritual de suicídio na derrota, mas ele foi golpeado por uma flecha antes de conseguir se matar. O destino de Tomoe Gozen depois que a batalha não é conhecida. Existem lendas que dizem que ela foi morta e outras que afirmam que ela sobreviveu e se tornou uma monja budista. Existe também a lenda que conta que ela foi capturada por Wada Yoshimori como prisioneira e teve u filho chamado Asahina, considerado o mais forte guerreiro do final da era Kamakura., mas a lenda de que mais gosto é que após ela ter avançado sobre as forças inimigas e, se atirando sobre o mais forte guerreiro deles, desmontou, prendeu e decapitou-o, encontrou seu marido morto, cortou-lhe a cabeça subiu em seu cavalo e galopou em direção ao mar, para que seu marido morresse com honra.
    A existência de Tomoe nunca pode ser comprovada historicamente. Diversos estilos de Naginata atribuem sua criação a ela, apesar de não haver como comprová-lo. Soma-se a isto o fato de Tomoe ser de uma época anterior ao inicio dos estilos formalizados, originados a partir do século XIII.

    Outra mulher muito famosa é Hangaku Gozen, filha de uma família da província de Echigo. Era famosa pela técnica apurada em arco e flecha. Em 1201, após o governo feudal tentar subjugar um de seus sobrinhos, os guerreiros de Echigo e Shinano se revoltaram. Sitiada no castelo de Tossaka, ela atirou um inimigo do telhado de um armazém. Após ter sido atingida em ambas as pernas por flechas e lanças, ela foi tomada prisioneira e oferecida ao Shogun Yoriie. Atraído pela beleza e dignidade dela, Yoshito Asari do Kai Genji a cortejou e se casaram. A história não conta se essa união foi forçada ou não. De acordo com uma descrição, ela foi morta quando auxiliava na defesa do castelo Torizakayama.
    Assim, ao menos nos períodos como Heian e Kamakura, as mulheres que se tornaram proeminentes e até presentes nos campos de batalha foram mais exceções do que uma regra. Isso não indica, no entanto, que as outras mulheres eram menos poderosas. Existe uma imagem comum da feminilidade japonesa baseada nas descrições que se tem da corte imperial, preocupada com poesia, sob costumes rigorosos. Porém essa imagem obscurece que foram as onna-bushi na ascendência de suas classes. Elas foram originalmente pioneiras, ajudando na conquistas de novas terras e lutando se necessário. Alguns clãs foram inclusive liderados por mulheres. Isso pode ser concluído pelo direito legal dado a mulheres de possuir função de jito, cargo que supervisionava terras mantidas in absentia por nobres e templos.
    As mulheres guerreiras eram treinadas, em sua maioria, com naginata devido à versatilidade dessa arma contra todos os tipos de inimigos e armas. Em geral era mais de responsabilidade da mulher a proteção da casa do que ir para batalhas, portanto, era importante que ela possuísse habilidades com algumas armas que oferecessem um leque de técnicas de defesa contra saqueadores a cavalos. Além do mais, parece apropriado para mulheres a preferência na utilização de arco e flechas para distâncias longas e armas longas para confronto a curta distância quando o inimigo estava a cavalo.
    A partir do décimo século no Japão não se pode dizer este país teve paz, mas em 1476, o país sucumbiu ao caos no que ficou conhecido como Sengoku Jidai (período dos Estados de Guerra). Foi uma época em que todas as classes sociais foram levadas a guerrear. Os domínios feudais acabavam por requisitar todos os homens saudáveis, que se apelidavam nobushi - mercenários que, ou se destacavam no exército ou eram massacrados nos campos de batalha. Como resultado dessa luta desenfreada, as mulheres eram o que praticamente restava para a defesa de cidades e castelos.
    Nesse período muitos foram os relatos de esposas de lordes de guerra, vestidas em armaduras, liderando bandos de mulheres armadas com naginata. Em uma das descrições no Bichi Hyoranki, por exemplo, a esposa de Mimura Kotoku, atemorizada pelo suicídio em massa de mulheres e crianças sobreviventes sitiadas no castelo de seu marido, armou-se e liderou uma tropa de oitenta e três soldados contra o inimigo circungirando sua naginata com força e destreza. Ela desafiou um general montado, Ura Hyobu, mas este se recusou a lutar, alegando que a mulher estava a pé como oponentes a verdadeiros guerreiros. Ele saiu em retaguarda em covardia dizendo que ela seria um demônio. Ela recusou se retirar, mas quando os soldados a atacaram, ela escapou e voltou a seu castelo.
    Foi provavelmente nesse período em que as mulheres que lutavam com naginata emergiram. Entretanto, como Yazama Isao, décima sexta geração de dirigente do Toda-ha Buko-ryu, escreveu em 1916, a arma que as mulheres mais utilizavam nesses tempos horríveis não era a naginata, mas a kaiken, que a bushi carregava todo o tempo. Não era esperado de uma mulher que lutasse com sua adaga. Ao invés disso, era requerido dela o suicídio na maneira tradicional feminina, conhecida como jigai, cuja morte era relativamente rápida e não ofendia a dignidade da mulher. A adaga era usada para cortar a jugular.
    A mulher não treinou utilizar a adaga com técnicas sofisticadas de combate. Caso fosse forçada a lutar, ela deveria segurar a adaga com as duas mãos na altura do estômago e correr contra o inimigo com toda sua força, transformando-se numa lança viva. Supostamente, ela não deveria desafiar o inimigo, ela deveria achar um meio de pegá-lo desprevenido. Caso ela fosse capturada viva, mesmo após matar inúmeros inimigos, ela seria estuprada, disposta como prisioneira e desonrada. Assim, a única saída para evitar que seu nome caísse em desgraça era se matar com as próprias mãos.
    Uma conclusão mais sua, de preferência que remeta ao treinamento de hoje, no niten.
    Diante de tantas mulheres que lutaram, mesmo que fosse para defender ao menos um pedacinho de chão em que viviam, podemos nos inspirar em suas “histórias” ou “Lendas”.
    Nos dias de hoje, assistimos a filmes, em sua grande maioria de kung fu, com a participação das mulheres, filmes como kill bill, inspiraram muitas à pratica de artes marciais inclusive aos dos antigos samurais, podemos também observar mulheres, nas artes de combate, com ou sem armas, em demonstrações pelo mundo todo e até mesmo em campeonatos.
    Podemos tirar algum proveito disso? É claro, hoje em dia a mulher tem espaço nas artes marciais, inclusive nas artes samurais, que antigamente era exclusividade dos homens. Na sociedade atual as mulheres tem uma liberdade maior de pensamento e ação que jamais tivemos, porém é errado pensar que as mulheres podem ultrapassar os homens, mas podem sim, igualar diferenças.
    Como diria o Sensei “nasci no momento certo e no lugar certo”, pois se tivesse nascido em outra época e em outro lugar talvez não pudesse praticar artes marciais.
    Há muito tempo queria voltar a praticar algum tipo de arte marcial, já havia feito judô na adolescência e descobri o kenjutsu e logo me apaixonei.
    Não é fácil deixar a família, o trabalho e os problemas para traz e ir treinar toda semana, mas mesmo assim estou lá, firme e forte, pronta pra o combate, não há adversário que eu não encare, mesmo estando com medo. Vocês devem estar perguntando: “Medo? Porque medo se encara qualquer um?” Medo sim, imagine encarar um sempai, diga-se de passagem é um dos melhores, que é maior do que eu, mais forte do que eu, não acertar nenhum golpe e terminar a luta somente cansada e continuar em pé, só enfrentado o medo mesmo, e só assim vou conseguir conquistar a coragem.
    Quantas mulheres assim como eu advogadas, outras médicas, veterinárias, designers, estudantes etc, deixam seus lares e empregos para irem treinar, ter o seu momento de combate, quantas enfrentam seu medo, mas todas com o mesmo objetivo estarem prontas para a guerra, já que a vida é uma guerra não é um mar de rosas.
    Aprender os katas do bushido também não é nada fácil, estar acostuma a viver de um jeito e de repente ter que mudar certas peculiaridades do cotidiano.

    A grande maioria das pessoas que procuraram o niten desde que entrei aqui, não só as mulheres, dizem que estão procurando disciplina até eu estava, mas encontrei muito mais que isso. Encontrei amigos, mentores que me ajudam a trilhar o caminho da espada, encontrei a coragem que precisava para enfrentar certos caminhos da vida na sociedade, o importante é nunca deixar de aprender, nesta vida estamos em constante aprendizado.

    O que posso dizer de coração é que a mulher pode ao mesmo tempo, ter a delicadeza e a leveza de uma gueixa e ser forte e corajosa guerreira como um samurai, e os homens que me desculpem, mas não existe ser no mundo que enfrente tantas guerras e ainda sim continuar em pé e tocar sua vida com tanto vigor.

    Tags: Relatos,
    comentários   2 de 2

    Eva - Unidade BEHMe espelho muito nas sempais mulheres e estou adorando ver o aumento da força feminina nos dojôs do Niten.
    Domo Arigato Gozaimashitá, Sempai Maria Fernanda, por servir de inspiração e dedicar seu tempo relatando estas histórias/lendas para nós!
    (Continua)

    Ulisses - FrancaOhaiô Sensei!

    Recebi o sétimo kiu essa semana, e neste momento me lembrei de uma passagem do Shin Hagakure que diz que nao conseguimos nada sozinhos.
    Agradeço ao sempais, aos colegas de treino, e especialmente ao Sensei, que nos revela o caminho da es (Continua)


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