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"Sensei, neste gashuku vivi experiências que jamais esquecerei! Percebemos que quando vivemos momentos de extrema atenção e concentração, tendemos a ter "flash backs" de pontos exatos do tempo;
Desde a saída do templo, tenho convivido com estes insights:
- do treino do Jo, quando, pela primeira vez, tive a honra de fazer dois katas com o Sensei! ( um dos momentos mais marcantes de toda minha trajetória no caminho, INESQUECÍVEL)
- do tameshigiri, sensação indescritível de dividir o aparentemente indivisível, e a constatação do verdadeiro poder da shinken e também a consciência de que tenho muito ainda a aprender para compreender muitos dos maravilhosos mistérios da arte do kenjutsu e iaijutsu.
- do convívio com magníficos colegas que buscam aprimoramento pessoal, e o fazem com uma compaixão ímpar.
Enfim, como ainda me sinto maravilhado por estas experiências, o olhar do Sensei era vigoroso, como havia sido na demonstração pela manhã, um olhar de tigre! Que nos demonstra como andar, apesar de parecer levitar; que nos ensina a
avançar, apesar de parecer invencível e nos mostra pelo olhar toda sua determinação.Fiquei pensando que em uma vida passada
o Sensei foi um samurai vigoroso que devia intimidar seus adversários pelo olhar, assertivo e sereno, de quem sabe o que fazer
e buscar a invencibilidade.
Parafraseando as palavras do Senpai Sanchez: um "Gaijin" (ele fez o gesto das aspas) que encanta e intriga os mestres japoneses e parece engolir a todos com sua energia intensa e positiva.
Domo Arigato Gozaimashitá Sensei!
Ivan (unidade - Belo Horizonte/MG)
"...demonstração pela manhã"
(Clique para ampliar)
"Aqui estamos, o Sensei e eu, em um Gashuku (concentração) de três dias no Japão, um Gashuku de Iai com treinos de Jô (bastâo) inclusos.
Este Gashuku não estava nos nossos planos originais, antes da viagem. Isso importa porque no planejamento da viagem, o Sensei programou cada etapa de modo estratégico! Como? Ponderando os recursos* necessários em cada fase, os períodos de "descanso" físico, a logística, enfim, como tirar o máximo de nós em cada etapa, pensando no que já passamos e o que ainda temos para passar, para viver...
Apesar do programa diferente do esperado, quando se está em guerra (ou poderíamos dizer: na vida), os imprevistos se apresentam e temos que lidar com eles!
Pois bem, no terceiro e último dia de Gashuku, o Soke(sucessor) do nosso estilo decidiu promover um shiai entre dois times: japoneses versus gaijins(estrangeiros)! Dois times de oito samurais cada.
O Sensei e eu ficamos no time dos gaijins (o meu caso era óbvio mas, o do Sensei, quem sabe ou pode afirmar?).
De qualquer modo, o fato é que o Sensei, pelo fato de ser o capitao da equipe, tinha um oponente de muito peso (metaforicamente falando), tratava-se de também de um dos professores responsáveis no Gashuku e coordenador de um dojo importante no Estado/Província onde nos encontrávamos.
Eram duas sequencias quaisquer para cada praticante. O shiai estava sendo atentamente acompanhado por pelo menos mais 100 espectadores, todos praticantes de Iai, participantes do Gashuku que estava acontecendo num grande ginásio.
Na minha percepção, havia um toque de tensão no ar, do tipo "teriam os gaijins condições de representar perigo aos japoneses?".
Os três juízes ficavam parados, imóveis, um tempão sem piscar, com um impressionante nível de atenção, acompanhando os menores detalhes de cada dupla. Sério, era quase como se cada juiz estivesse ali executando as sequências que acompanhava.
Terminadas as duas performances do professor e do nosso Sensei, os juízes deram seu veredicto: 2 x 1 em favor do referido professor. Mas com um detalhe fundamental: o voto para o Sensei foi dado por ninguém menos que Fumitaka sensei, filho do Soke do estilo e, pela ordem natural das coisas, futuro Soke. Ou seja, tivemos um contexto que foi um tanto desconfortável para muitos dos presentes, afinal, na avaliação do futuro Soke do estilo para aquelas apresentações, um "gaijin" (aspas indispensáveis), o nosso Sensei, superou uma referência importante para o estilo no Japão!!
E agora? O que isso significa? Honestamente não me sinto em condições de avaliar os desdobramentos do fato no Japão. Do "nosso lado", o dos gaijins, arrisco dizer que a mensagem é continuarmos treinando, com firmeza, com garra, com fúria, a exemplo do Sensei, pois penso que o espírito samurai que cultivamos dentro de nós aqui no Niten independe de nacionalidade, raça, religião ou qualquer outro rótulo que possamos pensar. Aqueles, como Fumitaka sensei, que estiverem em condições de enxergar e reconhecer isso, o farão!
Omedetô ao Fumitaka sensei pela transparência, omedetô ao Sensei pelo feito e Domo Arigatô Gozaimashita por nos treinar no Espírito Guerreiro!
*entenda por recursos necessários além da bagagem, o tempo, a energia individual de cada um e a conjunta da dupla. Os recursos fazem parte da estratégia...
Extra! Últimas notícias!! Últimas notícias do shugyo no Japão: o Sensei quase arrumou confusão com outro cliente do restaurante do hotel! São por volta de 19h15min. Fomos, o Sensei e eu, ao restaurante do hotel para o jantar (aqui no Japão o pessoal costuma jantar cedo!).O fato de eu não comer carne animal causa mais trabalho ao Sensei do que um carnívoro comum daria a ele, afinal, ele está sempre se preocupando com o que eu vou pedir para comer, pois aqui, parece que existem pouquíssimos vegetarianos e praticamente todas as refeições são preparadas com algum tipo de carne.Eis que o Sensei gentilmente pergunta à atendente do restaurante, no balcão, se há alguma opção vegetariana para o gaijin que vos escreve. Antes que a mulher respondesse qualquer coisa, um dos clientes do restaurante, que já estava aparentemente meio bêbado, em uma mesa próxima, solta uma dessas exclamações bem provocativas do tipo: "iiiii gente, mas quem o cara pensa que é para ter esse tipo de frescura aqui??...".Pessoal, não sei não, mas se estivéssemos agora no século 17 aqui no Japão, acho que teriam sido suas últimas palavras!! Eu quase conseguia ver o saque mortal da katana do Sensei cortando o corpo do elemento em dois pedaços (zup!!). Pelos olhos do Sensei, na minha fantasia, teria sido um corte horizontal, separando apenas a cabeça do resto do corpo, que tombaria lentamente sobre a mesa do café da manhã... Bem cinematográfico!Mas um mestre, é um mestre! Fração de segundo depois da provocação, o Sensei se centrou de que não valia a pena ir tirar satisafação e arrumar confusão alí. Gentilmente pediu à atendente que fizesse um omelete para mim e voltou para a mesa, sereno, elaborando o ocorrido...Para mim ficou muito forte a reflexão de que quase todos os dias nos deparamos com decisões difícieis. Graças ao nosso treinamento no Niten, acredito que temos melhores condições que a média das pessoas para escolher entre o certo e o fácil.Sensei, shitsurei shimashita pelas preocupações com a minha alimentação e domo arigatou gozaimashita pela generosidade!
"Em Funajima, ilha onde se travou o duelo entre Miyamoto Musashi e Sasaki Kojiro"
"Hoje testemunhei mais um fato que caracteriza a perda progressiva do código samurai no Japão.
Código este que curiosamente (e felizmente para nós!!) vem sendo resgatado pelo Niten do Brasil, provavelmente um dos pouquíssimos lugares no mundo onde esse resgate está ocorrendo! Chegados à cidade de Saga almoçamos rapidamente. O Sensei pediu um táxi para irmos ao local onde Tsunetomo Yamamoto e Tashiro Tsuramoto, autor do Hagakure, se encontraram durante anos para o primeiro contar ao segundo as histórias que falavam dos katas do bushido durante uma parte do período feudal do Japão.
O táxi chega rapidamente ao hotel e seguimos. O impressionante foi que o taxista, um jovem senhor da própria região, simplesmente não conhecia o local, nem ouvira falar do Hagakure! Foi o Sensei quem mais ajudou o taxista a encontrar o caminho. (pois é, até taxista japonês o Sensei ajuda no caminho! E no Japão!!).
Chegamos a uma estradinha estreita, mal dava para o carro passar. Chovia um pouco, foi difícil encontrar o lugar, mas chegamos! O taxista ficou aguardando no carro para não perdermos tempo chamando outro no momento da volta.Trata-se de um bosque de vegetação bem verde, pelo menos nesta época do ano, composta de árvores, arbustos e farta em musgos pelo chão, principalmente sobre as pedras, inclusive nos degraus da trilha em aclive que nos levou ao monumento de homenagem ao Hagakure. O cheiro de mata verde e úmida era bem presente, aquele local me transmitiu muito bem-estar e tranquilidade. Quero crer que as conversas entre Yamamoto e Tsuramoto fluiram ajudadas pelo ambiente favorável do lugar...
O Sensei, lépido como de costume, já me indicou o local para a foto, posicionou-se um pouco à frente do monumento e aguardava que eu concluísse o posicionamento da câmera sobre uma das pedras e sob um dos nossos guarda-chuvas (dica de viagem com o Sensei: zele sempre muito bem pelo equipamento que ele te confiar!). Circulamos pelo local enquanto o Sensei me contava que os manuscritos do ex-samurai (aliás ambos Yamamoto e Tsuramoto foram samurais que tornaram-se monges) foram encontrados somente após a sua morte e felizmente hoje estão disponíveis a nós!
O acesso que temos aqui no Niten ao aprendizado dos katas do bushido é raro! Acho razoável inferirmos que, se nem o taxista local conhecia a existência do Hagakure, provavelmente poucos hoje no mundo estão resgatando esse código de conduta tão importante! Domo Arigato Gozaimashita Sensei por mais essa contribuição para os nossos caminhos!"