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Lealdade é uma das virtudes raras hoje em dia.
Tanto aqui quanto no Japão. Denominada de ¨guiri¨ (mas escrita ¨giri¨)
Hoje, as pessoas não mais agradecem ou sequer lembram da mão que lhes foi estendida quando precisavam. Estamos no mundo dos ingratos.
Apenas entre parenteses, tenho notado que, na maior parte das vezes, a ingratidão e lealdade vem acompanhada de falta de educação, possivelmente por não ter havido um pai ou uma mãe de princípios para ensinar lhes o que tem que ser feito.
O que nos interessa é nos espelharmos em exemplos, que apesar de raros, existem.
É o caso deste aluno, cuja carta me foi enviada junto com o seu Primitivo di Manduria, no inicio deste ano.
Apesar de não vir treinar há quase 4 anos, devido a motivos profissionais, vem religiosamente e a cada ano, me desejar um Feliz Ano Novo. Uma raridade digna de nota certamente teria sido anotada por Yamamoto Tsunetomo (1659 - 1719) no seu Hagakure, quando os samurais, tal como no mundo em que vivemos haviam perdido os seus valores.
Reiniciou os seus treinamentos e ontem, após a aula, viemos, aqui na nossa administração tomar um vinho e jantar. Vinho: Luca Malbec. Jantar: pizza.
Os assuntos foram dos mais diversos, desde uma boa carne até chegar ao que importa: Bushido. Virtudes.
E foi quando me revelou o quanto os valores como a Lealdade, fizeram dele um ¨samurai¨ requisitado por todos os que o conheciam, desde convites do próprio grupo para ir a Nova York ou Dubai até de grupos concorrentes.
Este aluno, de poucas palavras e discreto, é uma prova que vale a pena você se esforçar em não querer aparecer, e o principal: ter Lealdade do que manchar a sua imagem por alguns trocados ou benefício próprio.
Diante deste fato, posso dizer que tenho sorte de ter alguns bons alunos.
Mas, antes de encerrar, deixe eu lhe falar apenas uma observação:
-Estamos no seculo 21. É um mundo globalizado onde tudo se conecta.
Leal ou traidor, um dia a sua reputação será reconhecida. Então, vá em frente.
Transcrição da carta:
Sensei,
Shitsurei Shimassu.
Lembro-me da primeira vez que tive contato com o Instituto Niten. A convite de um amigo, fui assistir a uma aula de Kenjutsu e por acaso do destino (ou não), era treino de iaijutsu. Como estava ali, não queria perder a oportunidade de apreciar o treino. Observando atentamente os sempais puxando os katas com energia e convertendo num único e elegante movimento, senti um grande choque e nesse momento percebi que meu coração era Iai e era essa arte que queria fazer.
O Instituto Niten me proporcionou grandes momentos, graças ao companheirismo e respeito dos colegas e dos sempais; Os valores pregados e principalmente pelos Momentos de ouro com o Sensei e foi numa dessas oportunidades, quando tive a honra de conversar com o Sensei que me passou uma grande lição (#). Confesso que, por mais que tenha digerido sobre o assunto, não tive maturidade para entender o real significado.
O tempo passou e por motivos profissionais, fui obrigado a me afastar dos treinos, mas sempre carregava os bons momentos e os ensinamentos do Sensei. Numa certa ocasião, enfrentava uma grande batalha onde me vi cercado e quase sem alternativas para prosseguir, quando me lembrei daquele ensinamento (#) que na época não havia compreendido, veio como uma grande luz, fazendo repensar nas minhas estratégias.
Sei que o caminho é longo e tenho muito a aprender, mas seguramente sei quem sou e o que sou graças ao que aprendi (#) e por isso agradeço profundamente o Sensei pelos ensinamentos e pela oportunidade de mostrar o Iai e todo o benefício que obtive.
Domo Arigatou Gozaimashita.
Márcio Hiroshi Kikuti