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Café com o Sensei

Pensamentos e comentários do Sensei Jorge Kishikawa




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    24-abr-2012

    Dia do Samurai


    Discurso proferido pelo Sensei Jorge Kishikawa na sessão solene da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina realizada no dia 24 de abril de 2012, em comemoração à instituição da data oficial do Dia do Samurai naquele Estado:

    "Este me é um dia muito especial, porque posso comemorar dois fatos que me são muito caros. O primeiro deles todos conhecem, que é a celebração do Dia do Samurai em todo o estado de Santa Catarina. O segundo fato, é que hoje tenho também a alegria de comemorar meu aniversário.

    Todos sabemos hoje que os Samurais surgiram no Japão antigo, e que naquela sociedade segmentada em castas, ocupavam uma posição privilegiada e alta, tendo ainda o privilégio exclusivo de portarem um daitô  no lado esquerdo de suas cinturas, e este, acredito, é o traço mais marcante e comumente associado à palavra Samurai.

    Entretanto, há um outro lado da cultura dos Samurais que é pouco divulgada, pouco conhecida, e sobre a qual gostaria de falar, por breves momentos.

    Aos Samurais incumbia, nos tempos de guerra, lutar. Nos tempos de paz, cabia-lhes treinar e estarem sempre preparados para a guerra – se vis pacem, para bellum – e também lhes pertencia a Administração dos feudos. Ou seja, os Samurais não eram apenas preparados para viver e morrer na Guerra, eram preparados para viver e gerenciar uma sociedade.

    Exercendo esta última tarefa, os Samurais aplicaram, com o mesmo afinco, determinação e perfeccionismo, todos os conceitos e estratégias que caracterizavam o seu treinamento marcial. Desde a manutenção de arquivos, à confecção de documentos e a criação de políticas públicas, tudo deveria ser feito com discrição e perfeição, adequando-se sempre ao conceito budista de que a beleza e a eficiência residem na simplicidade.

    E agindo desta maneira, o Japão tornou-se uma sociedade organizada, auto-sustentável e próspera, até a abertura dos portos pelo Navio Negro do Almirante Perry, em 1868, marcando também o final do período de seu isolamento.

    Avançando alguns séculos, sabemos que a nossa atual sociedade não mais admite os duelos, e prega a resolução de conflitos de modo civilizado e pacífico, sempre dentro do conjunto de regras que conformam o Estado Democrático de Direito. Mas isso não significa que todo o conhecimento acumulado pelos Samurais, notadamente aqueles relacionados ao treinamento marcial, não podem mais existir, tampouco influenciar a nossa vida.

    Hoje, o treinamento da espada Samurai – que no Instituto Niten nós chamamos de Kenjutsu – serve para ensinar a viver melhor. Por meio do Método KIR – Recuperação intensiva por meio da espada – buscamos ensinar a todos os alunos a aplicar em seu cotidiano o jeito Samurai de ser.

    Ensino aos meus alunos a conhecerem o seu verdadeiro potencial, a explorá-lo, a terem confiança no que podem e como podem fazer. O treinamento com a espada faz isso. Usar uma espada contra um adversário inerte é fácil. Para vencer um adversário que também está revestido da vontade de lhe derrotar é preciso técnica, dedicação, e o conhecimento das suas próprias qualidades e limitações.

    Ensino-os, repetida e exaustivamente, que sua palavra e honra são seus bens mais preciosos, e que eles os representam na sociedade com muito mais força e valor do que roupas, bens materiais ou ainda maneirismos de fala. Ensino-os, e aqui parafraseio um dos mais recentes ídolos do imaginário popular, que “Missão dada é missão cumprida”, e que devem sempre ser cuidadosos ao empenhar suas palavras, pois uma vez empenhadas, estão vinculados a elas.

    Ensino-os, com profunda fé e convicção pessoal, que a nossa sociedade carece de pessoas que conseguem agir como os antigos Samurais. Pessoas que conhecem suas capacidades e não tem receio de usá-las pelo bem comum, cidadãos cujo espírito incansável – Makenki – recusa-se inexoravelmente a se curvar às dificuldades da vida e do caminho, e mais, que não descansa enquanto não atinge os mais altos objetivos a que se propôs.

    Assim agiam os Samurais de antigamente, e assim agem os Samurais modernos.

    Como sabiamente disse Bertold Brecht “há homens fracos que não lutam. Há homens mais fortes que podem lutar por um dia. Há homens ainda mais fortes que podem lutar por muitos anos. Os mais fortes entre todos lutam a vida toda. E estes, são indispensáveis.”

    A meu ver, os Samurais modernos são os homens indispensáveis a que Brecht se referia.

    Penso, para concluir, que é isso que o Estado de Santa Catarina resolveu homenagear com a instituição do Dia do Samurai. Homenageia a todos os cidadãos indispensáveis, que resolveram adotar em suas vidas a dedicação e o esmero em agir sempre de modo correto e reto, cidadãos que prezam a sua honra e moral acima das demais coisas, e que buscam o desenvolvimento sadio da sociedade em que estão inseridos.

    Muito obrigado a todos pela presença aqui, neste dia que, como visto, me é tão especial, por tantas e incontáveis razões."


     


    Sensei e Deputado Estadual Jorge Teixeira



    da esquerda para a direita: Presidente da Associação Nipo Catarinense Sr. Luis Nakayama, Sensei e Diretora do grupo NipoCultura Sra. Hisae Kaneoya






    Solenidade



    Sensei durante apresentação de Iaijutsu



    da esquerda para direita: Iochihiko Kaneoya (redator do grupo Nipocultura), Sensei e Sr. Paulo Baltazar (Secretário e representante da Associação Wakamiya Maru de Santa Catarina)



    Da esquerda para direita: Noemia Ogasawara (diretora cultural da ANC), Roxana Shinohara (diretora Social da ANC), Sensei e Sr. Luis Nakayama



    Sensei com alunos do Niten Floripa


     




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