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Enquanto tomava o café da manhã, assisti uma reportagem que mostrava a mudança dos tempos. Dizia que os adolescentes hoje em dia escrevem seus diários nos seus blogs, enquanto que antigamente escreviam em caderninhos. Que os diários hoje em dia têm fotos, vídeos e conseguem expôr tudo e da melhor forma as suas vidas e seus dia-a-dia para o mundo todo. Que, hoje, escrever ficou mais fácil.
A televisão mostrava que tudo isto era legal, moderno e da hora.
Alegrias e tristezas, sua vida pessoal, seus amigos, seus cachorros, gatos e toda a sua família expostos a céu aberto para todos.
Sim, tudo ficou mais fácil: até para os seqüestradores.
Imbecis!
Volto a Brasília depois do torneio que realizamos aqui no final de Abril, desta vez para um Evento de Kobudô*.
Na foto, o apoio do Deputado Federal William Woo que instituiu o Dia do Samurai em São Paulo.
*Kobudô= artes marciais antigas
Antes de eu ler um dos 7 Mandamentos do Instituto Niten vou te contar o que houve.
Recentemente, levei uma pancada com a espada de madeira diretamente no meu polegar.
O polegar ficou uma bola, o dobro do que é, e não é conversa de pescador, não. Quem esteve lá, viu...
E foi com força, pois foi o que eu pedi, mas houve falha por parte do aluno. Mas, tudo bem, são coisas do budô.
Possível fratura? Os exames radiográficos poderão confirmar.
Dias depois, minha aluna me enviou uma mensagem calorosa e que tem um trecho assim:
"Nosso treino terminou e ainda ficou lá treinando com a mão assim... Essa sua fortaleza chega a nos dar um "medinho" encorajador para seguir a vida adiante mesmo quando carregamos uma enorme tristeza.
Está em minhas orações e meus agradecimentos todos os dias, Sensei! "
Já retirei a prótese de imobilização e, para minha surpresa a recuperação está sendo melhor do que eu previa.
As orações foram fortes mesmo!
Aqui está o trecho do livro:
"Existirá sempre uma força maior e devemos respeitá-la" - 7° Mandamento do Instituto Cultural Niten
Shin Hagakure, pag 146 .
shitchi: sete
Acho que você até deve ter ouvido falar, mas para iniciar qualquer prática, e aqui eu não digo "Caminho", pois isto não vale só para as práticas voltadas para a formação espiritual e do caráter do indivíduo, mas todas que nos exigirão dedicação e investimento de tempo, são necessarios 3 anos para procurar o seu mestre.
Não é para ir no curso da esquina ou naquele que as aulas são mais baratas.
O meu conselho para início de conversa, é sabermos o que vamos aprender, o que vamos fazer, no que vamos nos tornar hábeis. De acordo com o que vamos querer, escolhemos então o professor para o nosso objetivo.
Depois da escolha, o resto é acreditar.
Ter FÉ ( 7 de agosto - Lealdade ).
Estava falando em um dos treinamentos de nossos katas de Kobudô*, que os mestres ficam preocupados com a transmissão de técnicas de Kobudô feitas por professores de outras modalidades. Uma delas, o aikido.
O aikido, modalidade que também tive oportunidade de praticar, enfatiza a suavidade, movimentos circulares, não gritar durante a execução dos golpes e etc.
Muito bom ver o interesse por parte de praticantes de outras modalidades em aprender as técnicas antigas do Kobudô, sejam elas kenjutsu, iaijutsu ou jojutsu. Certamente lhes será benéfico, pois ao utilizar a espada melhorará as percepções quanto ao tempo, distância e muitos outros, além de descobrir as origens das técnicas que originaram os seus golpes.
No entanto, ao executarem as técnicas com espada, percebemos que determinados padrões começam a aparecer, de acordo com a modalidade praticada pelo aluno. Vou te dar um exemplo: praticantes de karatê shotokan quando vêm aprender, tendem a dobrar os joelhos em demasia, mas aprendem e assimilam bem os katas e o combate de kenjutsu. Os de aikido tendem a deixar a base triangular (pés não paralelos), mas por outro lado não têm o problema da maioria dos iniciantes que é o de golpear com excesso de força. E por aí vai.
O que preocupa os mestres no Japão não é o fato de verem alguns praticantes de outras modalidades aprendendo, mas o fato de ver estes praticantes, na qualidade de "professores", transmitindo de forma alterada e deturpada as técnicas e os katas dos estilos de Kobudô.
No meu entender, vejo duas causas para este fato estar acontecendo. E acredito que não seja por maldade, não.
A primeira, pela inexperiência destes professores em combate com espadas, sem o qual fica difícil entender a adrenalina, o ki, a energia que está na espada e por conseguinte nos katas de Kobudô.
A segunda, por carregarem já há muito tempo a forma adquirida, "vícios", como exemplifiquei anteriormente. Infelizmente isto não muda de um dia para outro. Para eliminar um (e apenas 01!) vício são necessários 10 anos, pelo menos.
Quer aprender e conhecer para ampliar o conhecimento? Que bom. Vamos lá.
Mas, quer "ensinar"??? Por quê? Para angariar alunos?
Aí já é maldade.
É preocupante...
Hoje aproveito para esclarecer uma dúvida que pode ser a de muitos, através deste email:
Kaio Corsato wrote:
Kombawa, Sensei
Aqui é seu aluno Corsato Kaio o qual lhe perguntou hoje sobre a origem do Kenjutsu, o senhor havia me mandado enviar um e-mail perguntando sobre o Kenjutsu:
Sensei Onegai-Ishimasu, Qual a origem/hisória do Kenjutsu? ^^
Domo Arigatou Gozaimasu.(desde já pela atenção)
Corsato,
A origem do kenjutsu vem de tempos remotos em que a espada no Japão ainda era reta. Denominava-se tsurugui.
Por volta de 1280, principalmente com a invasão dos mongóis, liderados pelo neto do grande Khan, Kublai Khan, os samurais se viram obrigados a aprimorar as suas técnicas no manuseio com a espada. É nesta época que começa a aparecer a palavra "kenjutsu", propriamente dita, e também as técnicas mais complexas e refinadas. Muitos estilos se perderam com o tempo, mas o termo Ken Jutsu ao lado de não muitos praticantes, continua vivo até os dias de hoje, no Japão.
Um dos estilos mais antigos é o Tenshin Shoden Katori Shinto ryu, o qual também estudo ao lado de outros que você bem conhece.
Podemos então dizer que estudar o Kenjutsu é: entrar no tunel do tempo.
Simplesmente, emocionante.
Nestes dias de descanso, pude tirar algumas conclusões e uma delas é sobre a Lealdade.
Todos os mestres, independente do caminho, da modalidade e até da técnica adquirida, quando têm décadas de ensino passam ensinando vários alunos.
Anos e décadas ensinando, forjando e orientando, alunos que não raro, de um dia para o outro, vão-se embora de maneira, digamos não digna, assim penso eu.
Independente dos motivos, quando a situação não os interessa ou não se apresenta favorável a eles, estes alunos viram as costas e somem. Mesmo assim, estes mestres vão tocando o barco. E por isto mesmo os respeito muito. Seja ele de karatê, do ikebana* ou de koto*.
Pouco a pouco vou entendendo que a Lealdade, bela palavra, independente de qualquer época ou civilização, tem a ver com a FÉ, e não com a virtude ( 07 de abril - Procura-se Lealdade ).
A Lealdade não se adquire com o treinamento. A Lealdade existe dentro do indivíduo.
Ou ele acredita, ou não acredita.
Ou ele tem fé no mestre, ou não tem.
Fazer o quê...
*ikebana= ornamento floral
*koto= harpa japones
Após o treinamento intensivo do Niten Ichi Ryu, um aluno me enviou este email:
"Ohayou gozaimasu* Sensei!
Shitsurei shimasu
Novamente quero agradecer pelo treino de ontem!
O treino do makimono*... Sensei, espero que entenda essas palavras, pois são de coração: aos 10 anos, comprei aquela velha edição traduzida do inglês do Livro dos 5 Anéis. Era uma criança que não sabia nada de cultura japonesa e kenjutsu*, mas o livro chamou minha atenção, comprei e tentei estudá-lo. Tentava fazer os movimentos de pé, a postura do corpo, pegava umas ripas de madeira e pensava duas espadas. A vida seguiu seus rumos, o rio fez suas curvas, o livro me acompanhou nas mudanças e, hoje, quase 25 anos depois, tenho a oportunidade de começar a aprender de verdade. Tem uma criança que está radiante!
Não tenho como agradecer o Sensei: Isto vale ouro.
Domo-arigatou-gozaimashita Sensei!
sayounara"
25 anos depois esta criança está agora numa das empresas mais cobiçadas do país.
E 500 anos depois os ensinamentos de Musashi Sensei estão sendo lidos e relidos, treinados e aplicados em todos os países.