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Chegando na capital, senti as mudanças.
Por estar numa cidade onde o número de descendentes era proporcionalmente grande em relação a população total (Suzano), não sentia que estava isolado como aqui na capital.
Fui morar na zona Norte, lá no Tremembé, depois de concluir o primário. Na época, tinham muitos imigrantes alemães e italianos. O resto, brasileiros. Brancos, mulatos, negros. Nada de japonês.
Continuavam as brincadeiras, mas nem por issso deixei de ter amigos que nunca fizeram este tipo de brincadeira.
É....
Enquanto eu tomo esta xícara de cafe, acho que descobri a resposta para o Café do dia 21 Pois é...a diferença é a EDUCAÇÃO. Educação que se recebe em casa. Obviamente que, pais devidamente educados terão bagagem suficiente para passar a seus descendentes as diferenças raciais, sociais e culturais de cada povo e o comportamento adequado para com eles. Isto, de forma verdadeira. Sem preconceitos.
Infelizmente, naquela época, poucos foram os que receberam uma boa educação.
Não é de hoje que falo que não se deve brincar com fogos de artifício.
Na época em que dava plantões no Natal e Ano Novo era só dar meia noite que depois de 2 minutos já chegavam os pacientes com as mãos e braços todos arrebentados com os fogos de artifício.
Não menos perigosa é a prática do tameshigiri*, quando feita por elementos que mal conseguem entender a importância da katana como objeto de combate e muito menos o significado de seu espírito.
Há também pseudo professores que incentivam esta prática a fim de angariar alunos, por não possuírem outros conhecimentos. Ao contrário do Niten, no qual somente os mais graduados podem experimentar, estes pseudo professores, irresponsáveis por sinal, indicam aos seus alunos, lâminas baratas (e perigosas pela má fabricação) já nos primeiros dias, quando estes mal conseguem desembainhar a espada.
Impressionam os espectadores só por estarem cortando algo com uma espada. E, é claro, existem tolos para este tipo de atividade.
Não. Não se deixe enganar.
Tameshigiri é coisa séria.
Não é fogos de artificio.
Você já pode ir embora,
ou
Amanhã não haverá treino (quando na verdade haverá),
ou de forma mais direta:
Este treino não é para você
são frases que podem ser ouvidas nos dojos* tradicionais de kobudô* no Japão.
Se você não for convidado para participar, não entra.
São treinos onde somente os mais veteranos têm acesso a katas, armas e detalhes diferentes.
Acho que isto responde o comentário feito por um visitante que, ao assistir um dos treinamentos no Niten observou que os exercícios eram praticamente idênticos aos de kendo.
Recomendo um pouco de shinbo* nesta viagem, meu caro...
Neste final de semana quebrei algumas regras:
Estive em Ribeirão Preto, berço da comunidade japonesa no Brasil, onde foram os nosso primeiros imigrantes. Até então, sempre havia ido de avião, num pulo.
Desta vez fui de carro. Estrada. Era chão que não acaba mais. Reta. Foi bom porque percebi o quanto devem ter sofrido os primeiros japoneses, pegando a ferrovia que os levaria às terras do café. Sem conseguir falar uma palavra, em terras totalmente desconhecidas, num futuro incerto, num trabalho incerto. Foi o começo de toda a imigração.
Ribeirão Preto é também conhecida por ser a terra do café. E não é só no nome, não.
Tive a oportunidade de tomar um cafezinho, que você nem imagina ...
Só que desta vez, foi com açúcar.
Do contrário, teria sido um sacrilégio...
Imagine-se empunhando uma espada e executando um movimento.
Pode ser de bambu, a shinai, e acertando o men, a proteção da cabeça do oponente.
Qual é a primeira imagem que lhe vem a cabeça?
Segurando com as duas mãos, não é isso?
Pois saiba que, nos combates de kenjutsu, tal como acontecia antigamente, existem maneiras de se segurar na lâmina e a partir daí realizar os golpes.
- Espere aí, mas se eu segurar a lâmina eu não vou cortar a minha mão? - seria a sua dúvida.
- Certamente, se você não segurá-la adequadamente - eu diria .
Colar as mãos na espada e não soltá-la é um grande erro estratégico, bem como disparar flechas quando o inimigo já invadiu o castelo...
Seria de se supor que o mais óbvio ao tomar uma espada na mão, levantamos os braços ao alto e descemos até atingir o alvo. Ou seja, ou Kirisage*.
Ao adotarmos uma postura com a lâmina abaixo da horizontal ou mesmo na altura da garganta do oponente, o óbvio se torna o oposto. Ou seja. cortar de baixo para cima. Kiriage*.
Os alvos pretendidos costumam ser os bracos e os flancos do oponente, acarretando no que chamamos de utigote*. Golpes no utigote, mesmo que superficias, eram fatais, pois é onde percorrem as principais artérias como a radial e a ulnar. Estas se localizam em uma posição relativamente superficial nos antebraços.
Em combate de kenjutsu, amplia-se assim a possibilidade de desestruturar o oponente.
O oponente fica em dúvida, se o ataque será pela Montanha ou pelo Mar.
Aumenta-se assim a percepção em relação à origem dos ataques.
E é claro, o conhecimento na estratégia.
Incrível.
Uma amiga me dizia que não era para falar nem imaginar coisas negativas que se não atrai este tipo de energia e daí acontece o que você falou ou imaginou.
Ontem, estava eu num parque de diversões, quando fui abordado por uma menina de 8 anos. Loirinha, bem vestida, bem articulada e ao que tudo parece, de boa família.
- Você é da turma do Chingling*??? - perguntou-me ela enquanto puxou os olhos para as laterais fazendo a expressão que me fizeram há mais de 30 anos: aquela do olho puxado, do olho rasgado.
Sorri e disse que não, para ela. Minutos depois, para minha surpresa, fez a mesma pergunta ao meu filho, o que, pelo que percebi, deixou-o meio magoado.
Preconceito? Inocência? Falta de educação dos pais? Não sei.
Estamos comemorando o Centenário e ainda brincadeiras de mal gosto perduram após gerações.
Deixemos para lá. De qualquer maneira, o que a minha amiga me disse parece ser verdade..
Falamos já sobre os golpes curtos.
Para explicar melhor, dividimos as técnicas de corte no kenjutsu (com bogu*) em oshigiri* e hikigiri*.
Quando se levanta os braços (golpes amplos) para depois golpear, os cortes representam a forma hikigiri de corte. Já os golpes curtos, representam a forma oshigiri de corte.
Isto pode ser bem evidenciado se usarmos a naginata de combate*, pois a curvatura na lâmina faz com que posssamos aplicar tanto o oshigiri como o hikigiri.
Se um dia as espadas de bambu tiverem curvatura (pois atualmente são retas), este conceito será bem compreendido.
De qualquer maneira, entenda que em tudo existe os opostos: o Sol e a Lua, o Yin e o Yang, o grande e o pequeno.
n. e.: o Sensei acrescentou ilustrações aos Cafés dos dias 17 e 16, dê uma olhada.
Falo mais uma sobre a história da imigração japonesa no Brasil.
Lembro-me que até mesmo na minha adolescência (estou falando do início dos anos 80), aqui na capital, descendentes de japoneses da minha geração repudiavam o que eu fazia. Vestiam jeans e camiseta, cabelos compridos, adoravam motos e brilhantina à la John Travolta. Queriam era ter uma menina na garupa e estar longe de aprender o japonês. Tinham vergonha de serem descendentes de japoneses, cujas causas, não me seria possível de colocar num espaço curto do Café, mas deixemos para outro dia qualquer para falar deste assunto ( # - Kuden )
Cochichavam entre eles algo do tipo:
- Olha aí estes irmãos bregas fazendo estas coisas dos velhos.
Lembro-me que enquanto a maior parte dos jovens kendocas se concentrava no interior e nas colônias, aqui na capital eu era um dos poucos jovens, pertencente aos 5% do total. O resto, era, de fato, o pessoal mais velho, cuja idade superava a dos meus pais.
Quer queira, quer não, jovens da minha geração, que cresceram na capital, deixaram de seguir a sua cultura, sua língua e suas origens, criando-se assim um grande vácuo na história da imigração japonesa do Brasil.
Sei que não adianta lamentar o passado, mas, pelo que tenho ouvido, hoje estão arrependidos...