Neste sábado passado, foi realizado o Torneio Regional de Guarulhos no Ceu Pimentas. Pelo que ouvi, foi um grande dia. Muitas boas disputas e alegria geral. Não justamente, fui homenageado pelo Exmo. Secretário de Cultura de Guarulhos, dr. Edmilson Souza, e que, de fundo do coração agradeço pela consideração. Mas o mérito é de todos vocês. Coordenadores e alunos de Guarulhos que propiciaram-me receber esta grande homenagem. Arigato.
Recebi o email de um aluno que retrata um pouco os acontecimentos da semana que se passou.
"Sensei, shitsurrei shimassu.
Li o café dessa semana Gokuro samá pelo treino e pelas palavras. Ter o Sensei perto de nós, discípulos, é de um valor que não podemos estimar, agora, o que vai significar para nossas vidas. Arigatô gozaimashitá Foi triste não ter o Sensei no Céu Pimentas esse sábado, espero que esteja tudo bem com o Sensei e sua família.
shitsurrei shmassu," Meloni(unidade Sumaré)
Ao qual respondi: "Arigato pela preocupação. Está tudo bem, apenas corrido, pois estive no japão. Poucos são os que enxergam o que irá acontecer lá na frente, mas de nada adianta falar, pois só vão acordar quando a tempestade os pegar. Aí, o cabelo branco e o cansaço serão testemunhas que o tempo passou, nada aprenderam e será tarde demais. Gokurosama pelo dia no Ceu Pimentas. "
"Durante o treino com o Sensei, gostaria de ressaltar alguns momentos que foram especiais. Mas antes, gostaria de dizer o que mais me impressionou no treino daquele dia.
O salão do Hokaido estava ocupado para os preparativos de um evento e nós tivemos que treinar no andar superior. Lá, o pé direito é baixo e há no teto o suporte para correr portas, sendo que em alguns lugares o vão chega a apenas 2m e alguns centímetros. Nesse ambiente é mais difícil lutar com a espada longa, já que os movimentos acima da cabeça são reduzidos.
Quando estava colocando bogu, o Sensei me ordenou que eu utilizasse apenas a Kodachi (adaga).
Começamos a lutar, eu de Kodachi utilizando o kamae Chudan (com a ponta voltada para o oponente)e o Sensei de Nitô (duas espadas) utilizando Gedan (com a ponta voltada ao chão). Lembro de o Sensei aplicando muitos Tsukis (estocadas) e Mens (golpe sobre crânio). Tentei me defender, mas a versatilidade das duas espadas se mostrou extremamente eficiente – quando eu defendia o Men ou o Tsuki meu antebraço ficava exposto e então o Sensei o cortava com a espada menor. Foram inúmeros Kotes (antebraço) que eu recebi do Sensei e eu buscava alguma forma de romper ou quebrar essa sequência de dois golpes com as duas espadas. Devia haver um jeito de defender com a Kodachi sem deixar o antebraço exposto e sem ter que recuar desnecessariamente para trás.
Ás vezes, quando treino com o Sensei me vejo em um impasse, por exemplo esse em que tento várias formas diferentes de atacar ou contra-atacar e simplesmente não encontro uma ‘brecha’, uma saída, onde o Sensei com uma combinação parecida de golpes parece conseguir sempre me abater com facilidade, eu procuro aplicar golpes simples, amplos e diretos.
Eu sei que se tentar fazer alguma ‘fita’, utilizar algum artifício para conseguir chegar a algum golpe, só vai resultar em uma derrota mais rápida ou em um golpe não sincero.
Por outro lado, sei que um golpe simples vai ser facilmente aparado e cortado pelo Sensei. Mas eu acredito que nesse momento, em que tentamos aplicar um golpe com toda nossa energia, e que claramente demonstramos o golpe, é quando mais aprendemos no combate, pois posso ver como o Sensei vai aparar e cortar e posso entender melhor o tempo da luta.
E foi quando comecei a tentar aplicar golpes com toda a verdade e energia que a luta ganhou outra dimensão, uma outra sensibilidade e atmosfera. Acho que o Sensei sempre proporciona a oportunidade de lutarmos nessa intensidade e depende apenas de nós em abrir o coração e lutar com coragem e sinceridade.
Mais que nunca achei que estávamos empunhando uma espada de verdade, que vencer não era o objetivo nem meu e nem do Sensei, mas sim cortar. Encontrar uma maneira precisa e limpa de cortar o adversário. Por mais estranho que possa parecer para alguns, eu via muita felicidade no Sensei, uma energia radiante e contagiante de alegria no que estávamos fazendo e, mesmo sendo cortado de diversas maneiras e me sentindo incapaz de superar a montanha à minha frente, também sentia felicidade.
No treino de sexta eu pude entender um sentimento, que talvez apenas os Samurais sentiam, de conseguir limpar a alma de toda energia negativa, toda vontade de vencer, todo ego, toda raiva, ira, todo medo. Ter alguém à frente pronto para lhe cortar e, contudo, sentir dentro de mim mais meu coração a bater. O corpo parece que obedece rápido aos impulsos e o único fim é deixar o espírito fluir – aplicar um golpe com toda verdade.E em algum momento, encontrei uma saída. Com a ponta da minha Kodachi para baixo, desviei a espada longa para fora do centro, mantive meu antebraço baixo, longe do alcance da espada curta e em um movimento amplo e circular levei a minha espada acima da minha cabeça e depois baixei-a em direção ao Dô (flanco) esquerdo do Sensei. Foi um golpe com muita energia, verdadeiro.
Mas foi apenas esse. A luta recomeçou e o Sensei rapidamente, também em um golpe circular, cortou meu Dô do meu lado direito. Disse-me que agora estávamos empatados, eu tinha dado um Dô e o Sensei também. A luta recomeçou, algo me dizia que o Sensei ia tentar novamente um Dô. E acertou. E depois mais um. E mais um. E mais um. Foram cinco. Mesmo eu sabendo que o golpe seria um Dô eu simplesmente não consegui defender nenhum. Foram todos sinceros, limpos, perfeitos. Eu fiquei um tanto espantado e sentia minha alma trespassada.
O Sensei, com um sorriso, então me disse: “É Hidensho.” Meloni (Unidade Sumaré)
Quando o treinamento está isento de sentimentos impuros como a busca pela graduação, troféu ou reconhecimento pode-se desfrutar, na sua plenitude, a essência do Caminho. É necessário tempo e coração sincero para se ter esta experiência.
Tão sincero que nem um fio de cabelo é permitido estar na mente do aprendiz da espada.
O que vemos acima é o registro de um momento entre mestre e discípulo que, mesmo sem palavras, puderam "dialogar" sobre o Caminho.
Vivenciar esta experiência é algo raro hoje em dia: Faltam mestres competentes e discípulos sinceros...
Após os Momentos de Ouro deste sábado, recebi o email de um aluno que, tocado pelas minhas palavras, externou seu sentimento, solicitando compartilhar com todos. Ao meu ver, este sentimento nobre e raro hoje em dia deve ser seguido como exemplo por todos que buscam a paz interior. Realmente, não vale a pena perder tempo.
"SHITSUREI SHIMASSU, SENSEI, KOMBAWÁ,
Gostaria de fazer um pequeno relato do que refleti sobre o Momento de Ouro onde o SENSEI falou sobre seu próprio SENSEI, de quase noventa anos, que estava triste por não ter mais a presença dos pais. Na hora fiquei bastante emocionado e, refletindo sobre isso, lembrei-me de uma coisa que meu pai me disse em seus últimos meses de vida. Por causa de um câncer, minha mãe nos deixou assim que entrei na faculdade e pelo Alzeimer, meu pai, alguns anos depois. Atravessei o inferno com cada um deles, em toda a dificuldade que essas duas doenças trazem, cuidei deles até onde foi possível. Um dia, meu pai, em um raro momento em que lembrava quem eu era, me disse: ”Obrigado por tudo”. Alguns achavam minha paciência e compaixão como um gesto nobre. Outros, de acordo com suas religiões, achavam que eu estava garantindo meu lugar no céu. Nunca pensei assim. Nunca fiz nada disso. Na verdade acho que fui até um pouco egoísta. A verdade é que, mesmo em meio a todo o sofrimento que eles passaram, cada vez que eu podia sentir sua ternura e tê-los como exemplo, mesmo ali, era como um pedaço do paraíso pra mim e eu queria aproveitá-los até os últimos minutos.
Como poderia ele me agradecer se eu é quem estava ganhando? A verdade é que eu sempre precisei deles, doentes ou não.
Como hoje no dia das mães.
ARIGATÔ GOZAIMASHITA, SENSEI, por me lembrar sempre de todas as coisas realmente importantes na vida. SAYOUNARÁ" João Paulo - Unidade Vila Mariana
Momentos de Ouro do sábado 11 de Maio de 2013 (escrito por Mestre Risuke Otake ao Sensei)
Ao escrever este parágrafo, já me encontro aqui no Japão. Aqui há professores que se recusam a cantar o Kimigayo (Hino nacional japonês) ou hastear o Kokka (bandeira) por serem influênciados pelo Nikkyosan, corrente educacional orientada pelos comunistas antes da guerra e que incita à aversão a qualquer manifestação cultural antiga, acusando-a de conservadora e nacionalista pró imperador. Chegamos a tal ponto onde uma multa é inferida ao professor que recusar a cantá-lo. Na realidade, a coisa é mais complicada e não me cabe explicar aqui.
Bem, o que eu quero lhe dizer é que um dia este livro será traduzido para o japonês. E, quando este dia chegar, como tudo de novo que chega para mudar, haverá alguns que aplaudirão, outros que criticarão. Todos, estejam em seus equívocos e incompreensões ou não, dando as suas opiniões. Opiniões de quem nunca passou pelo treinamento austero, pela tradição ou convívio com os últimos samurais, estes já não mais vivos atualmente. Vozes. Mas tudo bem. O que mais importa é que, sem querer ser pretencioso, cedo ou tarde, eles, os japoneses, compreenderão o que estou dizendo e se orgulharão do sangue guerreiro que correm em suas veias. Havendo esta compreensão, mesmo que agora distantes, serão gratos aos seus ancestrais Samurais, fazendo valer no seu dia a dia, como na prestação de seus serviços, os seus legados. Continuarão na busca em serem os melhores. Perfeição. Respeito. Honra. E, se isto acontecer, só por isto já valeu este livro. Já valeu a minha vida. As pessoas serão mais felizes.
Sensei com a primeira bandeira do Japão no Brasil que desembarcou do navio Kasato Maru em 1908. Evento de celebração ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil no Memorial do Imigrante da Mooca, São Paulo.
Neste exato momento em que faço a revisão da 3ª edição do Shin Hagakure, estou a bordo de uma companhia aérea japonesa nos céus da Europa a caminho de mais um de meus treinamentos no Japão. Eu sinto, vejo e constato: o Japão dá de 10 a Zero no quesito de prestação de serviços em comparação a qualquer uma companhia do ocidente: além de ser bem atendido, tudo funciona, se compararmos com o nosso continente. A formalidade, o cumprimento, o respeito, a disciplina, a compaixão e tudo o que for necessário para um melhor atendimento incorporados em cada uma das atendentes. A poltrona, a refeição e até a atenção "VIP" dada pelas atendentes que se equiparam ou até superam a classe executiva de uma companhia aérea do ocidente, reforçam o que eu sempre disse: o Japão ainda é o melhor no que faz. Mas não é esse o ponto onde quero chegar... O que esta nova geração de japoneses nao sabem é que se eles são o que são, é porque existiu uma cultura e gerações de homens, seus ancestrais, que souberam como educar e treinar a fazê-los com eficácia e perfeição. Estes ancestrais estiveram no seio da sociedade durante mil anos influenciando a sua metodologia de pensar, sentir e executar: foram os Samurais. E por que os jovens de hoje não sabem de onde veio toda esta habilidade? Porque esqueceram. Deixaram esta cultura em busca das novidades do ocidente. Em troca de proteção militar, abriram mão do que há, de tão importante quanto a defesa de seu país, a própria identidade. A cultura. Não tem jeito. Não podemos culpá-los. Pois bem, imagine que na minha infância, os meus colegas descendentes se recusavam em aprender o japonês e achavam que o treinamento com espadas era assunto de "ditchan e batchan"(vovô e vovó). Ou seja, brega. Os tempos se passaram e eu continuei remando contra a maré e pasmem, em ritmo acelerado. (Continua)
"Lá estava o Sensei com Jodan nito (posição de duas espadas com a maior voltada para o céu). Quando sem que eu perceba e com a defesa nula, me chega a "chuva de mens (golpe sobre a cabeça)". Essa "chuva" não era como as garoas de São Paulo ou as tempestades torrenciais do Amazonas, assemelhavam-se mais a chuvas de meteoros. Quanto mais tempo permanece na sua área, mais rápidos e destrutíveis tornam-se. Esta noite foram incontáveis os meteoros que alcançaram seu destino com destreza e perfeição. Estes vindos de todos os lados destruindo minhas defesas e proteções. Logo, perdi meu men e fui decapitada pela "chuva".
Arigato Gozaimashita" Laura Caous (Unidade Ana Rosa)
Os astrônomos devem saber mais detalhes sobre se ficarmos na mesma área, passamos mais perigo com os meteoros. Mas, para aquele que me acompanha já deve ter lido os testemunhos de vários que "levaram 10 mesmos golpes consecutivos" ou outros semelhantes. Imagino que, tal como um deles (CS 12-abr-2013 - Jogadas Cantadas) não seja raro achar que se trate de mentira ou bajulação, pois "tomar 10 golpes um atrás do outro e "ainda" o mesmo golpe"??!! -Não. Não é possível. Não existe - eu também diria. A realidade é que estes fenômenos simplesmente aconteceram. E os testemunhos estão nos Cafés com o título de Hidensho. Cabe a cada um acreditar se os segredos do Shingi Hidensho fazem os meteoros caírem no mesmo local, ou não, mas o mais importante é conhecê-los enquanto estiver treinando o kenjutsu combate. Deixar este mundo sem conhecê-los será lamentável a quem se propôs a trilhar o Caminho da Espada. Lembre: O maior mérito está em conhecer os segredos para vencer e não apenas em ganhar medalhas ou graduações.
"Último dia de Shugyo (treinamento intensivo), como de costume treino matinal no Hokkaido.
Lá estava eu e Sensei para mais um treino, no quinto dia de treino minha ansiedade começou a diminuir um pouco, quando estamos na frente do Sensei geralmente não ficamos relaxados, estamos sempre tensos, dessa vez me senti um pouco mais confortável e como seria nosso último treino matinal teria que dar o melhor de mim.
Após Sensei utilizar diversos Kamaes (posição de combate) na luta, me apresentou outro segredo, o Kamae invertido (Gyaku) fiquei surpreso quando ele pegou a shinai (espada de bambu) com a mão invertida e apontando para baixo, pensei comigo, agora vai ficar fácil. Parti pra cima disparando golpes e Sensei como grande mestre que é, defendia e atacava rápido e eficaz, em questão de minutos havia me aplicado 10 golpes consecutivos. Vi o impossível acontecer: Sensei conseguia fazer 3 coisas ao mesmo tempo, defendia-me, imobilizava e aplicava Men (crânio), depois utilizou uma técnica mortal aplicando Tsuki (estocada na garganta). Ali, naquele momento meu lado de conforto caiu por terra, fui pego de surpresa por um Kamae inimaginável e eficiente, um Kamae que aos meus olhos parecia insuficiente contra uma Shinai.
Saio feliz pelos dias de Shugyo, pelos ensinamentos, pelos segredos do Caminho, pelas conversas e, com toda a certeza, digo a todos os alunos do Niten que estamos sendo treinados por um mito que um dia se tornará uma lenda assim como foi Miyamoto Musashi Sensei.
Terminei o Shugyo emocionado por ter treinado esses dias ao lado do que há melhor no Mundo em Kenjutsu."
Terres - Porto Alegre
Antigamente, quando eu era criança e ainda existiam as salas de cinema no bairro da Liberdade, íamos para assistir aos domingos. Cine Niterói, Nippon e Joia...
Muitos dos filmes de samurai, chamados de "jidai geki", apresentavam técnicas que hoje são executadas em danças ou teatros e que nada tem haver com a realidade dos combates de kenjutsu. Apenas "técnicas" surgidas da imaginação de seus diretores.
E uma delas era a de segurar o cabo com a mão invertida "gyakute", ou seja, com a ponta mais próxima ao dedo mínimo.
Aparecia nas telas. E muito.
Durante muito tempo isto ficou na minha mente como sendo um "chanbara", ou seja, "teatrinho".
Qual não foi a minha surpresa há alguns anos, constatar que esta técnica realmente existiu o que, como todas as outras, induziram-me a testá-la em combate. A surpresa ainda maior foi constatar que se trata de uma posição desconfortável à primeira vista, mas durante alguns anos de treinamento, torna-se eficaz e assustadora contra o oponente.
24 de Abril, Dia do Samurai na unidade Ana Rosa, São Paulo, cantando o Hino do Niten.
Ao redor do painel Dia do Samurai e Virtudes do Bushido.
Sensei Jorge Kishkawa e William Woo, que comemorou junto conosco o Dia do Samurai, instituído por ele, como vereador, em 2005 no município de São Paulo.
Brasil-Japão: Alunos do Niten e crianças do Japão que ficaram impressionadas com o painel.
Painel feito em comemoração ao Dia do Samurai em São Paulo. No painel os kanjis de Samurai 侍, Dia 日, e ideogramas das virtudes dos Samurais que celebramos neste dia.
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