"O Gashuku do Kokushikan vai ficar para sempre na minha memória, muitos marcos importantes da minha vida aconteceram
Fiquei imensamente grata e feliz em poder ter os pequenos lá, sempre tive preocupação de que eles não se adaptassem, atrapalhassem o treino dos demais participantes. O que aconteceu foi justamente o contrário, eles se entrosaram, se empolgaram com o Niten, gritaram, pularam, bateram men men men junto com o Gashuku,
foi muito emocionante para mim ver isso, em especial porque quero muito que eles cresçam dentro do Niten, com as orientações do Sensei no Caminho.
Fiquei imensamente grata a todos os irmãos de espada que tão gentilmente ajudaram a facilitar a estada de duas crianças de 3 e 5 anos, as pessoas que cuidaram deles enquanto eu e meu marido treinamos, as que cederam beliches perto da parede pra que eles não caíssem da cama, que não se abalaram quando minha filha menor chorou durante a noite ou porque tossiu bastante. Tinha receio que eles pudessem atrapalhar as pessoas, mas em momento algum qualquer um deixou de demonstrar sua gentileza e compaixão, sua presteza, todos ajudaram muito e sou imensamente grata.
Sou imensamente grata ao Sensei, que não deixou de me dizer tantas vezes pra levar as crianças, se não tivesse feito isso certamente eu teria demorado muito mais pra levar. O Sensei sempre disse: leve eles para o treino, pra ver, se acostumarem com os kiais. E como eles gostaram, foi muito tocante no final do Gashuku meu filho mais velho pedindo um kimono e um hakama, uma espada e dizendo que iria treinar conosco. Arigatou gozaimashita, Sensei!
Outra coisa que foi muito importante para mim durante esse Gashuku foi superar meus limites pessoais. No sábado acabei machucando meu pé, na hora não senti muito, estava com muita adrenalina e muita vontade de lutar, então segui com o treino dando tudo de mim, mas durante a noite o dedo machucado começou a incomodar. Houve muitos momentos na minha vida em que uma dor, por mais que suportável, serviu de muleta para que eu me escorasse e deixasse de fazer uma atividade, fosse por medo de a dor piorar, fosse por autocomiseração.
No domingo, tivemos Suyo Ryu e eu queria muito treinar mesmo com o machucado no pé (que depois descobrimos era uma pequena fratura no último osso do dedo), mas por ter conhecido o Caminho vi que a dor era suportável, e já havia sido feito uma tala. Se não fosse o Caminho, eu teria me deixado derrotar na primeira dificuldade, no primeiro percalço, mas segui treinando forte, porque a vontade de estar ali era maior. Consegui fazer o que eu acho que foi o melhor treino de Suio Ryu da minha vida, o mais focado, o que eu mais aprendi desde que comecei a treinar Iaijutsu. Depois segui no Kenjutsu, consegui fazer o treino do dia todo e só fui lembrar-me do machucado no pé quando o evento já estava acabando, quando o Sempai Wenzel puxou os pulos no final!
Eu sei que temos que ser comedidos, tomar cuidado quando nos machucamos, mas essa foi uma vitória muito importante para mim. Principalmente porque no momento que estou na minha vida, tenho altos e baixos, e nesses baixos eu costumo questionar a minha serventia, eu me critico e me considero fraca, inútil, e saí desse Gashuku me sentindo o exato oposto, me sentindo uma verdadeira guerreira, uma pessoa forte que pode superar seus limites.
Tenho um enorme sentimento de gratidão, Sensei, que não consigo colocar em palavras. Penso que há muito tempo eu não me sinto tão em paz comigo mesma como após esse Gashuku. Arigatou gozaimashita, Sensei!"
Juliana Matsuda (Un. Caxias do Sul)