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Na foto da 2a página da matéria Kendo Nippon, vemos o 12o sucessor do Niten Ichi Ryu ( Miyamoto Musashi sensei, o criador do Niten Ichi Ryu ), Yoshimoti Kiyoshi sensei e o seu parceiro e mestre Ishii Toyozumi.
Eles estão demonstrando o Nito Seiho do Niten Ichi ryu no evento mais cobiçado por todos os mestres de kendo e dos praticantes de kobudô: o Kyoto Taikai.
Ao participarem deste evento, que é dividido em categorias 6o, 7o e 8o dan de kendo, demonstram que, tal como uma agulha no palheiro, foram reconhecidos por sua habilidade técnica no Japão. Demonstrações de kobudô feitas pelos mestres de cada estilo são feitas intercaladas entres as lutas de kendo.
Este evento foi realizado em maio deste ano e só tende a confirmar o que sempre digo:
— No budô*, e acredito que em outros caminhos não é diferente, existem 2 tipos de praticantes: aqueles que buscam a Verdade e aqueles que buscam títulos. No final, o mundo reconhecerá o que for o Verdadeiro.
É com orgulho e satisfação que repasso a você a revista Kendo Nippon do mês passado.
O nosso mestre Gosho Motoharu sensei e seu filho, Yoshimoti sensei foram entrevistados em matéria especial, em razão da dedicação à arte da espada durante décadas. Bem, na verdade, isto denota o reconhecimento por parte de toda a comunidade que congrega os praticantes de espada, como sendo o 12osucessor do Niten Ichi ryu, o Sensei Yoshimoti Kiyoshi.
É a revista de maior circulação no Japão e no mundo, lida por mestres, sokes, técnicos, alunos, estrangeiros, praticantes e atletas.
Vamos falar sobre esta matéria aos poucos, enquanto tomamos o nosso cafezinho de todos os dias?
Veja :
Jisa boke. É pelo que estou passando. Jisa, ou seja, a diferença de fuso horário entre as várias regiões do mundo. Boke, siginificando levemente afetado, ligeiramente distante.
Demora alguns dias para se normalizar, no caso de uma viagem do Japão para o Brasil. É uma sensação de estar, mas não estar, ver, mas não ver, ouvir e não ouvir, sentir, e não sentir.
Mas, nem sempre é preciso estar com o jisa boke para estar distante.
O Jiga boke, palavra de minha autoria, é mais frequente.
Estão, mas não estão presentes. Vêem, mas não enxergam. Ouvem, mas não compreendem. Sentem, mas não captam.
Jiga: ego, o eu.
Jiga boke: aquele que nunca sintoniza a conversa com os outros. Você fala uma coisa, ele responde outra. E só fala nele.
Chatos para conversar.
jigaboke
Acabei de chegar das nuvens e apesar de estar em terra, a cabeça ainda não estava.
Devo confessar que tenho sempre um ritual a cumprir quando chego em Cumbica.
Pego as malas na esteira, coloco-as no carrinho e saio no saguão do aeroporto.
Desta vez, um aluno antigo veio me buscar. Assim que me viu, veio correndo e apanhou o carrinho.
- Foi tudo bem na viagem, Sensei? - a mesma pergunta.
- Foi, mas ainda estou meio zonzo - a mesma resposta.
Esfrego os olhos e tento ver o que se passa, pois ficar quase 40 horas acordado não é brincadeira. (eu não sou de dormir no avião).
- O de sempre, Sensei? - a mesma pergunta.
- É claro! - a mesma resposta.
Vamos ao balcão da lanchonete que aqueles que já estiveram em Cumbica devem conhecer.
- Dois expressos por favor! - era o aluno cumprindo o seu papel.
- Este nosso cafezinho, é... DEMAIS!!! - era eu fechando o meu ritual.
E não é que o caçula ( 28 se setembro - Quero Mais! ), que mal falava comigo, hoje já veio me procurar lá pela manhã para fazer o treinamento?
Hoje já estava falando comigo, me acompanhando até a saída, e me ajudando quando precisava.
Sempre alegre e ansioso para saber quando eu iria embora e se eu vou ensinar mais algumas técnicas enquanto estiver na pousada. Já deixou a sua shinai* bem do lado da mesa em que eu costumo tomar o meu breakfast.
Acho que terei que ensinar alguma técnica.
É prazeroso ver o kenjutsu abrir o coração do tibi*.
*tibi = forma popular de chamar meninos. Algo como "garoto", "moleque".
O filho caçula do dono da pousada em que estou também começou kendo. Tem 7 anos.
Enquanto eu tomava o meu café (que está longe de ser o nosso, pois é muito aguado), chamei-o para ver como andava o treinamento. E ele, por ser tímido e desconfiado, no início ficou receoso em aceitar. Falei para fazer alguns suburi e ok, foi aprovado.
Pedi que trouxesse então 2 shinai* do irmão mais velho. Ele não entendeu direito, mas foi lá e trouxe. O irmão mais velho também, que deve ter seus 16 anos.
Disse a eles que iria ensinar alguns golpes novos. Segurei uma em cada mão em gedan e pedi ao caçula que esboçasse um ataque frontal no men*. Na hora que ele levantou o braço já tinha percebido que fora vencido, pois minha shinai já estava no seu uchigote* ( 23 de maio - Uchigote ) e o espanto se misturou com alegria.
- Quero mais, quero mais! - gritavam.
Ensinei mais alguns golpes e eles falaram que iriam aplicar lá na escola e que agora iriam conseguir vencer o campeonato regional.
Foi dificil, mas tive de convencer em não usar as técnicas, pois se tratava de segredo do kenjutsu.
Vamos deixar assim...
Em inúmeras situações, gaijin*, por desconhecerem os katas do bushido, cometem erros gravíssimos no Japão. Interpretam de forma errônea um elogio, uma crítica, um conselho.
Um exemplo do Bushido:
"Quando um samurai se considera extraordinário por ter prestado algum tipo de serviço especial ao seu senhor, mesmo que outras pessoas pensem de igual maneira, deve ponderar que seu próprio senhor pode não pensar do mesmo modo"
Pensar que prestou um ato heróico e deslumbrante pode se tornar repugnante e decepcionante.
Hoje, numa loja de souvenirs, duas gaijin* se depararam com alguns escritos e perguntaram às atendentes o que estava escrito.
Era decalque para colar atrás do celular com dizeres filosóficos ou desenhos exóticos do Japão.
Percebi que a atendente começou dar seus tropeços, denotando que desconhecia o assunto.
Foi então que não pude me omitir, pois era uma palavra importante e que poderia fazê-las entender, e quem sabe mais tarde procurar saber mais sobre a cultura japonesa, os samurais.
Praticamente foi um Momento de Ouro. Ficaram estáticas e hipnoptizadas com a boca aberta. Maravilhadas.
Não precisei falar mais nada # ( Kuden - 13 junho ).
= | + | |||
gaijin | pessoa (hito) | fora (soto) |
O Sol e a Lua sempre exerceram uma forte influência no povo japonês. Desde os períodos mais antigos, acreditava-se que tinham poderes sobrenaturais. Estão presentes na poesia, nas palavras, nos pensamentos e também inspiram as técnicas do Kobudô.
Já é outono aqui e hoje é um dia especial. Desde que cheguei aqui, em nenhum momento o tempo esteve tão agradável. Foram dias quentes, úmidos e chuvosos. Difícil para o shugyo...
Mas hoje é Otsukimi: o dia para contemplar e oferendar à Lua. E, neste momento, ela se apresenta majestosa, como que dizendo:
- Eis-me aqui.
Flores e frutas são colocadas na varanda para oferecer a divindade Lua. Sentar na varanda e saborear as maravilhas da culinária japonesa depois do treino árduo do shugyo. Contemplando...
Como que dando trégua à Lua, o Tempo propicia um clima agradável de um dia para o outro.
A Lua tem sim poderes sobrenaturais...
Na semana passada estava um mormaço de 35 graus no Japão. Vamos ver se esfria um pouco a partir de agora. E hoje, segunda feira, dia 24, é feriado no Japão.
Na realidade trata-se de uma época importante, do Ohigan. Ocorre na passagem do inverno para a primavera e outra nesta época, na passagem do verão para o outono.
É quando vamos ao túmulo dos nossos antepassados para dar uma geral: Limpar, colocar um incenso, uma flor.
Temos de deixar tudo bem bonitinho já antes do dia 20.
Não adianta só rezar e deixar o altar empoeirado, sem cuidado.
É como o nosso dojo.