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"Em terceiro lugar, mestre Otake acha que o embate de estilo livre pode gerar maus hábitos nos alunos. Os praticantes começam a "segurar" os golpes, ou seja, a parar a espada antes que seus movimentos atinjam a plenitude da força e do poder de penetração. Além disso, no torneio, um fator de competição começa a substituir a cooperação, e a responsabilidade e o perigo de se ter nas mãos uma arma de verdade são substituidos pela atitude mental do esportista que maneja uma arma de brinquedo".
Embates sem proteção. Lembro-me da época em que treinava karatê e tinha que me "conter" para não machucar os colegas. Acabava o treinamento meio que frustrado. Neste ponto, particularmente, consigo "extravasar" toda a minha energia e força sobre os adversários nos combates de kenjutsu, utilizando-se o bogu. Sem dúvida, suando horrores!
Sobre o torneio. No Instituto Niten, procuro limitar a 01 torneio por semestre. Cooperação, responsabilidade e seriedade.
"Em segundo lugar ( 25 de junho - Diferença 3 Inspiração Divina ), a divindade e a perfeição são coisas correlatas; os movimentos dos katas abarcam quase todas as ações imagináveis que podem ser feitas com uma espada, e é quase certo que as que não constam dos katas simplesmente não teriam valor de combate"
Ao longo das décadas, tenho estudado e pesquisado dezenas e centenas de katas e o fruto desta pesquisa tenho colocado nos combates de kenjutsu, onde os katas são aplicados de forma segura, no combate com bogu*, como você poderá constatar indo a qualquer treino do Instituto Niten.
Aplicar estes katas antigos com bogu é, tomando as palavras do mestre Otake Risuke: "abarcar todas ações imagináveis com a espada".
Citei no meu livro Shin Hagakure um dos meus grandes mestres que me ajudaram a despertar ( 31 de maio - Despertei ).
Mestre Otake Risuke, Shihan* do estilo Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu.
A matéria que vou lhe mostrar a partir de hoje foi escrita em 1983 e fala do que o mestre Otake pensa sobre o treino dos katas antigos em relação ao kendo, e que vou te apresentar a cada Café.
".....É interessante notar que esses alvos estratégicos para um espadachim-guerreiro são, em sua maioria, simplesmente ignorados na forma esportiva de esgrima, o kendo. No kendo, os alvos são o topo da cabeça, a garganta, os ombros, o centro e os lados do peito e a parte de cima das mãos e dos pulsos. Um espadachim trajado com a armadura tradicional está totalmente protegido em todas essas partes do corpo. Por isso, o valor real de combate do kendo esportivo é praticamente nulo.
No kendo esportivo, o estudo dos katas tem pouco relevo........ Em diversas ocasiões, perguntamos a mestre Otake o porquê disso.
Ele nos explicou que, em primeiro lugar, existe a crença firme de que os katas são fruto de uma inspiração divina. 'O Mestre Fundador recebeu-os do céu numa visão e depois registrou-os para que fossem transmitidos perpetuamente aos seus sucessores. Para que, pois, estudar o que é terreno quando se tem nas mãos o que é celeste?' "
*shihan: mestre dos professores
Você pode baixar qualquer vídeo de kendo no You Tube e constatar que os lutadores não trocam os pés, ou melhor, não caminham. Sempre o pé direito está a frente e o esquerdo atrás.
Em kenjutsu, é diferente. A partir da faixa vermelha (4° kyu), você aprende a lutar com os pés livres. Andando.
"O treino foi de kenjutsu, sucessivas lutas. Todos lutaram com o Sensei. Por coincidência foi minha primeira luta. Não me lembro de ter acertado algum golpe. Sensei andava. Sempre que tentava avançar, levava um golpe, uchigote e vários tsuki. De alguma forma me sentia desestabilizado pelo andar. Depois, no final do treino comecei a entender por que a movimentação deve ser igual a do cotidiano...
Domo arigato gozaimashita Sensei! "
O episódio acima ocorreu no domingo, dia 03, quando fui ao Rio de Janeiro.
A frase abaixo foi escrita há 500 anos, pelo samurai mais famoso de todos os tempos:
"O movimento dos pés deve sempre seguir o ritmo do caminhar. Eles não devem ficar saltitando, flutuando, nem podem estar presos ao chão"
pag 62- Pergaminho da Água - O Livro dos Cinco Anéis, Go Rin no Sho
Miyamoto Musashi
Hoje, dia 21, começa o inverno.
Momento de vinho quente, fondue, pizzas e tudo que engorda;
de refletirmos sobre as coisas sérias da vida;
de lembrarmos que a vida é efêmera;
de acordar para o desafio do espírito e do corpo;
de tomar aquele cafezinho quentinho!
E é claro,
Momento de Kangeiko*!!!
Vamos fazer um juramento, eu e você:
-Neste inverno, vamos treinar
Neste inverno, não vamos nos espreguiçar
Neste inverno, não vamos nos engordar!!!
(N.E) Para aqueles que não conseguiram ver o vídeo ontem, segue abaixo a transcrição das palavras do Sensei Jorge Kishikawa.
Esse foi o pronunciamento do Sensei no Congresso Nacional, durante a cerimônia dos 99 anos da Imigração Japonesa no Brasil.
"Sras e Srs, com sua licença.
A apresentação que será realizada agora pela equipe do Instituto Cultural Niten mostra um pouco do trabalho que temos realizado nos últimos 15 anos para trazer aos brasileiros a cultura tradicional samurai.
Os samurais surgiram há mil anos e marcaram profundamente a sociedade japonesa com seu modo de vida. Há quase um século chegaram os primeiros imigrantes japoneses ao Brasil, plantando a semente dos valores nipônicos em nosso país. Hoje a cultura samurai está difundida em toda nossa sociedade, ultrapassando barreiras de raça e idioma.
O Brasil, formado pela união de tantas culturas, passou a ter seus samurais aliando a alegria e criatividade do nosso povo com os valores milenares do oriente.
No dia de hoje, em meio ao brilho desta comemoração, fica nossa homenagem àqueles corajosos imigrantes por sua imensa contribuição a nossa sociedade.”/p>
Sensei Jorge Kishikawa
Presidente do Instituto Niten
Disse que o kuden ( # # # # - 13 de junho ) é geralmente transmitido nos momentos mais exclusivos com o mestre.
No jogo da velha # existe um conceito que tem sua aplicação no nosso Caminho da Espada:
"Se os dois jogadores jogarem sempre da melhor forma, o jogo terminará sempre em empate. A lógica do jogo é muito simples, de modo que não é difícil deduzir ou decorar todas as possibilidades para efetuar a melhor jogada. Por esse motivo, é muito comum que o jogo empate (ou dê velha)."
"A lógica do jogo é muito simples, ..."
Se mestre transmite kuden, obviamente está dando o melhor de si. É a melhor forma.
Se discípulo não recebe de maneira sincera, não está dando o melhor de si. É a pior forma.
Haverá perda.
De confiança e de tempo.
Não haverá empate.
Alguns tem me perguntado se existem diferenças entre o iaido e iaijutsu como no caso de kendo e kenjutsu ( 11 de junho - Diferença 1, Calcanhar ).
Iaijutsu é o nome designado as técnicas que os samurais executavam e treinavam para desembainhar com rapidez, contragolpear com eficácia nas mais variadas situações. Sentado, em pé, andando, correndo, pulando ou seja como for.
Durante o período Edo (1604 a 1868), a prática de iaijutsu acaba levando também o sufixo Do*. Ou seja, as técnicas do iaijutsu continuaram a ser praticadas, como Iaido pelos samurais, mesmo em períodos de paz.
O que existem, na verdade, são as várias escolas de iai que levam o sufixo Do ou Jutsu no final. Há de notar que as que surgiram até o findar do período Edo (1868) são consideradas Kobudô*.
Há também seqüências elaboradas após a 2a Guerra (12 seqüências) denominadas Seitei iai. Digo elaboradas, pois foram simplificadas a partir de alguns estilos para que os professores de kendo, na época, pudessem ter um contato com a espada de aço, a katana, em suas apesentações, principalmente. Ocorria que os mestres e professores, por treinarem exclusivamente com a espada de bambu e protetores, ao fazerem apresentações em público de kendo kata*, fracassavam no início e no final, mostrando dificuldade em desembainhar e embainhar as katanas, motivo pelo qual foi proposto o projeto.
No entanto, não vingou. Ou seja, nem professores nem alunos foram motivados a praticar. # ( Kuden - 13 junho ). É possivel constatar isto vendo-se a proporção existente entre os praticantes de kendo e os de iaido, que é infinitamente maior. (talvez 1000 para 1)
Pratiquei durante décadas o Seitei com o grande mestre dos mestres, Haga Tadatoshi e outros . Atualmente, no Niten, dou ênfase as escolas que nasceram no período feudal, retornando às origens da espada: a guerra.
São técnicas de iai (iaijutsu) focalizados no aprimoramento espiritual (iaido).
Iaijutsu na técnica e iaido no espírito.
Ou seja, não existe diferença.
O que existe é o iai.
-#. O que é isto?- me perguntaram.
O # , que eu falei no Café de segunda ( 11 de junho - Diferença 1, Calcanhar ), conhecido por todos mais pelo símbolo do jogo da velha, indica tambem no nosso Cafe, o kuden*
Na época dos samurais e ainda hoje nos Caminhos, existe o kuden. No Caminho da Espada, do Ikebana*, do Chá, da Pintura e todos os outros.
Os ensinamentos kuden eram o resultado de décadas de pesquisa que os antecessores descobriam no decorrer da prática e passavam aos seus discípulos, muitas vezes ao redor da fogueira conversando, tomando um chá ou enquanto caminhavam por um jardim japonês para apreciar as flores das cerejeiras.
O discípulo só ouve, nada pergunta e tenta compreender. Com a prática, as palavras do mestre desabam sobre sua mente e ele, de repente, compreende o segredo.
No Caminho da Espada, o kuden era praticamente a sobrevivência do feudo. O segredo não podia ser passado para qualquer um. Pois espiões camuflados (ninja) ou não, poderiam "roubar" as técnicas e levá-las para o lado inimigo.
Ainda nos dias de hoje existem espiões. Vêm a toda hora em nosso dojo*.
É por isto que ainda hoje em dia, no Japão, existem estilos tradicionais da Espada que não permitem nem aos próprios alunos assistir aos treinos dos mais graduados.
- Bem, mas o que o kuden tem a ver o # ? - você me diria.
Quero lhe dizer que quando, nestes nossos Cafés, eu demarcar o #, falarei a você em kuden.
Quem sabe, após o treinamento, nos Momentos de Ouro ou enquanto andamos no parque com a brisa do outono...