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"Padronização do comprimento da espada para cada categoria.": Este termo se aplica ao regulamento no Kendo.
Mas, não ao Kenjutsu.
Os samurais podiam escolher o tipo, o peso e comprimento da katana que preferiam utilizar (imagine se não pudessem!)
Alguns preferiam as mais longas (como Sasaki Kojiro, um dos adversários de Miyamoto Musashi) outros as mais curtas, dependendo da escola (estilo) que pertenciam. Alem de que, padronizar o comprimento de qualquer arma , seja ela o que for, não esta dentro dos escopos do estudo da estratégia.
Por esta razão, no Kenjutsu, você poderá escolher a espada que melhor lhe cair. Alias, não só "pode", mas "deve" escolher o comprimento de acordo com a estratégia a ser adotada . Foi assim que Miyamoto Musashi derrotou Sasaki Kojiro: escolhendo uma espada mais longa que o seu oponente.
Uma diferença marcante do Kendo para o Kenjutsu está bem ilustrada nesta foto:
O praticante da direita avança por baixo da espada do oponente
O Kenjutsu utiliza amplamente os golpes de baixo para cima . O Kendo, não.
O Kenjutsu surgiu há 700 anos, após a invasão (fracassada) de Kublai Khan, neto de Gengis Khan. Até então, os combates com a espada eram definidos pelo uso da força e agilidade. Aquele que tinha a maior força muscular, ou aquele que era ágil e esperto tinha a vantagem. Com a invasão dos mongóis, os samurais viram-se obrigados a aprimorar a técnica no manuseio da espada para se fortalecer diante de um outro possível ataque, surgindo então o termo Ken (espada) e Jutsu (técnica). A partir dessa época, passa a prevalecer a técnica sobre a força. A técnica sobre a velocidade. A técnica, o Kenjutsu , passa a ser a soberana para o sucesso tanto para a conquista bem como para defender as suas terras. É nesta época que confecção de espadas ganha respeito. A confecção das katanas tem de acompanhar a evolução técnica.
Em termos práticos, a espada samurai, para ser totalmente bem aproveitada enquanto arma, deve ser golpeada de cima para baixo (como ocorre no Kenjutsu e no Kendo), bem como de baixo para cima ( Kenjutsu).
Os cortes de baixo para cima são desferidos, como nesta foto, no antebraço, nas pernas, no abdomen. Quando aplicado no abdome, pode ser aplicado com uma mão ou ambas as mãos, geralmente da posição waki (espada na cintura). É denominda de gyaku kesa.
O praticante de karate, kung fu ou qualquer outra modalidade que utiliza as pernas para o chute sabe que sem este o combate perde sentido. Combater esperando que o oponente venha só com as mãos de cima para baixo impede que a arte evolua por completo, enquanto combate. Quantas vezes já não vimos grandes "feras" indo a nocaute ao levar um chute de baixo para cima como aquele do Anderson Silva sobre o Belfort?
Bem, em termos de combate com a espada, para aplicar o utigote , é necessário , principalmente, que o seu oponente esteja com a mão esticada para a frente (como a posição tchudan, ilustrada nesta foto). Isto nos leva a concluir que, diante de um exímio praticante, especialista em utigote, adotar a posição tchudan era demasiadamente arriscado. Quando falo "exímio praticante", quero dizer aquele que vem com a espada, de baixo para cima, com a velocidade de um projetil...você quase não vê, pois a sua própria espada impede de ver o que se move abaixo dela.
Tal fato demonstra que era mais do que necessário dominar todas as outras posições do combate, o que, nos dias de hoje, vai de encontro a proposta do Instituto Niten : adotar todas as posições e técnicas com a espada samurai.
E isto tem nome: Kenjutsu.
Para concluirmos o assunto do Café anterior (Cs 26/set - O Resgate 4 - Diferenças do Kenjutsu e do Kendo) deixo a partir de hoje, algumas imagens de técnicas existentes no kenjutsu, e não existentes no kendo:
Aqui vemos um golpe com a mão esquerda apoiada sobre o dorso da espada(mune) estocando o seu oponente. É o "soete tsuki", amplamente utilizado não só em varias escolas, bem como na escola mais antiga, o Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu há 700 anos.
Este golpe, aplicado a curta distancia, como num clinche de boxe, poderia ter sido também um corte sobre os antebraços, sobre o crânio (antigamente diagonalmente sobre o pescoço) ou sobre o abdome de seu oponente.
De maneira pratica, podemos dizer que no Kenjutsu, como ocorria antigamente e ao contrario do clinche no Kendo, os combates não permitem que os dois oponentes fiquem se estudando na distancia de um clinche. Isto não só exige mais conhecimento técnico a partir da curta distancia (clinche), mas também demanda um condicionamento físico maior do praticante, despendendo uma quantidade maior de calorias, obviamente, por não se tratar de uma situação tão estática.
Não há nem um décimo de segundo para se olhar (e nem respirar), quando um dos guerreiros domina o uso da mão sobre o dorso da lâmina, o soete.
Ao utilizarmos o soete, mudamos a configuração de nossas armas. Como num passe de mágica, a espada longa se transforma em curta, o que exige uma mudança imediata nos planos de quem o enfrenta.
Aquele que "descansar" no clinche, levará, inevitavelmente, o "gancho" da derrota.
"Com a extinção da classe samurai após 1868 pelo Governo Meiji, surgiu uma espécie de divisão da prática da espada samurai, haja vista que os combates não mais existiam: os estilos tradicionais, antigos, continuaram a ser treinados por meio de katas
Um exemplo ocorreu no ano 06 do periodo Showa (1932), quando o uso de duas espadas foi abolido por ser considerada covarde em comparação aos que usavam uma espada.
Outro fato visível é que os golpes sendo transformados para movimentos descendentes e mais parecidos com uma batida em partes específicas do oponente, e não mais cortes, como no Kenjutsu; o segundo aspecto se refere aos objetivos da prática: o Kendo passou a se apresentar como um esporte, tendo como objetivo primeiro as competições desportivas. Em termos de preservação da cultura marcial tradicional, os vínculos com o passado samurai se tornaram bastante longínquos. Em termos de técnica, dificilmente o repertório reduzido do Kendo conseguiria fazer frente à versatilidade que o Kenjutsu desenvolveu ao longo dos séculos."
Showa Tenno (Imperador Hirohito)
"No final do mês de julho, fui participar dos Jogos Regionais do Estado de São Paulo, na modalidade de Karatê,
categoria absoluta, torneio este que me inscrevi em Fevereiro, sem dar muita certeza se iria ou não pariticpar devido às datas e também por não estar treinando com frequência, deixando em aberto minha participação na equipe, caso houvesse outro atleta em melhor forma, que ele representasse a Cidade de Jandira.
Tudo correu bem, pude participar e fui o campeão da categoria, mas o que ache mais interessante foi a aplicação direta dos treinos de Kenjutsu. O que pude perceber durante as lutas é que minha visão de maae (distância) é diferente de forma que conseguia lutar um pouco mais de longe, usando a distância da espada e só no momento de golpear entrava na distância dos Braços, ou seja a impressão que eu tinha era que o oponente estava sempre no meu maae. Outro fator importante é na postura: quando os oponentes estavam em uma postura um pouco mais baixa e saltitando, eu me sentia mais confortável com uma postura mais em pé semelhante a do tchudan (espada com a ponta na garganta do oponente) e fazia as movimentações e troca de pernas.
Mais um fator determinante nas vitórias é o kiai, que é muito treinado no Kenjutsu, como também o foco. Meu sentimento era de " eu vim para lutar de verdade (shinken) e não somente pontuar". Entrar com muito Kiai mesmo antes do golpe, coisa que observei não ser muito usado por outros atletas.
Percebi nos momentos antes da competição como são importantes os Momentos de Ouro do Sensei, pois com o pensamento voltado para eles consegui entrar muito centrado no que tinha de fazer, desde a noite anterior. Muitos outros atletas pensavam no que comer, suplementar ou algo do gênero... Enquanto isso lembro-me que o meu pensamento era o seguinte: " coma para não ficar satisfeito", assim como o Sensei havia orientado em um dos Momentos de Ouro cujo o tema era " Comer pouco é marca da longa vida". Engraçado pensar nisso tudo hoje por que no dia eram as orientações que me vinham na cabeça.
Com essa vitória tenho outro desafio pois me classifiquei para o Jogos Abertos do Interior, onde vou poder lutar com os campeões das outras cidades/regiões de São Paulo.
Arigato Gozaimashitá Sensei, pelas diversas orientações que nos são passadas ao longo dos treinos."-
Adeval (Unidade Guarulhos)
"Um samurai no meio de karatecas"
Adeval contou com duas armas complementares às suas técnicas do karate.
A primeira foi o treinamento do kenjutsu ao longo dos anos. Utilizar as posições antigas (kamae) de combate aumenta a liberdade de criar e ampliar a sua gama de ataque e defesa. A propriocepção é mais estimulada.
A segunda, a orientação dos pequenos detalhes que podem fazer a diferença: Momentos de Ouro. Quem está presente e souber ouvir, discernir, refletir e levar para uma outra esfera os Momentos, colherá os seus frutos, como Adeval colheu. Por isto, continuo a insistir que os alunos não percam os Momentos de Ouro. Um dia poderá ser a bússola que o salvará de um grande naufrágio. Nesses casos, vale mais que ouro.
Os katas eram simulações das posições de ataque e defesa , movimentações das técnicas envolvidas, aumento da velocidade, precisão e poder de impacto dos samurais que as treinavam. Repetição e constância melhoravam sua autoconfiança na aplicação desses katas, o que também , como é de se esperar, precisavam ser testados em combate. Seja nos campos de batalha, os senjo, ou nos duelos individuais, os hatashiai.
Katas que valem por 60 duelos
Treinamento de Katas do Suio Ryo criado por Mima Yoichizaemon Kagenobu há quase 400 anos.
O Samurai dominava
muitas armas"Os samurais defenderam o Japão por quase mil anos e, durante todo esse período, que conheceu seu fim em 1868, o treinamento marcial era intenso e diversificado. Um samurai autêntico devia conhecer o manuseio e os recursos de diversas armas, tanto para utilizá-las em combate, como para saber como lidar com elas se acaso algum oponente as usasse contra ele. Mas a diversidade não estava apenas nas armas: mesmo no uso da espada, símbolo da identidade do guerreiro samurai, existiam muitos estilos, muitas
maneiras de lutar, muitas formas de dominar e vencer o oponente, estivesse esse utilizando uma espada ou quaisquer outras das muitas armas utilizadas pelos guerreiros japoneses.
O treinamento dos estilos samurais se dava na forma de Katas, isto é, seqüências pré-determinadas de movimentos, por meio dos quais as melhores interações de golpes eram condicionadas pelos guerreiros. Cada feudo se matinha fiel a um estilo, às vezes exclusivo, e sua sobrevivência militar se baseava no domínio das técnicas e, naturalmente, o quanto possível, no desconhecimento dessas técnicas pelos feudos rivais. Kamaes (posições de luta), golpes, armas e toda sorte de detalhes de um determinado estilo eram conservados por gerações de mestres e discípulos, e sua transmissão guardada a sete chaves.
Mas, e na prática, como esses Katas eram testados?Se você pensou que os katas eram testados em duelos, em combates reais, acertou em cheio! Via de regra, não havia segunda chance para um estilo ineficiente, ou para algum samurai inábil no estilo que treinava. Você precisava confiar na eficácia dos katas que treinava, tornar-se bom neles, para que sua vida e, mais importante ainda, a vida de seu feudo prevalecesse sobre a dos seus rivais."
Para ilustrar o wakigamae (CS 13-09-11 - O Resgate 1 - Viagem ao tempo dos Samurais), coloco a imagem de um dos samurais do filme "Os Sete data-scaytid="5">Samurais", do saudoso diretor Akira Kurosawa.
A primeira vista , dá a impressão ao seu oponente que a guarda esta totalmente aberta.
E o perigo maior reside aí.
Somente aqueles que já foram golpeados com técnicas vindas de wakigamae sabem que não é tao simplório assim.
Coloque-se no lugar de um oponente e tente descobrir o que pode acontecer quando lutar contra alguém em wakigamae
A partir de hoje, colocarei um texto elucidativo sobre o Resgate das Tecnicas do Combate Samurai no Niten.
Este texto foi desenvolvido por um de nossos coordenadores ao longo de nossas várias conversas após o treino e certamente acrescentará um novo rumo a aqueles que buscam conhecer o universo do combate samurai.
"Convido você, amigo interessado em artes marciais, a fazer uma viagem no tempo, um tempo de duelos, de guerreiros intrépidos, a um país que idolatra a disciplina e a marcialidade: vamos juntos ao Japão, durante o início do Período Edo (século XVII da era cristã), e façamos uma viagem, como andarilhos, por uma estrada isolada próxima a algum Castelo feudal...
Imagine que você é um samurai, portando suas duas espadas - a longa e a curta -, quando, de repente, se vê enredado num duelo contra algum samurai desconhecido, que lhe observa com olhos vivos e emanando uma energia assustadora...
Seu adversário desembainha sua espada longa, faz um movimento rápido para trás e a acomoda com a ponta para trás, ao lado da cintura, completamente oculta a você. Observando-o de frente, é impossível medir o tamanho de sua arma, tornando muito perigoso se aproximar pois, se você chegar a uma distância muito próxima, poderá sofrer um golpe repentino e tombar sob sua lâmina sem sequer poder reagir. Eis o dilema! Ignorante sobre a arma do adversário, qual estratégia lhe levará à vitória? Como sobreviver? O que fazer?Sim, seu adversário usa uma posição de luta (kamae), conhecida como Wakigamae, treinada em muitos estilos de Kenjutsu, e uma das mais poderosas que existe. Diante de tal kamae, o perigo é sempre iminente, e uma precipitação lhe custará uma derrota fatal. Assim era o Kenjutsu antigo treinado no Japão: multifacetado, criativo, misterioso e diversificado. Cada feudo cultivava seu próprio estilo - sua sobrevivência dependia disso. No conflito real, na guerra ou nos embates individuais é que um estilo se consagrava ou era relegado ao esquecimento histórico. Todavia, o mais importante é lembrar que cada embate samurai possuía um dramático conflito de técnicas ocultas, escondidas, além de armamentos diversos, que iam da famosa Kataná, a Espada Samurai, ao leque de Guerra. Uma caminhada pelas solitárias estradas do arquipélago, sem dúvida, não era uma tarefa das mais seguras... Como você se preparia para lutar em tal contexto?"
Continua ...