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É sabido que quando falamos em espada japonesa, a katana, temos a idéia do corte.
-Ela corta? Tem fio?
Devemos nos lembrar, entretanto, que ela também perfura. Estocada ou "tsuki", como é denominado em japonês.
No combate com proteção, o alvo se concentra na garganta, principalmente.
Trata-se de um golpe potencialmente fatal, numa região potencialmente delicada, e mesmo com o uso de proteção, se feito com força, pode acarretar danos irreparáveis nos seus praticantes. Principalmente, hérnia de disco na região cervical. Lembro-me de um caso publicado há quase 30 anos na revista Kendo Jidai, no qual um dos praticantes desferiu um "tsuki" e o seu companheiro, atingido, desmaiou. Foi a óbito e foi constatado na época que havia ocasionado hemorragia interna, por lesão de artéria.
Ao longo de quase 40 anos na espada, vi muitos mestres de kendo (senão a maioria) sofrerem de hérnia cervical, com dores na nuca constantes, formigamentos nos braços e nas mãos e até paresias*. Em kendo, há necessidade de estocar o suficiente para que o oponente sinta um solavanco para trás. Se isto não ocorrer, não vira ippon*, um ponto.
Na minha opinião, estudando os vários estilos antigos* e refletindo bastante sobre o assunto, cheguei a conclusão de que não há necessidade de estocarmos a ponto de deslocar o oponente para trás nem por 1 milimetro. O simples fato de tocar a garganta já é o suficiente. Tocar...
Estamos falando de combate com espada, e não um pedaço de pau.
A katana tem o poder de perfurar pelo menos 3 cm quando executado a menor pressão. 3 cm em qualquer parte do corpo, convenhamos, acaba com qualquer um.
Por isto, em KENJUTSU, temos dois motivos para somente tocar o oponente no "tsuki' :
A primeira, a mais óbvia, que se trata de uma katana, cuja lâmina é tão afiada quanto a de um bisturi. Ela penetra por si própria.
A segunda, pela segurança . Evita-se lesões irreparáveis.
O terceiro é kuden # ( 13 de junho - Kuden )
Ganhei uma lembrança interessante nestes dias - uma xícara.
Um de meus alunos foi para Boston para aprender técnicas de comunicação de inteligência e em análise de relatórios financeiros para identificar as estratégias, forças e fraquezas dos competidores .
Boston foi o estopim da independência norte-americana, lar de líderes como John F. Kennedy e de centros de excelência na formação do "império" norte-americano: Harvard School, M.I.T. e a American Academy of Arts and Science.
A xícara, que está aqui na foto, tem em letras legíveis o nome de uma das institutições mais renomadas e respeitáveis do mundo no meio acadêmico: HARVARD.
Apreciei, olhei para ela e disse:
-Foi um bom presente, pois me lembrará de ter o cuidado de não deixar a xícara cheia...
Livros e livros e livros.
Escritos e lidos por alguém que jamais segurou uma espada.
No fim, vão todos para a gaveta.
Eis aqui na vitrine de um aeroporto, uma "shinai"*.
Não é preciso treinar para saber que tem a forma grotesca e deixa muito a desejar em comparação com uma normal.
Com quina, desbalanceada, desproporcional.
Começar errado com o material errado é querer ser um inútil.
Gosto de todos os dogmas de Miyamoto Musashi, o samurai mais famoso de todos os tempos. Mas um que eu tenho muito apreço é este:
"Yaku ni tatanu koto wo sezaru koto", ou em português:
"Não fazer nada que seja inútil"- pag 50
A partir de hoje, vou colocar algumas imagens que dirão por si sobre isto.
A de hoje mostra uma peça que não dá nem para empunhar...
Na sexta, falei de ser sério com os compromissos e com as contas.
Apenas a título de curiosidade, vou te contar um exemplo do porquê o samurai é diferente, e conseguinte, ainda hoje a maioria dos japoneses.
Quando fui no Torneio Mundial em Tokyo em 1977, um dos nossos atletas esqueceu sua bolsa no metrô com uma quantia nada menos que 5 mil dólares. Acredita que encontraram e os 5 mil estavam direitinho lá dentro da bolsa? Acredite, se quiser, mas isto ainda acontece lá.
Pois é, uma das virtudes cultivadas pelos samurais era a Honra.
E, para eles, a questão dinheiro era levada a sério, se não, evitada.
Evitavam falar em dinheiro. Evitavam tocar no que era dos outros.
Ainda hoje, os japoneses são muito responsáveis com o dinheiro alheio.
Não gostam que deixemos com eles por muito tempo.Quando têm de voltar troco, fazem o impossível para devolver um único centavo. E devolvem imediatamente! Não se sentem bem em segurar o dinheiro que não lhes peretence... E prestam contas com os mínimos detalhes, jamais visto em outros povos.
É a máxima samurai presente ainda no dia de hoje, e que manteram a Honra, com H, por séculos :
"Sujar por dinheiro, jamais!"
Falei ontem que não precisamos aparentar ser sérios, duros.
O brasileiro tem a fama de não ser sério.
Ah, mas você se acha sério. Sei...
Você paga as contas em dia? Não passa cheques sem fundo? Quando tem alguma dívida, procura por si resolvê-la?
Quando comete algum erro não culpa os outros? Assume a culpa e arca com o prejuízo?
Se tem uma ficha "suja" em um destes itens, não dá nem para a gente começar a conversar.
Pára. Não engane os outros aparentando ser sério.
E não espere também que os outros te levem a sério.
O mundo não é uma brincadeira em que cada um faz o que quer.
Tem que ser sério!
Aparentar, não.
Ser, sim!!!
A imagem de um mestre em um filme costuma ser aquele cara sério, que fala pouco e que tem uma cara de bravo. Ou então, aquele velhinho, de barba e cabelos brancos que passam a imagem de alguém que já viveu bastante para prever o futuro.
Ambos aparentam seriedade, falam pouco e, no filme, costumam ser os coadjuvantes na luta contra os bandidos.
Na realidade, também não é tão diferente.
Mestres que falam pouco, sérios e carrancudos estão em qualquer lugar.
Se não são, têm o sorriso que só aparentam humildade, mas que no interior tem o ego inflado a ponto de explodir.
Talvez tenham que ser assim para serem reconhecidos, respeitados. Fazer imagem.
Será?
É certo que no mundo tem mais gente que não enxerga um grande mestre num simples homúnculo e preferem acreditar que o grande mestre é aquele parecido com o que viu no filme.
-Ah, este não é um grande mestre. Ele sorri demais. Fala demais. Não me parece forte. Ele errou a técnica - pensam dentro de suas preconcebidas cabeças.
Não, não é por aí, meu caro.
Para que aparentar ser duro como uma pedra? Pois saiba que têm muitos "mestres" sérios e de cabelos brancos que se aproveitam das aparências para enganar você.
E mais: não falam mais porque não sabem!
Disse um grande monge budista que o maior orgulho dele era o de ser um pequeno macaco alegre capaz de ajudar os outros.
É certo que, por aparentar ser um pequeno macaco alegre, os menos avisados, ou leigos no Caminho, acabam por cometer gafes como dar uma palmadinha nas costas ou falar demais, esquecendo as normas da etiqueta ou os katas do Bushido.
Lá no Japão, já vi muito ocidental ultrapassar os limites com o mestre, por achar que ele estava mais "aberto". Um simples sorriso do mestre, e aí começam a soltar as asinhas, falando mais do que devem e ultrapassando os limites.
Preste atenção, pois o que vou lhe dizer vale para todos os mestres.
"O mestre de verdade pode ser um pequeno macaco alegre
que faz o seu treinamento na calada da noite
no inferno.
que repousa durante o dia
no coração".
Não confunda as coisas.
mestre Gosho Motoharu | Dia do Samurai - 2007 |
A matéria que li ontem me deixou indignado.
Estava escrito que, segundo estudos científicos, o homem mais feliz do mundo se chama Yongey Mingyur Rinpoche.
O método se baseia num exame que escaneia o cerébro e foi feito em seu estado de meditação, na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.
"Uma calma e alegre experiência que jorra de dentro da gente e não depende de circunstâncias exteriores" - é, segundo ele, o conceito de felicidade. Interessante ponto de vista. Mas ao meu ver, não absoluta.
E se não fosse em estado de meditação? Não sei qual teria sido o resultado.
Mas, padronizar o conceito de felicidade por mapeamento cerebral é perigoso. Para quem não sabe, em medicina há disputas de gigantes para ver quem "descobre" primeiro e "dita" as regras. Tudo por dinheiro, é claro. Os pacientes? Contenha-se com o que vai ler:
- São apenas números.
Rogo que Rinpoche tenha sabedoria suficiente para não entrar nesta jogada...
-O Sensei poderia dizer a qual graduação de kendo corresponderia um shodan de kenjutsu?- foi a dúvida de um aluno.
-Antes de responder à sua pergunta, creio que será interessante investigar os fatos históricos. No princípio, era o kenjutsu. Isto lá pelos anos de 1300, na época das Cruzadas. Quando o Japão mergulhou na época de paz, no período Edo, as artes samurais, que tinham o sufixo jutsu em suas nomina (ex. ken jutsu, kyu jutsu*, yari jutsu*, ju jutsu*, naginata jutsu*) adotaram o sufixo "do"*. Ou seja, as técnicas, que antes tinham como objetivo o puramente marcial, voltaram para o objetivo na construção de caráter dos samurais.
Em meados finais do periodo Edo, surge o bogu*e shinai*, a arte da espada, kenjutsu, continuou com o objetivo "do", kendo. Tecnicamente falando, longe de ser o kendo, que ouvimos falar hoje.
O termo kendo que se fala hoje, se refere a profunda adaptação do kenjutsu feita no pós-guerra (1950), com conotação fortemente desportiva, para que fosse autorizada a prática da espada pelo HQ americano. Ou seja, posturas que lembrassem kenjutsu, ou samurais, possivelmente teriam influência sobre o espírito nacionalista do Japão, assim pensavam os americanos.
Por esta razão, o kendo, esporte de que falamos hoje, ressurgiu nos anos 1950 sob a forma ainda mais competitiva e regrada do que tivera antes de 1945, e o mesmo ocorrendo com a naginata do, que foi desenvolvida especialmente para uma forma esportiva para mulheres.
Quando falamos em kenjutsu, caminhamos na direção oposta. Procura-se estudar as técnicas antigas e experimentá-las com o uso de bogu - expliquei ao meu aluno.
Sabia o que ele queria dizer. Fitei-o por alguns segundos e disse:
-Não há correspondência. É como comparar banana com abacaxi.